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Odete AssisMestranda em Literatura Brasileira na UFMG

segunda-feira 24 de agosto de 2015 | Edição do dia

Ano passado uma série de denúncias sobre os estupros dentro dos campi desencadeou um dos maiores escândalos da Universidade de São Paulo. Na CPI aberta para apurar as denúncias foram contabilizados 112 casos somente na Faculdade de Medicina. Mesmo assim a impunidade permanece e as vitimas, assim como a maioria das mulheres e LGBT continuam convivendo com o medo de serem violentadas no campus.

Recentemente o blog do Tio Astolfo, conhecido pelas publicações abertamente machistas e racistas que fazem um culto a cultura do estupro nas universidades, publicou o "Guia definitivo de como estuprar uma mulher na FFLCH". Com um conteúdo repugnante que além de todo o machismo empregado na apologia ao estupro, classificava as estudantes bissexuais da faculdade como "vadias imundas" que mereciam ser estupradas.

Desde o semestre passado a mídia burguesa vem mostrando uma série de reportagens sobre a insegurança dentro do campus, juntamente com a proposta da reitoria de aumentar o policiamento, como o recente projeto de policiamento japonês que querem implementar nas três estaduais paulistas. O jogo que a mídia burguesa e a reitoria fazem é de aproveitar o sentimento de indignação e revolta diante de tantos casos de estupros e violência para dessa forma fundamentar suas propostas, como o aumenta do policiamento no campus e o programa USP Mulheres, com apoio direto da ONU e de grandes empresas imperialistas.

O que eles não mostram é quais são as verdadeiras causas desse sentimento de insegurança ao andar pelo campus. Que se deve principalmente pelo fato de que a Cidade Universitária é quase que totalmente fechada para aqueles que não fazem parte da comunidade USP. Os muros que cercam a universidade mantém o campus isolado de toda a população da região, aprofundando as contradições geradas pelo elitismo e a exclusão social provocada pelo filtro social do vestibular.

Esse isolamento em relação ao resto da sociedade é a principal causa do sentimento de insegurança por parte daqueles que andam pelo campus, principalmente mulheres e LGBT. É devido ao esvaziamento do campus, a falta de iluminação, linhas de ônibus e de um maior contato e convívio da população de fora da universidade com todo o espaço do campus.

Aumentar o policiamento não responde a essas questões, muito pelo contrário, toda vez que a polícia militar entra no campus é pra reprimir aqueles que estão lutando contra precarização e o desmonte da universidade pública. A proposta de policiamento japonês vem no sentido de manter permanentemente uma tropa especial da PM dentro do campus, para que dessa forma eles possam conhecer cada passo do movimento de estudantil e de trabalhadores e reprimir mais facilmente cada mobilização que possa surgir contra os interesses da reitoria. É fundamental que em meio a esse debate sobre segurança no campus nos coloquemos abertamente contra a presença no campus dessa instituição racista e assassina que é a polícia militar.

Ao invés de buscar se integrar com a população do entorno da Cidade Universitária, proporcionando espaços de lazer e cultura para todos, transformando dessa forma o campus em um local vivo e aberto, o projeto da reitoria visa manter o elitismo e o isolamento social da USP, como um espaço cada vez mais privado e que para manutenção de seus interesses precisa de policiamento e “segurança”. É a lógica de enxergar um espaço que deveria ser público e aberto a todos como um local privado que mantém a USP como uma “bolha” exacerbando todas as contradições sociais que encontramos lá fora, como a sensação de insegurança.

No último Encontro de Mulheres Estudantes da USP, realizado ano passado, o movimento de mulheres da universidade elaborou uma carta com uma série de reivindicações, como abertura do campus, mais iluminação e linhas de ônibus, a criação de uma ouvidoria para os casos de violência contra às mulheres, fim do convênio da USP com a polícia militar, entre outras. A carta foi protocolada e entregue a reitoria, contudo nenhuma das reivindicações foi atendida e com certeza nem passa pela cabeça do reitor tomar medidas simples como aumentar a iluminação do campus e assumir a responsabilidade diante dos casos de violência que acontecem na universidade.

Nessa segunda feira, 24 de agosto está sendo chamado um ato de mulheres contra os estupros e a violência no campus. Essa é uma importante iniciativa do movimento de mulheres dentro da USP, mas deve ser encarada como um primeiro passo no sentido de escancarar que não vamos mais aceitar ser estupradas e violentadas em nosso local de estudo e trabalho. Essa luta deve ser encarada não como uma demanda apenas do movimento de mulheres, mas de todos aqueles que estudam e trabalham na USP.

Nós do grupo Pão e Rosas, chamamos todas as mulheres a estarem no ato às 16h, em frente a Reitoria, para marcharmos juntas por uma universidade aberta e viva, sem a presença da policia e contra a conivência da reitoria, basta de estupros e violência no campus.




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