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CONTAGEM/MG: Eleições no Sindicato de Metalúrgicos | Baixa representatividade e distanciamento da base

Flavia ValleProfessora, Minas Gerais

sábado 16 de maio de 2015 | 00:04

As eleições para a direção do Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem encerraram no dia 7 de maio. O resultado, ao contrário de ter sido uma “festa da democracia”, como afirmou o atual presidente do sindicato Geraldo Valgas, mostrou na realidade um sindicato muito distante de sua base operária. Segundo Valgas, “a diferença de votos foi muito expressiva e mostra a aprovação da categoria com o trabalho que vem realizando os Metalúrgicos da CUT à frente do Sindicato. Foi uma grande festa da democracia”.

Mas ao contrário do que quer fazer parecer a direção da CUT, o resultado eleitoral mostra um enorme distanciamento do sindicato com a base de trabalhadores metalúrgicos. Apenas cerca de 60% dos sindicalizados votaram. E os sindicalizados são apenas 7% do total da categoria. Portanto, votaram apenas cerca de 4% do total de metalúrgicos. Desses, a Chapa 1 ligada à CUT, teve 68,03%, somando 2.339 votos, e a Chapa 2, ligada à CSP-Conlutas, teve 31,97%, somando 1.099 votos. No total, foram 3.603 votos numa categoria com cerca de 6 mil sindicalizados entre 90 mil trabalhadores em sua base.

Esses números podem ser muito mais alarmantes se contarmos os terceirizados que não têm os mesmo direitos dos efetivos, sequer na representação sindical. Assim, mesmo que os terceirizados queiram, eles não têm o direito de se filiar ou votar no mesmo sindicato de seus colegas efetivos. Portanto, a burocracia sindical reproduz na organização dos trabalhadores a mesma divisão criada pela patronal e pelo governo: efetivos e terceiros não têm os mesmo direitos sindicais e trabalhistas.

Por tudo isso, apesar da organização sindical ser muito importante para os trabalhadores em suas lutas, o resultado da eleição mostra um abismo entre o sindicato e a base operária. A atual direção sindical segue fazendo do sindicato um meio de sobrevivência de poucos dirigentes sindicais que passam a ser privilegiados em relação ao restante da categoria, muitos deles sem trabalhar no chão de fábrica há anos e alguns inclusive sem nunca terem sido metalúrgicos.

A existência de uma casta privilegiada como essa faz com que também as eleições sindicais mantenham-se rotineiras e por fora dos anseios da realidade dos metalúrgicos, que vivem hoje uma realidade de demissões, férias coletivas, múltiplas funções e assédio moral e sexual. E o rotineirismo dessa última eleição sindical vem sendo alimentado há anos, e aprofundado com a atual direção do sindicato, ligada à CUT, que é uma apoiadora do governo Dilma, assim como foi com Lula. Ao manterem-se atrelados ao governo e à patronal, seguem existindo como uma corrente de transmissão dos planos do governo e dos patrões no chão de fábrica.

E a realidade hoje é que o governo junto com o Congresso são coniventes com as demissões. Em relação aos ataques contra os trabalhadores, parecem como o sujo falando do mal lavado. O governo que fala demagogicamente contra o PL 4330 das terceirizações, foi o mesmo governo que triplicou os terceirizados nos últimos 12 anos. E enquanto isso aplica as MPs 664 e 665, que foram votadas pelos deputados da base aliada ao governo, e que atacam direitos como a pensão por morte e o seguro desemprego. Porém, quem mais comemora essa medida de ataque do governo é a própria direita dos partidos PSDB e Solidariedade, da Força Sindical.

Na “festa da democracia” de Geraldo Valgas, seus convidados VIPs são aqueles que implementam ataques contra os trabalhadores. Enquanto isso, os trabalhadores são coadjuvantes e ficam com a sobra de uma festa que não é deles (demissões, férias coletivas, múltiplas funções, assédio moral e sexual, horas extenuantes de trabalho).

A festa comemorada pela atual direção sindical de metalúrgicos é a que se dá nos marcos permitidos pelo regime burguês, que mantêm domesticada as direções sindicais governistas que atuam nas data-base e nas pressões por PLR, enquanto direitos, salários e empregos são entregues por esses burocratas sindicais. Para além disso, aparecem apenas (e quando muito) em dias nacionais de paralisação, com um carro de som na frente de uma ou outra empresa, como se isso permitisse um trabalhador poder se organizar contra os ataques.

Ao contrário do que acontece hoje, o sindicato deve ser o mais amplo possível aos trabalhadores, principalmente aos mais precarizados como os terceirizados, assim como deve se subordinar a organismos de luta mais amplos, quando surjam, em que os trabalhadores, principalmente os mais explorados, possam ser protagonistas, como comandos de greve, comitês de fábrica, entre outros. Proporcionalidade das chapas na diretoria, rotatividade dos cargos de direção e licenciados pelo sindicato deveria ser o abc dos sindicatos se querem lutar contra a burocratização e o distanciamento com a base.

Chamo atenção para a conquista dos trabalhadores da USP, Universidade de São Paulo, que após uma vitoriosa greve de 118 dias conquistaram, além de demandas reivindicativas, passos sólidos na democracia operária. Como disseram em uma nota: “Priorizando a luta e a organização de base, depois de ter entregado a condução da greve do ano passado ao Comando de Greve eleito nos locais de trabalho, o SINTUSP reformou sua estrutura para incorporar permanentemente uma nova camada de ativistas, ampliando as vagas para o chamado Conselho diretor de Base (CDB). A subordinação da letra escrita, de seu Estatuto, à luta de classes é um exemplo claro de um sindicato combativo e classista. Foram eleitos 99 novos representantes, totalizando 174 membros no CDB, para além da direção do sindicato. Expressão da democracia operária e fruto da histórica greve de 118 dias, a incorporação desses novos militantes segue a tradição histórica deste sindicato de entregar sua condução da luta à sua base”.

Assim, a festa dos trabalhadores deve ser a festa da democracia operária, e esta festa para acontecer haverá de superar as amarras da burocracia sindical com o governo e com a patronal ou a direita, e os protagonistas serão os próprios trabalhadores, efetivos e terceirizados, e não burocratas que mal o chão de fabrica conhecem. Os sindicatos, para unir todos os trabalhadores – terceirizados e efetivos – e coordenar lutas unificadas, bem preparadas e determinadas a vencer os ataques do governo Dilma, do PT e dos patrões, precisam ser retomados para as mãos dos trabalhadores, expulsando a burocracia sindical parceira dos patrões e dos governos.

É necessária a unidade das oposições sindicais à CUT e demais centrais governistas em torno da tarefa básica de expulsar os burocratas dos sindicatos, para assim, retomá-los para a luta dos trabalhadores contra os ajustes de Dilma, dos governos estaduais e dos patrões. E esse chamado à unidade não foi feito em BH/Contagem a partir da chapa 2, da CSP-Conlutas/PSTU. Tampouco, houve a centralidade da defesa pela imediata incorporação de todos os terceirizados às empresas, sem necessidade de seleção prévia já que esses trabalhadores já exercem o trabalho e são qualificados para tal. Sem unidade da oposição sindical à serviço da unidade no chão de fábrica, entre efetivos e terceirizados, os caminhos da burocracia sindical continuarão abertos para trair os trabalhadores.




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