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Reacionarismo patriarcal | Culpando crianças e famílias, Damares relaciona gravidez na adolescência ao TikTok

"Não vem papai e mamãe jogar no colo do Ministério da Saúde depois que deixou sua filha ir pro TikTok vender seu corpo", disse Damares. É essa visão ignorante que empurra milhares de meninas gravidas à situações como abandono escolar, trabalhos precários, pobreza, além de serem forçadas a realizarem abortos clandestinos ou sofrerem violência obstétrica. Rumo ao 8 de Março, é urgente nos organizarmos para defender educação sexual nas escolas, contraceptivos para não engravidar e aborto legal, seguro e gratuito para não morrer.

quarta-feira 2 de fevereiro de 2022 | Edição do dia

Imagem: Reprodução/ Metrópoles

Durante a abertura do que deveria ser a Semana Nacional de Prevenção à Gravidez na Adolescência nesta terça-feira (01), a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, afirmou em mais um de seus posicionamentos conservadores lunáticos que a gravidez de crianças e de adolescentes “está muito atrelada” ao uso da rede social TikTok.

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Durante a cerimônia, a pasta lançou o Plano Nacional de Prevenção Primária do Risco Sexual Precoce e Gravidez de Adolescentes.

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Em sua fala, Damares disse que os pais não podem repassar a responsabilidade da gravidez não planejada ao Ministério da Saúde:

"Não vem papai e mamãe jogar no colo do Ministério da Saúde: ’Resolva, minha filha engravidou’, depois que deixou sua filha ir pro TikTok vender seu corpo. Uma coisa está muito atrelada com a outra" afirmou a ministra.

Além disso, a ministra defendeu a ilegalidade do aborto, que retira o direito ao próprio corpo e leva centenas de mulheres a situações de risco de vida todos os anos em procedimentos precários. "Se acontecer uma gravidez, vida é vida", disse Damares.

Veja o vídeo da sua fala:

Damares, Bolsonaro e toda a sua corja reacionária e machista preferem jogar a culpa em cima de crianças e adolescentes, enquanto milhares de mulheres, abandonadas pelo descaso dos governos que não veem isso como responsabilidade do Estado, perdem suas vidas todos os anos por conta de abortos clandestinos sustentados por uma proibição clericalística medieval.

A proporção mundial de gravidez na adolescência é estimada em 46 nascimentos a cada mil meninas de 15 a 19 anos. Na América Latina e Caribe essa média chega a 65,5 e no Brasil é 68,4 nascimentos. Anualmente cerca de 18% dos brasileiros são nascidos de mães adolescentes, são 400 mil casos por ano. No mundo anualmente são aproximadamente 16 milhões de adolescentes de 15 a 19 anos que são mães, além disso, contamos com o triste dado de 2 milhões de mães menores de 15 anos por ano. O risco de morte materna é muito grande para as meninas menores de 15 anos, ainda mais em países de baixa e média renda.

Obviamente que as milhares de meninas que engravidam na adolescência sofrem consequências enormes, muitas abandonam a escola e o destino que começa a ser traçado para a grande maioria dessas adolescentes é o de uma vida instável, trabalho precário e pobreza. Essas meninas também sofrem com a violência obstétrica e são diversos os relatos de tortura na hora do parto como forma de “castigo” por serem mães ainda tão meninas.

De acordo com a Anistia Internacional de 2016/17, o Brasil é um dos piores lugares da América Latina para se nascer menina, 88,5% das vítimas de estupro no Brasil são mulheres, 50,7% têm até 13 anos e, dentre essas crianças, quase um terço é violentada por membros da família, como padrastos, pais e irmãos. Em nosso país, onde 56% das gravidezes não são planejadas, é extremamente chocante que as crianças e adolescentes não tenham educação sexual nas escolas para que possam conhecer a si mesmas, entender sobre sua sexualidade, se defenderem e se prevenirem de doenças sexualmente transmissíveis e também da gravidez precoce.

É por meio meio dessa educação que começa a possibilidade de evitar as milhares de gravidezes indesejadas e as Infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) com debates francos e educativos, adequados à idade dos alunos. A escola deve cumprir seu papel educativo sem ilusão de que é em casa ou na Igreja que crianças e adolescentes poderão encontrar a orientação necessária.

A ministra, entre outros absurdos proferidos, já chegou à dizer que “meninas são abusadas porque não usam calcinha”, e é uma fervorosa defensora da ilegalidade do aborto, dizendo que essa é uma prática criminosa. É preciso dizer que nada é mais criminoso do que as posições obscurantistas defendias por ela, em sua saga para impedir a discussão sobre a sexualidade e também a negativa de que as mulheres tenham acesso debater sobre o aborto seguro.

Ao mesmo tempo, como era de se esperar, a ministra não fez nenhuma declaração sobre o recente assassinato brutal do congolês Moïse Kabamgabe. Esse silêncio não surpreende, vindo de um governo racista e xenófobo.

Rumo ao 8 de Março, é urgente nos organizarmos em cada local de trabalho e estudo para defender a separação das igrejas e do Estado, a existência de educação sexual nas escolas, contraceptivos para não engravidar, e aborto legal, seguro e gratuito para não morrer. Não aceitaremos que ditem regras sobre nossos corpos, mentes e vidas, reprimindo crianças, mulheres, LGBTs e a juventude.




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