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Eleições | Debate na Band: a unidade pelas reformas, o machismo e a demagogia liberal com a vida das mulheres

Antes de tudo, o debate de ontem foi marcado pela ausência de qualquer questionamento às reformas e ataques, com o esperado encontro frente a frente, até então inédito entre Lula e Bolsonaro, além da presença de Ciro e de candidaturas neoliberais nas figuras de Tebet, D’ávila e Soraya. A esquerda, como a candidata Vera Lúcia do PSTU, além das candidaturas do PCB e da UP, cujo "desempenho" nas pesquisas se aproxima desses três direitistas, não foram convidados pela Band, mostrando o caráter antidemocrático que sempre permeia o processo eleitoral.

Mateus CastorCientista Social (USP), professor e estudante de História

segunda-feira 29 de agosto de 2022 | Edição do dia

Foto: Bruno Santos/Folhapress

Debate dá ênfase no programa privatista e de austeridade

Lula frustrou a expectativa de alguns que esperavam que ele fosse ao embate com Bolsonaro, mas passou o tempo tratando de ganhar os votos da base eleitoral tradicionalmente tucana e lavajatista de classe média, mostrando-se moderado e evitando enfrentamentos com Bolsonaro, novamente dando destaque para Alckmin como seu vice. Bolsonaro, mais uma vez, mostrou todo o seu machismo e misoginia, adotando a estratégia ultrarreacionária de 2018 para tentar galvanizar sua base para o 7 de setembro, estando atrás em todas as pesquisas e tendo de recuperar terreno. Ciro, tentou repetir suas formulações mágicas, sem mencionar qualquer reversão dos ataques neoliberais. Tebet quis se apresentar como representante da terceira-via, enquanto os inexpressivos D’ávila e Soraya defendiam a privatização do SUS, da educação e de absolutamente tudo, junto com uma defesa apaixonada do agronegócio.

A Band escolheu os candidatos na mesma medida que o formato do debate para fortalecer as frações burguesas e seus partidos que falharam na formação de uma terceira via com competitividade. Agora, essas frações têm na grande mídia, no STF e TSE de Moraes, seus principais poderes sem voto para terem expressão e força política diante do novo pacto que se forma. O programa privatista e de austeridade, nesse sentido, teve um imenso peso, sem qualquer questionamento de Lula, que manteve sua estratégia de enfatizar seu DNA conciliador com a direita e de estadista competente.

Os reais problemas da classe trabalhadora e dos oprimidos foram os grandes ausentes do debate

Mônica Bergamo se sustentou numa pesquisa do DataFolha feita com 60 indecisos durante a campanha para sustentar que frente a esse primeiro debate, Lula não perdeu votos, mas tampouco ganhou. As análises apontam que Lula jogou para ficar parado e manteve a estratégia de buscar o "eleitor médio", enquanto Bolsonaro foi prejudicado em um dos flancos mais débeis de sua campanha eleitoral: o voto feminino. Contudo, se a relação de forças pós debate seja conservadora, alguns movimentos podem ser interessantes de se notar.

Primeiro, manteve-se a exaltação do agronegócio por todos os presentes. Dávila, que parecia um auxiliar de Paulo Guedes, foi o mais fanático defensor da política bolsonarista no campo do agronegócio, porém Lula reproduziu novamente o mito do "agronegócio sustentável", assim como fez na entrevista ao JN. O programa neoliberal e privatista dominou o debate.

Segundo, embora a orientação de Lula fosse jogar parado, seu desempenho foi inferior comparado ao do JN. Mesmo assim, conservou sua base eleitoral, avançou em acenos mais evidentes as outras candidaturas de que pretende buscá-los para garantir sua governabilidade. O embate entre Lula e Ciro indicou essa postura, da mesma forma que Lula levantou a bola de Tebet para ela reivindicar seu papel na CPI da Covid.

Terceiro, embora Lula não tenha levado votos, Tebet cumpriu um papel ao infligir danos justamente ao objetivo bolsonarista de melhorar no voto feminino. Mantendo-se a polarização, Lula não ganha nem perde, e ainda que não vá reverter o quadro eleitoral, Tebet sai fortalecida. Segundo analistas, o resultado do debate parece ter desagradado Bolsonaro. O tema das mulheres já era central em sua campanha, para tentar se recompor dentro de um setor onde tinha um percentual de votos mais baixos, e com episódios envolvendo Tebet e Vera Magalhães, acabou tendo um revés para se desvincular de uma imagem de uma figura que ataca as mulheres. Segundo alguns órgãos de imprensa, inclusive pode não participar dos próximos.

A questão da mulher nas mãos do partido de Temer

Tebet por sua vez, sustentada por uma equipe de mulheres jornalistas, em especial a lava-jatista Vera, foi quem teve o protagonismo diante do principal tema que percorreu o debate: a questão da mulher e o machismo de Bolsonaro.

Analistas políticos a colocam como vencedora do debate, ao passo que Bolsonaro, da mesma forma que ocorreu em sua entrevista à Globo, passou por um momento de disciplinamento, dessa vez não em relação a suas ameaças golpistas, mas a sua nojenta misoginia.

O centrão, que apoiou o Impeachment e a prisão de Lula, aprovou a reforma da previdência e trabalhista que prejudica as mulheres trabalhadoras, que mantém o aborto ilegal, saiu por cima desse primeiro debate, com o centro em Tebet, do MDB de Temer, e auxílio de Soraya, do União Brasil (novo partido da fusão do ex-partido de Bolsonaro PSL e do DEM).

O primeiro debate tradicionalmente impacta nas estratégias de campanha dos candidatos. O peso da questão da mulher com certeza terá seus reflexos nas eleições de modo geral. O comentário de Lula sobre sua eventual vitória ser uma reparação ao golpe sofrido por Dilma após derrapar nos "critérios técnicos" para o ministério, assim como a entrevista de Ciro ao final do debate apresentando sua vice Ana Paula Matos, após Bolsonaro trazer a tona um comentário misógino do pedetista, são exemplos desses reflexos já durante o evento.

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Um "debate histórico" morno e nas mãos do novo pacto do regime

É interessante notar o choque entre a expectativa de setores progressistas de que o primeiro embate direto entre Lula e Bolsonaro na história seria o centro do debate, não o foi, mas porque?

Após as movimentações do capital financeiro e industrial, assim como de grandes figuras da política e do Judiciário em torno da Carta "em defesa do Estado democrático de direito" e a cerimônia de posse de Moraes no TSE, o regime político busca mostrar que disciplina Bolsonaro, mas o preserva como parte do mesmo regime e incorpora a tutela militar. Uma parcela considerável da burguesia nacional e do imperialismo vê o frente-amplismo, com a cabeça sendo a chapa Lula-Alckmin, como sua escolha nas eleições. A entrevista de Bolsonaro e Lula no JN caminharam nesse sentido, o mesmo ocorreu na Band.

Contudo, o debate nos serve como um exemplo de que as frações burguesas que naufragaram eleitoralmente na terceira-via, preservam sua força política. Os atores do golpe de 2016 e defensores das reformas de Temer e Bolsonaro, disciplinam não só Bolsonaro mas a própria polarização política entre esse e Lula, em nome da manutenção de toda obra econômica do golpe institucional. A demagogia de Tebet com a luta das mulheres dependeu dessas condições.

Os verdadeiros ausentes do debate foram os reais problemas das amplas massas: fome, as filas do osso, o desemprego, a precarização do trabalho, violência policial, enfim, nada disso que realmente importa para a classe trabalhadora foi questionado no debate de ontem.

Por fim, a expectativa do protagonismo entre Bolsonaro e Lula não se cumpriu pela própria estratégia eleitoral que o petista vem seguindo à risca: junto com os "divergentes" para vencer os "antagônicos". A frase inspirada em Paulo Freire serve ao petista como justificativa para ter Alckmin em seu governo (que inclusive voltou a ter destaque na boca de Lula) justificando junto com ele a manutenção da reforma trabalhista, assim como de todas as privatizações que ocorreram, aceite o programa ultra neoliberal imposto desde 2016.

Contra essa busca do regime político a manter todos os ataques contra as condições de vida das massas trabalhadora, nós do MRT viemos batalhando para a construção de uma alternativa de independência política dos trabalhadores, para derrotar o bolsonarismo e a direita na luta de classes, que batalhe pela revogação das reformas, privatizações e ataques de Temer e Bolsonaro através da auto organização da própria base.




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