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LUTA POR EDUCAÇÃO NA ARGENTINA | Histórica #MarchaNacionalEducativa na Argentina

Nesta quinta se instalou nas ruas da cidade de Buenos Aires tudo o que se via gestando por baixo ao longo de semanas: mais de 40 mil pessoas inundaram o centro da cidade argentina em uma marcha histórica para defender a educação pública, o orçamento das universidades, o salário dos professores e exigiram passe livre.

sexta-feira 13 de maio de 2016 | Edição do dia

Robustas colunas se impuseram pela Avenida Córdoba quando caia a tarde. Os professores das distintas organizações sindicais encabeçaram a mobilização.
Foram, de inicio, a Federação Nacional dos Docentes, Investigadores e Pesquisadores Universitários (Conadu Histórica), a Federação Nacional de Docentes Universitários (Conadu), a Associação Sindical Docente da UTN (FAGDUT – sigla em espanhol), a União dos Docentes Argentinos (UDA) e a Confederação dos Trabalhadores da Educação (Ctera).

Também as organizações estudantis se incorporaram as federações: Federação Universitária de Bueno Aires (FUBA), Federação Universitária de La Plata (FULP), Federação Universitária de Rosário (FUR), entre outras.

As faculdades e institutos da UBA (Universidade de Bueno Aires) mostraram importantes blocos, destacando-se o da Filosofia e Letras, que está mobilizada desde segunda-feira, com uma bandeira de solidariedade aos trabalhadores e ao povo do Brasil e contra o golpe institucional da direita.

Além disso, se destacaram as delegações de Arquitetura (FADU) e Exatas com enormes bandeirões. Nas faculdades onde o centro acadêmico está nas mãos da Franja Morada (UCR), os estudantes se autoorganizaram e também participaram em grande número, como nas faculdades de Direito, Medicina e Economia.

As universidades do entorno de Bueno Aires também estiveram presentes desde as zonas sul, norte e oeste da Grande Buenos Aires.

A explosão de um movimento

Desde que os estudantes saíram pela primeira vez às ruas exigindo o passe livre, e os docentes começaram seu plano de luta pelo aumento salarial, a defesa da educação pública não parou de crescer se espalhou a passos largos por todo o país.
Foram centenas de aulas públicas organizadas nas faculdades e milhares de estudantes universitários, e também secundaristas, que participaram da última semana de mobilização chamada pelos sindicatos de professores. Em cada local de estudo se rompeu a normalidade. E começou a se forjar uma unidade nos atos, nas aulas e nas ruas.

Na UBA a faísca que acendeu o estopim dos ânimos do conflito foi o reconhecimento público, por parte dos docentes membros dos conselhos universitários de duas distintas unidades, de que a medida que acabaram de votar impediria continuar com as aulas nos meses seguintes a agosto.

À medida que corriam os dias, o governo de Macri não parava de lançar provocações, a tal ponto que chegou a marcar como um “setor privilegiado” para seus ataques o conjunto das comunidades universitárias. Longe de acarretar a consumação de seus ataques, o que se deu foi uma terceira mobilização massiva em resposta ao ajuste. Como não se podem justificar os cortes orçamentários das universidades, diretamente nega as palavras de Esteban Bullrich (Ministro de Desenvolvimento Social) alegando que são inverdades ditas para a grande maioria das pessoas.

É a mesma atitude tida com os demitidos: como não pode justificar que aumentam no país, tão pouco reconhece que existem e faz toda a manobra possível para evitar a sanção de uma lei que os freie. Não se pode abafar a reação dos estadistas contra os demitidos, tão pouco se pode abafar, agora, uma nova mobilização que expressa o crescente rechaço as medidas do governo nacional.

A massividade da marcha pela educação encontra sua causa em uma combinação de fatores. A inflação que aumenta diariamente. O aumento das tarifas de transportes e serviços, ao qual o movimento estudantil reagiu pondo sobre a mesa uma reivindicação inúmeras vezes postergada como é o passe livre. A tendência de demissão, especialmente de professores. O ataque contínuo aos servidores públicos. O corte orçamentário que deixa sem fundos para seguir funcionando as universidades públicas. Os problemas estruturais que se mantém nos colégios e escolas.

Por último, um clima social de mal estar, que muitos podem analisar, mas não evitar, se condensou em uma bandeira de reivindicações muito sentidas na Argentina: a educação pública.

Uma conquista que manteve pela luta dos estudantes, docentes e não docentes, apesar dos governos. Macri se pôs a enfrentar uma das comunidades mais valorizadas socialmente, a comunidade educativa, que não só expressa seus interesses senão que pode expressar demandas de setores muito mais amplos.
O ajuste se sente por todos os lados, e hoje são os estudantes, professores e não professores que saem para por um freio aos ataques. O grande embate demonstra que há forças para ganhar.

O kirchnerismo que ficou no Mistério e não quis atacar Macri

Parágrafo a parte merece a participação do bloco kirchnerista na mobilização. Horas antes da convocatória, encabeçados por um setor de funcionários e docentes universitários de alto escalão das faculdades da UBA, apresentaram no Mistério da Educação uma petição direcionada ao ministro Esteban Bullrich para solucionar o problema orçamentário e que melhore a proposta salarial docente.

Logo que a mobilização partiu da Plaza Houssay, as organizações kirchneristas decidiram finalizar o ato nas portas do Ministério e não acompanhar o conjunto da marcha em que sua imensa maioria seguiu seu rumo ao epicentro político do país, a Praça de Maio.

Atitude lamentável, que, contudo, não pôde evitar que o brado desse nascente movimento em defesa da educação ressoasse às portas da Casa Rosada.

Inexplicável seria não nos atentarmos para os planos maquinados dentro dos gabinetes dos docentes de alto escalão universitários, que planejam uma saída discreta para este conflito que permita ao bloco kirchnerista mostrar que “conseguimos algo” e dessa maneira desativar um movimento que desde seu começo ameaça derrubar todas as barreiras.

A situação do conflito após o impacto da mobilização

A reivindicação salarial dos professores terá, hoje, um novo capítulo. Daqui a algumas horas, nessa manhã, se reabre a mesa de negociação onde os sindicatos de docentes esperam uma nova proposta do Mistério da Educação, após o impacto da mobilização.

Membros do Conadu Histórica informam que, após a apresentação da nova proposta salarial, se realizará uma assembleia de delegados de onde se decidirá as ações a seguir. Os professores sabem que a proposta salarial não encerrará este conflito se o orçamento não sair da mira dos ataques, onde atualmente se encontra.

Ainda sim, o problema do orçamento segue latente, já que a concessão da soma adendada pela Nação para os hospitais sob concessão da UBA não chegaria a cobrir a totalidade do déficit.

Nem tão pouco tinge a parcela oferecida para o conjunto das universidades públicas de 500 milhões. Este anúncio simplesmente foi um gesto direcionado ao reitor Alberto Barbieri, para que a UBA acate as exigências orçamentárias propostas pelo governo e apresente o argumento de que se “ganhou algo”, junto a corrente política que pertence seu principal aliado no movimento estudantil: La Franja Moraja.
A força para conquistar todas as demandas e barrar todos os ajustes está na organização desde as bases

A jornada do dia de ontem expôs que com a participação do conjunto da comunidade da educação nas ruas pode levar a vitória a queda de braços contra os ajustes.

A força de milhares de jovens junto a seus professores se encontrou, não em um ponto culminante da luta, senão em um primeiro passo, uma via para a conquista de todas as reivindicações.

Os centros acadêmicos, grêmios estudantis e sindicatos têm que se por a frente da luta, ao mesmo tempo em que cada estudante e professor voltem a seu local de trabalho e sigam expandindo a mobilização.

Faz-se cada vez mais necessário convocar uma jornada nacional de luta pela educação, a partir da qual se abra um debate e se fortaleça a organização para romper com o teto salarial docente, conseguir passe livre e declarar a emergência da educação, na qual se dedique uma parcela orçamentária significativa tirada, principalmente, dos lucros dos empresários.

Apenas confiando nas próprias forças que a organização desde as bases, desde os cursos, debatendo e tomando as decisões em assembleia, organizando comissões e multiplicando a militância e o compromisso de cada companheiro e companheira se pode torcer o braço de Macri e dizer não aos ajustes. As forças estão e ontem inundaram as ruas.




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