×

11 de agosto | Leitura das "cartas pela democracia" marca jornada de conciliação com direita, empresários e a FIESP

Nada de progressista poderá sair dessa "unidade" com patrões, banqueiros e empresários. São nossos inimigos na luta contra Bolsonaro. É por isso que nós do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), que impulsiona a Faísca Revolucionária e o Nossa Classe, não compusemos esse dia 11, e batalhamos para que a classe trabalhadora auto-organizada, com assembleias e reuniões de base, aliada à juventude, seja a protagonista do combate ao bolsonarismo.

quinta-feira 11 de agosto de 2022 | Edição do dia

Na Faculdade de Direito da USP foi feita a leitura das "Cartas pela democracia", coordenada entre distintos setores da sociedade civil, do empresariado e do sistema político. A carta aos brasileiros em defesa da democracia foi articulada com o manifesto das entidades patronais, da FIESP e da Febraban. Ambos foram lidos e divulgados na mesma cerimônia como algo comum. Numa jornada que conta com o apoio direto, em sua própria declaração, de entidades patronais e financeiras como a FIESP e a Febraban - exímias defensoras do golpe institucional de 2016, carregando a tradição do apoio do grande capital ao golpe militar - a celebração na Faculdade de São Francisco esteve mergulhada no espírito da conciliação de classes com a direita e o capital.

Diante da nefasta série de ameaças golpistas de Bolsonaro e seus seguidores de extrema direita, o discurso fez louvor da "unidade do capital e do trabalho" para a defesa do Estado e da democracia. Não se viu qualquer conexão com as condições reais de miséria, de fome, de desemprego que assediam milhões de trabalhadores e jovens. E não à toa: os empresários e banqueiros presentes concordam com o programa econômico ultraliberal de Bolsonaro e Guedes, e exigem que as discordâncias circunstanciais com a política de Bolsonaro não ameacem os ajustes econômicos implementados em comum pelo Executivo, o Congresso e o Judiciário.

Economistas neoliberais como Armínio Fraga, empresários como Horácio Lafer Piva, ex-presidente da FIESP, Neca Setúbal e outros representantes do Itaú, entre muitos outros empresários e banqueiros, compartilharam palanque com burocratas sindicais e estudantis - como Miguel Torres, da Força Sindical, e a presidente da UNE Bruna Brelaz. Até mesmo um ex-presidente do Superior Tribunal Militar (!), Flávio Flores da Cunha Bierrenbach, esteve na leitura da carta. O clima foi sintetizado pelo ex-ministro da Justiça José Carlos Dias: "unidade entre capital e trabalho" em defesa da democracia. Dentro dessa "defesa", não há críticas às reformas trabalhista, da previdência e outros ataques. Não se fala da inflação galopante no preço dos alimentos, da taxa de desemprego que aflige quase 11 milhões de pessoas (aquelas inclusas da PEA), sem contar os milhões de desalentados e aqueles que trabalham por conta própria, sem quaisquer direitos trabalhistas. Ou o problema da fome, que atinge 33 milhões de pessoas, e que segundo o IBGE quase 60% da população brasileira convive com algum tipo de insegurança alimentar em grau leve, moderado ou grave (de fome total). Nada disso foi tocado na "Carta". A FIESP, em sua "defesa da democracia", já havia avisado:querem mais flexibilização do trabalho e redução de direitos, no melhor estilo "guedista" de defesa da ditadura patronal nas fábricas e locais de trabalho.

Nada de progressista poderá sair dessa "unidade" com patrões, banqueiros e empresários. São nossos inimigos na luta contra Bolsonaro. É impossível enfrentar seriamente a extrema direita e as ameaças golpistas dos bolsonarismo com aqueles que nos atacam todos os dias, e que estão em diálogo com o governo federal também todos os dias, como mostrou a reunião de Bolsonaro com chefes do capital financeiro da Febraban e da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Santander, Caixa, etc.) em SP.

Nas arcadas da SanFran em SP foi lida a Carta em defesa da democracia, inspirada na “Carta de 77”, lida pelo então ministro Goffredo da Silva Telles Júnior, em meio à ditadura militar. Como explicamos nessa nota, a referência é uma operação que oculta o papel central da classe trabalhadora na luta contra a ditadura e também do movimento estudantil, para destacar o papel de um “jurista”, da “sociedade civil” e de instituições do regime.

A celebração, portanto, se mostrou como o que era: uma tentativa de impedir que o enfrentamento contra Bolsonaro se dê no terreno da luta de classes, em base a um plano de luta que avance a uma greve geral para a revogação de todas as reformas e ataques. As burocracias dos sindicatos (da CUT, CTB, Força Sindical, UGT) e dos movimentos sociais fazem seu trabalho para conter essa perspectiva, e facilitar o objetivo dessa comunhão de empresários para subordinar o ódio a Bolsonaro a uma transição controlada, eleitoral, que preserve seus ataques.

A candidatura de Lula é o instrumento dessa perspectiva. Os atos da Faculdade de Direito da USP, e de outras faculdades pelo país, junto com as entidades patronais, favorecem a chapa Lula-Alckmin, cujo programa deixa intactas as reformas trabalhista, da previdência e demais conquistas do capital contra o trabalho.

Esse tom de direita e de conciliação de classes configura toda a jornada do dia 11 de agosto. Como dissemos em declaração do MRT, explicando a razão do porquê não compusemos este ato do dia 11: "É por isso que nós do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), que impulsiona a Faísca Revolucionária e o Nossa Classe, não compomos esse dia 11 e batalhamos para que a classe trabalhadora auto-organizada, com assembleias e reuniões de base, aliada à juventude, seja a protagonista do combate ao bolsonarismo, não os capitalistas, como vemos hoje. Não foi uma carta lida em 1977 por Goffredo Telles Jr., um ex-integralista, que derrotou a ditadura. Foi a classe trabalhadora com fortes greves e apoio do movimento estudantil. Por isso, viemos exigindo das centrais sindicais e da UNE que rompam com essa política de subordinação aos capitalistas e de aposta na saída de conciliação pelas eleições. É preciso que construam um plano de lutas pela base, com manifestações, paralisações e greves que unifiquem o enfrentamento contra Bolsonaro, o bolsonarismo e os militares, batalhando pela imediata revogação integral de todas as reformas."

Devemos unir forças para exigir das direções majoritárias do movimento de massas, em primeiro lugar da CUT, CTB e UNE, que impulsione um verdadeiro plano de luta contra Bolsonaro e suas ameaças golpistas e pela revogação de todas as contrarreformas e ataques, para convocar à luta pelas demandas econômicas da classe trabalhadora contra a carestia de vida e a fome. Não aceitemos atos eleitorais junto com os grandes banqueiros, industriais e líderes do regime político, que vão definir o programa dessas ações de acordo com seus interesses. Isso não é um “combate contra o golpismo”. É necessária uma política de independência de classe, e impor às direções burocráticas um plano de luta efetivo, organizado a partir de assembleias de base nos locais de trabalho e estudo, alentando a auto-organização pela base, para colocar a classe trabalhadora como sujeito ativo na cena política, para que essa tome o controle da situação.

A defesa da independência de classe é fundamental. Essa batalha por ela, contra a conciliação, é parte fundamental das nossas pré-candidaturas do MRT pelo Polo Socialista Revolucionário com um programa para que os capitalistas paguem pela crise. Chamamos estudantes e trabalhadores a discutir essa perspectiva, e não compartilharmos bandeiras com nossos inimigos na luta contra Bolsonaro e os militares.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias