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Greve Geral na França | O caráter político da jornada de paralisação no último 19 de janeiro na França e suas perspectivas

Na quinta-feira, 19 de janeiro, ocorreu em toda a França uma massiva primeira jornada de diversas categorias contra a reforma da previdência do governo francês. A dinâmica do dia reflete o caráter mais político do que reivindicativo do movimento, possibilitando a construção de uma greve geral com caráter político contra Macron.

Juan ChingoParis | @JuanChingoFT

segunda-feira 23 de janeiro de 2023 | Edição do dia

Texto originalmente publicado em 22 de janeiro de 2022 no jornal Révolution Permanente, sob o título "Le caractère politique du 19 janvier et les perspectives pour gagner face à Macron". Tradução para o português e notas: Lina Hamdan

Macron enfrenta um movimento extremamente massivo pela primeira vez

O primeiro elemento marcante do dia 19 de janeiro está obviamente na massividade da mobilização. Mais de dois milhões de manifestantes em toda a França (400.000 em Paris, mais de 100.000 em Marselha, 50.000 em Nantes e Toulouse). Os números batem recordes de grandes dias de mobilizações. Muitas cidades estão experimentando um número histórico de manifestantes, mostrando a profundidade da mobilização com 20.000 manifestantes em Nice ou Perpignan, 15.000 em Avignon, 13.000 em Metz ou 10.000 em Angoulême.

Até então, o “macronismo” [como os franceses chamam os governos Macron] havia sido confrontado com movimentos menos massivos, mas radicais. Em particular, o movimento dos Coletes Amarelos, que mobilizou várias centenas de milhares de pessoas na França em seu auge, explodindo a rotina sindical. Mas Macron também enfrentou a greve contra a reforma da previdência do inverno de 2019-2020, que foi desencadeada de forma imposta pela base pelos grevistas da RATP (estatal dos transportes parisienses) que, no entanto, permaneceram isolados junto aos trabalhadores da SNCF (estatal francesa ferroviária) em greve contínua [enquanto outras categorias, devido à imposição das direções sindicais, realizaram mobilizações mais esporádicas]. De forma mais ampla, o novo ciclo de luta de classes aberto em 2016 na França [contra a reforma trabalhista de Hollande] foi caracterizado por menos massividade e tendências mais fortes à superação dos freios das burocracias, marcando o enfraquecimento do domínio dos aparatos sindicais sobre as mobilizações.

Desta vez, o que vemos é um verdadeiro movimento de massas de todas as camadas do proletariado, estendido à escala nacional, com o qual Emmanuel Macron se depara. Uma mobilização cujos números são comparáveis ​​a certas manifestações de 1995 ou 2010, ou seja, do ciclo precedente de luta de classes. Um movimento que permanece por enquanto controlado por uma direção intersindical hegemonizada pela CFDT (Confederação Francesa Democrática do Trabalho), mas cuja composição social também difere daquela que prevaleceu durante as manifestações comparáveis ​​mencionadas nas mídias burguesas.

É certo que os bastiões do serviço público estiveram muito mobilizados nesta quinta-feira, com números em geral um pouco inferiores aos de 5 de dezembro de 2019 na SNCF, RATP, na Educação Nacional ou na função pública e um pouco superiores no setor energético [1]. No entanto, se os números do setor privado são mais difíceis de estimar, a leve redução da taxa de de grevistas nos redutos do serviço público em comparação com 2019 e as manifestações massivas desta última quinta, sobretudo em cidades de média dimensão, assim como numerosos testemunhos, sugerem uma mobilização nada desprezível no setor privado.

Em um bastião do setor privado na França como os petroleiros, a mobilização foi massiva em todo o país, com vários locais com adesão de 100% à greve dos trabalhadores por turno. Da mesma forma, em Le Havre a manifestação foi massiva, enquanto em Toulouse os fenômenos se expressam na aeronáutica, tanto nos efetivos da Airbus quanto nas suas terceirizadas, ou seja, em um setor privado que não esteve muito ativo durante a onda anterior de luta de classes ereativado nos últimos anos ao redor das lutas em relação ao confinamento pela Covid 19 e por salários. Na PSA [Peugeot Citroen], Vincent Duse, sindicalista de base da CGT, explica que "na planta em Mulhouse, a CGT afirma ter 500 grevistas, enquanto na de SevelNord 400 trabalhadores se mobilizaram. É quase inédito para uma data de mobilização de múltiplas categorias profissionais". Muitos trabalhadores de outras empresas também foram vistos nas mobilizações: Solvay e Renault Trucks em Lyon, SKF em Valenciennes, etc.

Uma configuração cuja análise ainda terá de ser precisada nos próximos dias, mas que expressa as transformações subjetivas acumuladas pela classe trabalhadora nos últimos anos em torno de mobilizações que tiveram participação sucessiva de diversos setores de nossa classe. Um coquetel explosivo para o governo.

Uma mobilização política que cristaliza os sofrimentos dos trabalhadores na França

No início do ano letivo, em setembro, Emmanuel Macron havia optado por lançar a reforma da previdência no inverno para evitar o risco de que uma deterioração da situação impedisse mais uma vez de realizar uma reforma central para seu governo. Isso visa tanto defender sua credibilidade como reformador perante a burguesia, recuperando um "atraso" que a França tem em relação a outras potências europeias (devido às lutas que acompanharam cada tentativa de reforma da previdência), quanto atacar uma âmbito do gasto público importante para sinalizar quanto à responsabilidade e sustentabilidade da dívida francesa.

No entanto, esta ofensiva contra a classe trabalhadora, que é vista claramente por toda a população como uma condenação a “trabalhar mais” para compensar um déficit negligenciável, ocorre num quadro de grande tensão no país. Durante um ano e meio, a pandemia e depois a guerra na Ucrânia levaram a um aumento dos preços que agravou a situação econômica de muitos trabalhadores, ao mesmo tempo alimentando fenômenos sem precedentes de mobilizações salariais em muitas empresas. A crise da Covid trouxe uma mudança subjetiva em grandes setores da classe trabalhadora. Em operários do setor privado, essa mudança resultou em movimentos grevistas alimentados pela demanda por reconhecimento pós-Covid e depois pela inflação. Nos serviços públicos, estes efeitos foram somados à indignação suscitada pela deterioração dos hospitais, das escolas ou dos transportes. Mas há formas de indignação inclusive por parte de supervisores, expressas pelo fenômeno das demissões silenciosas que visam limitar o trabalho ao mínimo estrito.

Por fim, a reforma chega num momento em que o governo está profundamente enfraquecido pela crise política e pelo desgaste do “macronismo”. As eleições legislativas provocaram, de fato, uma mudança na crise política ao conceder, pela primeira vez, apenas uma maioria relativa ao Executivo, obrigado se ligar com setores ainda mais à direita, mas também com uma maioria menos servil pela perspectiva da sucessão de Macron ao final do mandato de cinco anos. Isso enquanto o índice de popularidade de Macron está em seu nível mais baixo, e sua figura continua a despertar o ódio de setores enormes da população.

Nesse contexto, a reforma das aposentadorias serve como um catalisador para todas as questões que afetam profundamente o proletariado francês. Não só contra o governo e sua reforma, mas também pelos salários, contra a degradação dos serviços públicos, contra um regime político cada vez mais autoritário, etc. O conteúdo da mobilização de 19 de janeiro aparece, assim, mais político do que reivindicativo, e vai muito além da questão da reforma da previdência, o que explica sua massificação.

É o que expressa, por exemplo, Nicolas, mecânico não sindicalizado da Tisséo [transporte urbano de Toulouse] ao jornal Révolution Permanente: “com o aumento do combustível, da eletricidade, dos alimentos, a gente não consegue mais lidar com a situação porque os salários não acompanham esses aumentos. Precisamos bloquear o país de uma vez por todas”. Catherine, enfermeira em Neuilly-sur-Marne, destaca a ligação entre as aposentadorias, a penúria e falta de recursos – “nosso trabalho é muito difícil, ficamos acordados o dia todo. Além disso, faltam recursos e pessoal”. Sophie, professora, paralisou “pelas aposentadorias, mas também por melhores salários desde já”. Judith, estudante entrevistada pelo jornal Mediapart, disse que “também é uma questão de democracia. A maioria dos franceses é contra esta reforma. (…) Se ela passar com um 49-3 [mecanismo autoritário do governo federal, permitido pela constituição da V República], o que isso significará sobre o estado de nossa democracia?".

As pesquisas de opinião também ecoam a rejeição esmagadora da reforma, mas também tendências mais profundas. Como este estudo do super liberalInstitut Montaigne que entrevistou 5.000 pessoas, publicado em 12 de janeiro, que observa que apenas 7% dos trabalhadores apoiam a reforma e acrescenta que as posições estão parcialmente correlacionadas com as situações individuais dos entrevistados. E conclui: "As opiniões em relação à idade mínima legal não estão ligadas maioritariamente com as condições individuais de trabalho, porque estamos vendo uma dinâmica coletiva que vai muito além da simples questão das aposentadorias e que reflete uma crise política mais geral (desconfiança dos governos, sentimento geral de injustiça) (…)”.

Uma direção sindical fora de sintonia com as dinâmicas subjacentes por trás da mobilização

A profundidade das raízes da mobilização massiva de 19 de janeiro, na qual se condensa a raiva que alenta o proletariado francês, contrasta com o discurso e a atitude da atual direção do movimento. Unida pela revolta da base contra a reforma, a frente sindical, de amplitude inédita desde 2010, pretende controlar a revolta e impedir qualquer transbordamento.

Antes mesmo da mobilização de 19 de janeiro, Laurent Escure, Secretário-Geral da UNSA [Union Nationale des Syndicats Autonomes], pediu na semana passada que "a manifestação de 19 de janeiro” fosse “digna e clássica". Por sua vez, Laurent Berger [Secretário-Geral da CFDT] explicou ao jornal Le Parisien na semana passada: “Tem que ser feito em um ambiente pacifista. (…) Espero que possamos vir manifestar com nossos filhos. (…) Será preciso ter um discurso claro: a CFDT não será ultrapassada pela sua base”. Para a direção intersindical, o movimento deve ser mantido dentro do âmbito das aposentadorias, com dias de ação bem delimitados, como mostra o cuidado na preparação dos serviços de segurança antes da manifestação de 19 de janeiro.

Assim como o governo, os dirigentes sindicais burocráticos estão cientes de que a situação pode rapidamente se tornar explosiva. Questionado pelo Le Parisien sobre o perigo que “movimentos espontâneos do tipo dos Coletes Amarelos possam eclodir?", no sentido não apenas de um movimento que passe por fora das organizações sindicais, mas também de um movimento que carrega reivindicações mais amplas que visam mudar o regime como um todo, Laurent Berger disse, por exemplo, que: "A questão é saber se haverá uma faísca em algum ponto que cause um conflito social mais profundo. As aposentadorias podem ser. Mas a CFDT nunca foi adepta de palavras-de-ordem abarcativas. Se queremos que o governo nos ouça quanto à idade legal, temos que nos ater a essa reivindicação”.

Uma lógica estritamente reivindicatória, dentro dos limites estabelecidos pelo regime, que vai contra o caráter político da mobilização e contra as potencialidades que ela pode abrir contra Macron, levantando questões profundamente políticas sobre a sociedade capitalista e as condições de vida e trabalho que ela impõe à maioria da população. Esta orientação, que quer limitar as potencialidades das reivindicações que estimulam as milhões de pessoas mobilizadas no dia 19, anda de mãos dadas com a estratégia assumida pela direção intersindical, explícita no anúncio, na quinta-feira, de uma nova data de mobilização para 11 dias depois, em 31 de janeiro, sem plano preciso de construção e sem perspectiva de prolongar a luta. Esta escolha confirma a hegemonia da CFDT na atual direção do movimento e a clara adoção de uma estratégia de pressão.

A direção aposta na possibilidade de que poucos dias de massivas mobilizações isoladas possam quebrar as contradições dentro do campo opositor para retirar a reforma, enquanto a maioria “macronista” já dá os primeiros sinais de divisão e que a direita não está totalmente conquistada para a idéia de realizar a reforma desde agora. No entanto, apostar nossas aposentadorias nas manobras parlamentares e nas ambições eleitorais desses partidos anti-trabalhadores é uma aposta perigosa.

Enquanto o Estado e a burguesia só cederão caso tenham medo de perder tudo, essa lógica arriscada impede a construção de uma “relação de forças” através da greve, única garantia de fazer pesar realmente nas próximas semanas contra o governo. Em 2010 e 2016, foi esta mesma estratégia de pressão que levou à derrota, apesar da forte determinação dos trabalhadores. Mais recentemente, a greve salarial dos petroleiros da Total mostrou como o governo estava disposto a usar todas as suas ferramentas, em particular as mais autoritárias, em vez de arriscar abrir uma brecha para todas as categorias de trabalhadores.

Outra estratégia para desenvolver a energia e a criatividade do movimento de massas: a greve nas mãos dos grevistas!

Contra a estratégia de pressão da direção intersindical, baseada na preocupação de respeitar as regras impostas pelo governo mas também no receio de ver o movimento escapar do controle de sua atual direção, só será possível vencer através de uma força imensa que se coloque contra o governo. O método para criar uma relação de forças favorável é bem conhecido: construir uma greve ampla e contínua, que mobilize todos os setores de nossa classe, dos mais estratégicos aos mais precários, em torno de um programa que não se limite à retirada do projeto de reforma, mas que pretenda conquistar aposentadorias dignas, a indexação dos salários à inflação e aumentos salariais para todos.

No entanto, essa perspectiva se choca com o principal limite da ação do 19, marcada por uma fraca auto-organização, com poucas assembleias gerais de base e piquetes. Se as dificuldades de locomoção explicam em parte esse limite, a razão mais fundamental está na política das direções sindicais nacionais e locais de não convocar sistematicamente assembleias gerais, inclusive em categorias como ferroviários, professores ou de Le Havre, onde antes isso era uma regra. Avançar nesse terreno é tarefa central do movimento, principalmente dos setores que buscam convocar ações e datas que possam acelerar o ritmo imposto pela direção intersindical.

Alguns setores estão de fato começando a se colocar a questão da greve contínua, ao invés de dias esparsos. É o caso dos petroleiros que anunciaram na semana passada um plano para construir uma estratégia ao redor de datas crescentes permitindo desencadear uma greve contínua a partir de 6 de fevereiro. Uma perspectiva que inspirou vários setores, como o energético [2], mas também o da educação, onde os sindicatos minoritários convocaram uma greve contínua a partir de 31 de janeiro e que pode ser prorrogada. No entanto, para que tal perspectiva se torne realidade, e para que não sacrifique a massividade pela radicalidade, ela deve se basear em um trabalho de base profundo e não apenas em datas ou convocações voluntaristas.

Para isso, será decisivo nos próximos dias desenvolver a auto-organização dentro e entre as empresas, por meio da organização de assembleias gerais por locais de trabalho e também interprofissionais. Essas assembleias devem ser um lugar de discussão sobre o movimento e suas demandas, para buscar expressar todas as reivindicações do proletariado em torno de um programa que vá além da retirada da reforma.

Elas também podem ser o lugar de impulso para uma política de vanguarda operária, não só dos setores mais mobilizados no momento atual, mas também daqueles setores que realizaram as mais avançadas experiências de luta nos últimos cinco anos, para contribuir com os setores mais precários ou menos acostumados a lutas duras. Essa vanguarda (eletricitários, operadores de gás, petroleiros, motoristas de ônibus, ferroviários, professores) devem ir ao encontro dos terceirizados, trabalhadores temporários, empresas sem tradição de luta com a mesma vontade de mobilizá-los que os agentes da RATP e da SNCF prepararam e construíram por dois mese a data de 5 de dezembro a partir do final de setembro de 2019.

O papel da juventude para a construção dessa perspectiva

Nesta perspectiva, a juventude pode desempenhar um papel decisivo ao lado do movimento operário. Historicamente, o movimento estudantil tem desempenhado um papel fundamental para sacudir as rotinas sindicais, ampliar as reivindicações dos movimentos e as aspirações dos trabalhadores, mas também fazer pesar a balança da correlação de forças contra os governos.

Ao contrário dos trabalhadores, o movimento estudantil, particularmente atingido pela pandemia, vive uma certa lentidão desde 2018. No entanto, sempre soube se recompor e, nos próximos dias, a dinâmica nos colégios e universidades pode ser um imenso fator de mudança da situação, ajudando a reforçar e expressar mais abertamente o caráter político da dinâmica iniciada na quinta-feira.

No entanto, isso implica que a intervenção dos jovens, estudantes universitários e do ensino médio, se faça com os seus métodos, a sua radicalidade, a sua massificação e as suas exigências. Deste ponto de vista, a manifestação do último sábado (21 de janeiro), convocada pelos militantes de juventude da France Insoumise com o apoio das duas organizações que se reivindicam como NPA, e apresentada artificialmente como uma manifestação juvenil, constituiu um verdadeiro contra-exemplo.

Ao invés de buscar aproveitar a força da juventude, de sua espontaneidade, o dia “21 de janeiro” faz desse setor uma vitrine simbólica a serviço de uma operação “publicitária” da esquerda política. É independentemente dessas manobras que os jovens estudantes universitário e do ensino médio, que estiveram bastante ausentes na mobilização deste sábado, devem entrar na luta ao lado do movimento operário.

Por uma greve geral política contra Macron e seu mundo

A perspectiva de um movimento de massas desta natureza implica uma subjetividade radicalmente diferente daquela que os dirigentes da intersindical estão tentando incutir hoje. Não é pela via de economizar forças entre duas manifestações em dias espaçados, mas sim nos prepararmos para liberar toda a energia e potência da nossa classe. Não limitarmos nossas reivindicações para sermos ouvidos por Macron, e sim ampliar nossas demandas, para agregar o máximo de raiva possível e fazer tremer o governo. Uma perspectiva que se constrói não pela imposição desde cima de uma série de datas, mas capacitando os trabalhadores para eles mesmos decidirem o movimento e seu ritmo.

Esta lógica também se opõe radicalmente à da direção da CGT [Confederação Geral do Trabalho], que chama, em um comunicado, múltiplas de ações: “construir, sem esperar, novas iniciativas a partir de 23 de janeiro: reuniões, debates públicos, encontros, marchas noturnas e outros” para tentar maquiar a convocação de uma data [31 de janeiro] vista como distante por muitos trabalhadores. Uma postura que não dá linha estratégica para construir a correlação de forças, sob o pretexto de deixar que as intersindicais locais realizem suas próprias ações.

Para buscar o desenvolvimento máximo do movimento, é necessária uma política ativa cujo objetivo seja quebrar a passividade estimulada pela direção intersindical e desenvolver a auto-organização na base. A confiança reconquistada em nossas forças após a greve de 19 de janeiro pode ser um ponto de apoio nesse sentido, para mudar radicalmente a dinâmica e construir uma greve geral política contra o governo e o grande capital, cujo alcance e objetivos podem ir muito além do que a simples batalha pelas aposentadorias, e permitir que a correlação geral de forças seja virada em favor dos explorados e oprimidos. Enquanto Macron quer fazer da reforma a "mãe de todas as batalhas", nos darmos tal objetivo é a única maneira de levar a sério a situação e suas potencialidades.

[Créditos foto: THOMAS SAMSON / AFP]


[1Na Educação Nacional, 65% dos trabalhadores da educação do Ensino Médio paralisaram nesta quinta-feira contra 75% em 5 de dezembro de 2019, e 70% dos trabalhadores do Ensino Fundamental contra 65% em 2019. Na SNCF [Société Nationale des Chemins de fer Français], em escala nacional: 46% contra 57% em 2019; 77% contra 85% dos condutores de trem, 48% contra 57% dos sinaleiros ferroviários, 51% contra 73% dos controladores. Na função pública, 29,5% contra 32% do Estado, e 19,6% contra 15,9% do serviço público hospitalar. Por fim, no setor energético, 44,5% nesta quinta-feira na EDF [Électricité de France] contra 41,4% há 3 anos.

[2Na medida em que os pequenos comércios, como as padarias, fortemente afetados pelo aumento dos preços da energia, realizaram manifestações nesta segunda-feira (23 de janeiro), eletricistas e trabalhadores do gás sindicalizados na CGT Énergie de Marseille fizeram uma operação solidária reduzindo os preços da eletricidade e do gás. Como explica Renaud Henry, secretário-geral da CGT Énergie Marseille, “Concretamente, é uma manipulação no medidor para que as padarias possam ter um preço 50% mais barato ou gratuito”. Uma ação arriscada, mas importante. “É ilegal mas é totalmente moral porque a margem que lucram os especuladores com as ações das empresas faz com que as padarias fechem. Não é por causa dos nossos salários, de nosso regime especial de trabalho”.

O número de padarias que tiveram suas contas reduzidas pela medida não foi divulgado, mas este gesto de solidariedade surge na medida em que o governo buscou atacar os grevistas na semana passada, e em particular os grevistas da energia, denunciando possíveis ações de corte de energia. Renaud explica que “Na medida em que os padeiros estão mobilizados, a ideia era criar um vínculo com os trabalhadores que lutam contra essa injusta reforma da previdência”. Uma forte operação simbólica que mostra o tipo de ações que devem ser multiplicadas no âmbito do movimento contra a reforma da previdência, não apenas ampliando a greve entre os trabalhadores, mas também forjando, com os métodos e as potencialidades da classe trabalhadora, uma aliança com os pequenos comerciantes afetados pela crise. (Nota da Tradução)





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