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Palestina Livre! | O movimento de solidariedade à Palestina: um “Vietnã” da nossa geração?

Diante da ofensiva militar genocida do Estado de Israel contra o povo palestino em Gaza e na Cisjordânia, fortes manifestações de solidariedade se levantam no mundo inteiro, abrindo crises políticas nas principais potências imperialistas apoiadoras do sionismo. Um movimento internacionalista contra a guerra, com fortes elementos anti-imperialistas e com traços disruptivos que vem remontando aos movimentos da década de 1960. Mas para garantir um futuro pacífico para árabes e judeus, a classe trabalhadora deverá entrar em cena.

sexta-feira 17 de novembro de 2023 | Edição do dia
Foto: Elizabeth Frantz/Reuters

Já ultrapassa 11.000 o número de palestinos mortos, grande parte crianças e mulheres, com os bombardeios e a incursão terrestre genocidas do Estado de Israel em Gaza, uma nova “Nakba” que já obrigou 1,5 milhão de pessoas a abandonarem suas casas. Na Cisjordânia, uma nova onda de violência por parte dos militares israelenses e das milícias de colonos já assassinou 190 palestinos desde o 7 de outubro, uma aceleração da antiga política de terror e colonização por parte deste Estado que há mais de 75 anos impulsiona um apartheid, uma ideologia de supremacismo étnico, e agora pretende completar o roubo das terras e a expulsão dos palestinos.

As manifestações multitudinárias que emergiram em diversas cidades do mundo mostram que nossa geração não quer ser a que assistiu em seus celulares a limpeza étnica da Palestina, mas sim a que se levantou contra o colonialismo e o imperialismo inerentes ao sistema capitalista. Nos Estados Unidos e na Europa - onde na Inglaterra 1 milhão foram às ruas e na França a força dos atos impôs o fim da sua proibição por Macron - abrem-se crises políticas importantes diante da indignação com a colaboração dos governos com Israel, assim como no mundo árabe a solidariedade de massas vêm impondo duros revezes ao processo capitulador de aproximação que vinha se dando entre as burguesias árabes e o sionismo.

Nas décadas de 60 e 70, a mobilização mundial protagonizada pela juventude contra a guerra do Vietnã foi fundamental para que os Estados Unidos tivessem sua primeira derrota em uma guerra. Iniciados no próprio imperialismo norte-americano, se interligando com o movimento antirracista pelos direitos civis, os protestos contra a guerra do Vietnã se espalharam por diversos continentes, com manifestações significativas em países europeus (Reino Unido, França, Alemanha Ocidental), no Japão, na América Latina e na Oceania. Na África, manifestações e expressões de solidariedade se interligaram com movimentos de libertação nacional e anti-imperialistas que ocorriam no continente.

Se esse movimento de solidariedade teve um papel importante para quebrar a moral da intervenção imperialista, igualmente importante foi o desenvolvimento de um sentimento de internacionalismo militante entre as gerações dos anos 1960 e 1970, educando para uma subjetividade anti-imperialista e para a unidade e radicalização política de diferentes movimentos de protesto ao redor do mundo. Foi o caso com o movimento dos direitos civis contra a segregação racial nos EUA, com a segunda onda do feminismo e em outro dos maiores símbolos da época, fortemente influenciado pelo movimento contra a guerra colonial na Argélia, o Maio Francês, quando a unidade de trabalhadores e estudantes desafiou o poder na Europa.

Hoje, mobilizações ocorrem no mundo todo em apoio e solidariedade ao povo palestino. Chama a atenção que as mobilizações nos principais centros do capitalismo imperialista, Estados apoiadores históricos de Israel, vêm demonstrando capacidade de aprofundar crises políticas e colocar em cheque o apoio de seus governos à limpeza étnica na Palestina. Nos EUA, as imagens do genocídio, a política de extrema-direita do sionismo e as exigências de um cessar-fogo imediato estão colocando Biden em uma difícil situação, com a juventude tomando as ruas em atos massivos, com participação de setores chamativos de judeus antissionistas. Mais de 500 funcionários das agências estatais norte-americanas já se manifestaram contra o apoio ao massacre e está em curso uma acentuada erosão de Israel entre a opinião pública de seu principal aliado. Na França, onde já vinha ocorrendo uma grande ofensiva islamofóbica por parte do governo contra os imigrantes e descendentes de imigrantes da África e Oriente Médio, Macron foi obrigado pela força do movimento a passar da proibição de manifestações ao pedido de um cessar-fogo. No Reino Unido, a ex-ministra do interior, Suella Braverman, foi deposta após suas declarações criticando a polícia por não reprimir os atos pró-palestina terem provocado atentados da extrema-direita contra as próprias forças de repressão. Também na oposição do Partido Trabalhista se abriu uma importante crise interna, após seu líder, Keir Starmer, se colocar contra um cessar-fogo e em defesa do “direito de defesa” de Israel.

Para além da pressão “cidadã”: a classe trabalhadora precisa tomar a frente com cara própria

As mobilizações começam a surtir efeito e é necessário ampliar e multiplicá-las. Apoiados em movimentos anteriores contra as guerras do imperialismo, vemos o potencial do movimento atual. Ao passo que as manifestações em seu caráter de pressão “cidadã” tem avançado, também observamos com emoção a entrada em cena de setores da classe trabalhadora em iniciativas próprias de solidariedade ao povo palestino. Dos portuários de Barcelona, da Bélgica, Estados Unidos, Austrália e outros que se recusam a embarcar armamentos para Israel, mineiros na Colômbia paralisando a exportação de carvão e outros minerais, trabalhadores da Amazon contra o uso de tecnologias de comunicação e IA da empresa por Israel, da United Electric, a carta dos trabalhadores da saúde de Nova York aos de Gaza, a central sindical de mais de 600 mil filiados na índia e muitas outras organizações operárias de um número crescente que querem um basta ao massacre e o genocídio cometido por Israel e declaram seu apoio ativo à causa do povo palestino.

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Se o movimento de solidariedade à Palestina tem o potencial de ser uma escola de internacionalismo e anti-imperialismo para as novas gerações, o cruzamento de fenômenos como o BLM com a recomposição subjetiva do movimento operário, marcada pela recente onda de sindicalização e greves nos principais imperialismos dos Estados Unidos e Europa, mostra o potencial do momento atual para avançar na luta por uma nova unidade internacional da classe trabalhadora que pretenda se alçar como projeto hegemônico contra a barbárie capitalista - à exemplo do importante papel que cumpriu, na época de Marx, a solidariedade ativa da classe trabalhadora europeia com a luta anti-escravista do outro lado do Atlântico, na Guerra Civil norte-americana, levando à construção da Primeira Internacional. Para isso, será preciso lutar por sindicatos e organizações operárias que se lancem a construir uma forte campanha de solidariedade internacionalmente, construindo as mobilizações desde as bases, tomando iniciativas de ação direta contra a cooperação econômica e militar com Israel, através de greves, piquetes e espaços de auto-organização unitária.

Se um forte movimento contra essa guerra colonialista é capaz de desestabilizar os governos imperialistas e seus lacaios mundialmente, bem como abrir espaço ao avanço da consciência de novas camadas de militantes, para acabar definitivamente com a guerra, o regime de apartheid, garantir um futuro ao povo palestino e judeu no Oriente Médio, será preciso desmontar o Estado sionista de Israel. Por isso, lutemos por uma Palestina operária e socialista onde convivam árabes e judeus: uma bandeira na ordem do dia para as novas gerações de trabalhadores e revolucionários que se solidarizam com essa causa profundamente anti-imperialista.




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