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PARALISAÇÃO NACIONAL 29/05 | Reflexão, luta e repressão - Uma semana de mobilização na Letras-USP

“Não, nós temos um conceito muito elevado da função da arte para negar sua influência sobre o destino da sociedade. [...] No entanto, o artista só pode servir à luta emancipadora quando está compenetrado subjetivamente de seu conteúdo social e individual, quando faz passar por seus nervos o sentido e o drama dessa luta e quando procura livremente dar uma encarnação artística a seu mundo interior.”

Manifesto por uma Arte Revolucionária Independente – André Breton e León Trotsky

quinta-feira 11 de junho de 2015 | 03:26

A semana de 25 a 29 de maio no curso de Letras da USP não foi nem um pouco corriqueira. Frente à deliberação da assembleia de curso de nos incorporarmos ao Dia Nacional de Paralisação na sexta-feira contra todos os ataques que a classe trabalhadora e a juventude vêm sofrendo, o movimento construiu uma semana inteira de mobilização, buscando aprofundar o debate no curso sobre todas as questões levantadas nesse dia.

Foram diversas atividades articuladas pela Comissão de Mobilização do curso. Tivemos passagens em sala e mesas relâmpago com os professores da rede estadual em greve, furando o cerco que a mídia criou em volta da mobilização e denunciando o governo autoritário que não negocia e ainda corta o ponto dos grevistas; avançamos na campanha para que todo político ganhe o mesmo que uma professora; debatemos o desmonte da universidade e a terceirização com trabalhadores da USP (SINTUSP) e metroviários (Metroviários Pela Base); fizemos uma intervenção artística com um jogral poético nos prédios da Letras e da História e Geografia convocando todos os estudantes a construírem a paralisação do dia 29.

Durante toda a semana as conversas pelos corredores foram perpassadas pela consciência de que só pelas nossas próprias forças em aliança com todos os trabalhadores em luta – dentro e fora da universidade – conseguiremos respostas para os graves ataques que os burocratas encastelados nas reitorias e os governos nos dirigem diariamente.

29M: REPRESSÃO E REFLEXÃO

O dia 29 já começou com muita luta na USP. Diversos estudantes da Letras estavam presentes no trancaço do Portão 1 da cidade universitária desde o início da manhã. Após uma dura repressão ao ato, inclusive com uma estudante do curso sendo brutalmente agredida, demos início às atividades da paralisação em frente ao prédio da Letras.

Tivemos duas aulas públicas sobre as Vanguardas Artísticas do Século XX, com a participação de Edu Teruki, professor de Correntes Críticas, Rita Chaves, professora de Literaturas Africanas, e Lindberg Campos Filho, mestrando em literatura, no período da manhã, e de Anderson Gonçalves, professor de Teoria Literária, Fábio César, professor de Literatura Brasileira, e Fernando Pardal, mestre pela Letras e editor de cultura do Esquerda Diário, no período noturno.

Diversas reflexões potentes surgiram com as intervenções dos convidados, junto à efervescência da luta que abriu o dia. Pensar nas vanguardas artísticas em um dia de luta nacional nos faz questionar mais a fundo o papel e o caráter da Universidade. Estabelecer o diálogo entre as nossas questões políticas, as relações de trabalho e condições objetivas de estudo dentro desse espaço e o conhecimento construído ali dentro é a chave para pensarmos outro projeto de educação.

Partindo de discussões profundas sobre o caráter das vanguardas artísticas, que surgem nos momentos de grande inquietude social e ganham força quando ideias revolucionárias figuram no horizonte, chegamos a questionamentos sobre a instituição acadêmica, o cânone e em que medida alguns setores se apropriam de sua legitimidade intelectual para dominação cultural e política. Se é verdade que a Universidade, hoje, é instrumento de coerção intelectual, se afastando cada vez mais e conscientemente das necessidades da população que a sustenta e neutralizando o mais que pode tudo o que há de questionador da ordem burguesa, também é verdade que uma pressão interna e uma apropriação dos métodos da Academia pode redirecionar ideologicamente o conhecimento e subverter o cânone e a intelectualidade para que estes virem armas nas mãos da juventude e da classe trabalhadora.

Ter uma aula pública (ainda que toda aula na universidade pública devesse ser pública) sobre o que há de contestador em arte, literatura e cultura, visando repensar e, por vezes, destruir o que está posto logo depois de temos sido alvo das bombas de uma policia assassina, que nos reprime exatamente a mando daqueles que não nos querem produzindo criativamente na universidade, é mais uma vez afirmar que temos outro projeto de educação que não o dos capitalistas. É fortalecer nossas mentes como armas de um enfrentamento poderoso, que, aliado à luta política nas ruas, deve ter como objetivo ambicioso a transformação radical dessa sociedade.

Essa semana de mobilizações fora do comum na Letras mostrou aos estudantes a importância de construirmos um movimento estudantil dinâmico e bem articulado. Com essa experiência, o movimento dá um novo passo no que diz respeito à organização entre estudantes e trabalhadores. Os diversos debates que ocorreram abriram um espaço importante de diálogo com estudantes ainda pouco dispostos a construir o movimento estudantil. As atividades em formatos diversos dos tradicionais abriram as portas para novos setores, intensificando discussões e levando novas pessoas às ruas para intervirem artística, cultural e politicamente no cotidiano.




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