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MICROCEFALIA | ’Sexo é para amadores, gravidez é para profissionais’, diz ministro da Saúde

quinta-feira 19 de novembro de 2015 | 00:00

Ministro Marcelo Castro em meio a programa Roda Viva

Questionado sobre os cuidados que devem ser adotados para gravidez em razão do aumento de casos de microcefalia no País, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, sentenciou: "Sexo é para amadores, gravidez é para profissionais."

O ministro ressaltou a necessidade de o casal discutir com o médico a conveniência de uma gestação no momento em que se investiga a possibilidade de o zika vírus provocar no feto a malformação. Se a decisão for engravidar, disse, o ideal é que todos os cuidados sejam adotados, tanto antes quanto durante o período da gestação.

O ministro do PMDB de Piauí foi deputado por vários anos pela ARENA, partido político que apoiava a ditadura e é um dos caciques políticos deste estado que exibe um dos maiores índices de pobreza, mortalidade materna, mortalidade e desnutrição infantil em todo o país.

Neste escandaloso comentário revela-se a imbecilidade política de um gabinete ministerial formado não para administrar o país, mesmo para os negócios dos empresários, mas meramente para angariar apoios parlamentares.

Sua declaração não versa em uma só palavra sobre as medidas que deveriam ser tomadas para evitar o zika, que medidas de acompanhamento das grávidas estariam sendo tomadas mas somente transfere a responsabilidade às mulheres. Em um país onde o aborto segue ilegal também não são garantidas as condições para uma gestação segura para mãe e criança. Sobre nada disso pronunciou-se o ilustre ministro.

Casos de microcefalia

Considerada até então uma doença rara, a microcefalia aumentou de forma nunca vista na história recente. O País contabiliza 399 casos, a maioria identificada nos últimos três meses. Somente em Pernambuco, foram notificados 268 bebês com a malformação, um indicador 29 vezes maior do que a média anual registrada no período de 2010-2014, de 9 casos.

Além de Pernambuco, os nascimentos foram identificados também Os casos foram identificados em Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí, Ceará e Bahia.

Não há ainda como afirmar a causa do problema, mas a maior suspeita é a de que o súbito aumento tenha sido provocado pela infecção por zika vírus da mãe, no período da gestação. Isso porque cerca de 80% das gestantes apresentaram nos primeiros meses febre, coceiras e manchas pelo corpo.

Essa possibilidade foi reforçada na terça-feira, 17, com a divulgação de um teste feito no líquido amniótico de dois fetos, na Paraíba. O resultado, antecipado pelo jornal O Estado de S. Paulo, identificou a presença do zika vírus.

O ministro argumentou que, com não há literatura sobre o assunto, é preciso ter cautela para afirmar de forma categórica que o aumento de casos é fruto da infecção pelo zika, um vírus que chegou ao País este ano, provocou epidemia no Nordeste e já está presente em 14 Estados, incluindo Rio e São Paulo. "Qualquer que seja a hipótese, o cenário é gravíssimo."

Caso a microcefalia seja de fato provocada pela infecção vertical (mãe-bebê) do zika, Castro afirmou haver risco de haver surtos da malformação em outros Estado do Brasil e em outros países.

Em visita ao Brasil, a diretora da Organização Mundial da Saúde, Margaret Chan, afirmou que a entidade está acompanhando de perto a investigação que está em curso no País. "Apesar do achado de ontem (17) ser de grande importância é preciso continuar o trabalho. A ligação entre a microcefalia e o zika ainda não está determinada" disse, referindo-se aos testes de cordão umbilical. A diretora considerou incomum o aumento de casos da doença no País e avaliou que o Brasil está tomando todas as ações necessárias.

Este órgão da ONU também omite quais seriam estas ações. Enquanto isto milhares de mulheres sofrem com o drama de não saber a condição dos filhos que carregam em suas barrigas, acrescentando um novo drama à saúde para mulheres e crianças. Tudo isto ocorre a uma semana do dia internacional de luta contra a violência contra a mulher. As declarações do ministro mas sobretudo a falta de uma saúde pública e gratuita de qualidade para as gestantes, ausência do direito ao aborto seguro legal e gratuito leva milhares de mulheres à morte todos anos, renovam a mostra de como este Estado é diariamente violento com as mulheres.

Esquerda Diário / Agência Estado




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