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Eleições 2022 | Sobre o debate Lula e Bolsonaro na Globo

Rosa Linh Estudante de Ciências Sociais na UnB

sábado 29 de outubro de 2022 | Edição do dia

No último debate presidencial, transmitido pela Rede Globo, Bolsonaro jorrou seu reacionarismo nojento e asqueroso. Seu cinismo mais uma vez se mostrou com toda força quando disse que “vai tudo bem com o país” e que o Brasil está “pronto para decolar”. A verdade é que em seu governo o salário mínimo não teve aumento real e a inflação corroeu o poder de compra a ponto do Auxílio Brasil não conseguir comprar a cesta básica na maioria das capitais brasileiras. Seu ministro, Paulo Guedes, quer privatizar as universidades públicas e já prometeu mais arrocho salarial. Se o "plano Guedes" vigorasse há 10 anos, hoje o salário mínimo seria de R$505, segundo DIEESE.

Bolsonaro demagogicamente se embandeirou do Auxílio Brasil, nem parecendo que pouco tempo atrás ele era contra, fingindo que não foi ele responsável, junto de todo o regime e da justiça, pelas reformas que destruíram os empregos e geraram altos índices de precarização do trabalho. Junto do agronegócio racista e ecocida que exporta comida enquanto aqui se passa fome, deixou mais de 30 milhões de pessoas na insegurança alimentar, na fila do osso. Em nome disso, atacou o MST reivindicando a propriedade privada latifundiária, essa herança da escravidão, e a repressão aos camponeses e sem terra.

Bolsonaro teve que se corrigir falando do Complexo do Alemão (não Salgueiro, como disse no debate anterior) e falando que 99% é “de bem”, mas mantendo o racismo, de que Lula foi “no morro junto de bandidos”. Tudo isso, no mesmo dia em que a violência da polícia racista matou Lorenzo, de 14 anos, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Para Roberto Jefferson, apoiador radical e inquestionável do presidente, atirar granadas e tiros de fuzil contra a polícia não lhe rende o mesmo destino. Para eles, o genocidio da juventude negra é motivo de chacota e risadinhas.

Do outro lado, Lula falou inclusive no sentido de discutir mudanças da CLT com os trabalhadores, mas nunca sobre a revogação da reforma trabalhista e da previdência. Aproveitando que suas alianças com a direita e o grande capital já estão consolidadas, tencionou mais o diálogo com a perda de direitos dos últimos anos, inclusive assumindo que em 2016 houve um golpe. Bolsonaro, hipócrita como só ele pode ser, tentou se dizer a favor dos trabalhadores pegando o programa neoliberal de Alckmin. Em alguma medida, ambos tentaram colocar a pecha um no outro de que são contra os direitos trabalhistas. No entanto, o próprio nível de direitismo anti-operário de Alckmin, apoiador do golpe institucional, e sua defesa de pautas neoliberais foi algo que obrigou Lula a fugir desse tema.

Os temas sobre costumes levaram o debate mais à direita. A questão do aborto foi uma grande disputa para ver quem era mais contrário. Bolsonaro chamou Lula de “abortista”, sendo rebatido com Lula tentando colocar a pecha de que era, na verdade, o seu adversário o “abortista”, mencionando um discurso feito nos anos 90 sobre as “pilulas do aborto”, um discurso de tom eugenista sobre controle de natalidade do reacionário de extrema-direita. Toda essa abordagem que cede ao reacionarismo bolsonarista deixou as mulheres como derrotadas do debate.

Bolsonaro mais nervoso, com menos momentos bons, assumindo depois que “quem tiver mais votos leva”, sob pressão da Globo. O tema das inserções e o tom golpista pouco apareceu, mostrando um recuo de seu assessor Fábio Farias. Isso expressa o que nós do Esquerda Diário viemos discutindo sobre o processo de “institucionalização da extrema-direita”, isto é, um cenário de um regime mais à direita, com fortalecimento do bolsonarismo na Câmara e Senado. Por um lado, disciplinado pelas Forças Armadas - esses que foram poupados durante o debate - e o STF, ambos com fortes elementos bonapartistas; por outro, com uma base fascistóide ativa e que se manterá assim depois das eleições, o que pode se ver com o próprio assassinato bárbaro de Zezinho do PT, morto com tiros à queima roupa enquanto fazia campanha para Lula.

A situação econômica e social do país explica um pouco o peso maior no debate com relação às pautas sociais e de direitos, como a reforma da previdência, investimentos em saúde e salário. Essa corja de extrema-direita, que quer aumentar os lucros dos capitalistas às custas da classe trabalhadora, assim como o conjunto das reformas neoliberais só podem ser derrotadas pela luta, em um enfrentamento sério por meio de greves, manifestações de rua, mobilização e auto-organização pela base. É fundamental que as direções das centrais sindicais e do movimento de massas rompam sua paralisia e preparem um plano de lutas para fazer frente a quaisquer ameaças golpistas, mas também contra a carestia de vida.

Mesmo em um eventual governo Lula, as condições econômicas e políticas vão ser completamente hostis a quaisquer concessões econômico-sociais. Ao contrário, o que se apresenta é um cenário de novos ataques, de um regime à direita, além da manutenção de todo o legado de contra-reformas e privatizações dos últimos anos de Bolsonaro e do golpista Temer. O ponto zero de qualquer posição política hoje é a luta pela revogação integral de todas as reformas, o que não será conquistado com alianças com a direita e o grande capital. É necessário construir uma alternativa independente, operária e socialista para dar uma resposta de fundo à crise e mandar a extrema-direita definitivamente para a lata do lixo da história.

Leia mais: Enfrentar Bolsonaro e as reformas em um país mais à direita




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