×

FRANÇA - GREVE EM MASSA NAS REFINARIAS E PORTOS | Uma dinâmica grevista à la 1995, com os petroleiros na vanguarda

Em 1995, foram os ferroviários e o conjunto do transporte de passageiros os que estiveram na vanguarda da greve que também abarcou a La Poste, France Télécom, a empresa de eletricidade EDF-GDF, os professores, o setor da saúde, o ministério de finanças, etc.

Juan ChingoParis | @JuanChingoFT

quinta-feira 26 de maio de 2016 | Edição do dia

Diferente desses anos, onde a chave esteve no setor público, seja da administração ou das empresas, este ano são os petroleiros que conseguiram a paralisação das oito centrais na França e que estão à frente e contagiando com sua determinação outros setores das empresas privadas, em especial os trabalhadores portuários e marítimos.

Por sua vez, essas ações se combinam com greves semanais de dois dias dos ferroviários e em alguns terminais de toda a semana e já se anuncia que em junho entrarão na dança o transporte público e três dias de paralisação da aviação civil.

Também igual a 1995, onde a CGT – apesar de que surgiram em algumas cidades como Rouen ou bairros de Paris tentativas mais ou menos importantes de coordenação – cumpriu um papel protagonista com Bernard Thibaut à cabeça diante do fantasma de que se repetissem e generalizassem os exemplos da coordenação ferroviária de 1986 ou a coordenadora das enfermeiras de 1988, o endurecimento de Philipe Martinez (seu secretário geral) pesa fortemente para evitar que por agora se desenvolva este tipo de quadro de auto-organização, como tinha sido o caso com as Interpro na luta de 2010, apesar de mesmo neste ano ter um caráter embrionário tomado de conjunto.

Também igual àqueles anos, a CFDT rompeu a frente única das organizações sindicais e cumpriu seu papel aberto em sabotar a greve, como é o caso agora de seu secretário-geral, Laurent Berger. Os estudantes, por sua vez, também haviam se retirado para baixar seu papel ativo no momento em que o movimento grevista se afirmava. Uma diferença importante é que ao abarcar os setores públicos as manifestações eram mais massivas que até agora com o movimento atual, que tem um de seus limites na falta de presença massiva nas ruas destes setores aos quais Hollande deu uma concessão salarial com este propósito desmobilizador. Tampouco, em relação à massividade, os estudantes conseguiram previamente uma dinâmica como no CPE de 2006, ainda que a determinação da vanguarda que se mobilizou com enorme coragem frente à repressão sistemática dos CRS e outros corpos policiais (não houve uma marcha onde não houve gases, balas de borracha, feridos, presos, etc.) foi um elemento chave em deslegitimar de forma crescente os corpos repressivos do Estado imperialista.

Outra diferença é o surgimento do Nuit Debout, que expressa e ao mesmo tempo ajuda o processo de radicalização política (muito menor em relação a 68), abrindo uma brecha no muro ideológico (TINA) da burguesia e seus capachos; ainda que útil para a ação, não consegue ser um centro de gravidade por seus defeitos de horizontalismo de assembleia, como agora as greves e o perigo de falta de combustível da ação dos petroleiros estão colocando claramente pela positiva, de forma potente. Seja dito de passagem, estas ações também são uma desmentida da estratégia de ações minoritárias radicais contra a polícia dos movimentos autônomos opostos a toda organização, coordenação e decisão democrática dos que lutam.

Uma vez mais os petroleiros, como foi o caso em 2010 ou antes com a greve da Total de 2009, são claramente a vanguarda da classe operária francesa com El Havre, com sua combinação de principal porto da França e sede de muitas empresas petroleiras e outras indústrias importantes, como capital nacional da greve. Não por casualidade, seu CEO ameaçou nesta terça-feira revisar seus planos de produção na França que, ainda que seja uma chantagem contra a greve em curso, poderia ser um plano estratégico para a patronal francesa para destruir este setor vital do proletariado francês. Ou, dito de outra maneira, se o thatcherismo francês quer afirmar-se deverá derrotar historicamente os petroleiros como Thatcher fez com os mineiros. Mas muita água (e possivelmente sangue) ainda vai correr!!!

No entanto, a grande diferença com 1995 é que, como consequência da crise mundial e europeia, a determinação da burguesia é outra: já vimos com Sarkozy que em 2010 conseguiu fazer passar a reforma das aposentadorias apesar dos milhões (várias vezes 3 milhões) nas ruas e a dinâmica de generalização da greve com os petroleiros na vanguarda, detida pela política das direções sindicais que deram o aval político para a requisição das refinarias de Grandpuits (perto de Paris) e Donges (na foz do Nantes) e a subsequente derrota do movimento.

Diferente do fim do quinquênio sarkozista, Hollande está muito mais desgastado que Sarkozy e a perda de autoridade do Executivo é inédita na V República, mesmo com estado de emergência, o que a faz mais patética (e permite os ataques da direita e da extrema-direita por desgoverno). Mas contar demais com este elemento e a pressão dos importantes e estratégicos setores que estão em greve pode não ser suficiente para dobrar o governo. Para ganhar há que se generalizar a greve ao conjunto do movimento operário como as montadoras (o setor ainda de maior quantidade de operários) e a central filial aeronáutica (o setor de produção mais dinâmico da economia francesa), ao mesmo tempo que socialmente os setores mais explorados e com mais reservas de ódio de classe e energia da classe trabalhadora, como são as camadas mais precarizadas do proletariado assim como os setores mais pauperizados como os desempregados e os jovens da banlieue [periferia francesa].

A CGT, que se tranformou de fato na oposição de esquerda ao governo de Hollande, deveria levantar um plano operário para a crise, que partindo da retirada total da reforma trabalhista, dê solução à situação dos setores mais desprivilegiados, de maneira a conseguir a unidade das fileiras operárias e desta com os setores populares (pequeno comércio, taxistas, camponeses arruinados, etc.).

É fundamental que nas assembleias os setores mobilizados comecem a exigir um programa deste tipo, enquanto constroem comitês de greve amplos com sindicalizados e não-sindicalizados, e tentando ganhar para a greve a base dos sindicatos colaboracionistas, e preparar de forma cada vez mais fundamental piquetes de autodefesa frente ao salto na repressão que cairá sobre os setores grevistas mais determinados.

Tradução: Pammella Teixeira




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias