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Análise | 1º turno em PE: a direita e o bolsonarismo capitalizam a crise do PSB

Crise orgânica revela derrocada do PSB enquanto o projeto de conciliação de classes da frente ampla abre espaço para a capitalização da direita e da extrema direita bolsonarista em Pernambuco.

Renato ShakurEstudante de ciências sociais da UFPE e doutorando em história da UFF

domingo 9 de outubro de 2022 | Edição do dia

Raquel Lyra (PSDB) e Marília Arraes (SD) foram para o 2º turno na disputa pelo governo de Pernambuco com uma diferença bem pequena. Marília obteve 23,97% dos votos válidos (1.175.651 votos) e Raquel obteve 20,58% (1.009.556 votos). Em seguida, Anderson Ferreira (PL) com 18,15% (890.220 votos), Danilo Cabral (PSB) com 18,06% (885.994 votos) e Miguel Coelho (União) 18,04% (884.941 votos).

A crise orgânica em Pernambuco

Essa diferença pequena não somente entre as duas primeiras colocadas, mas também entre os demais candidatos que tiveram o mesmo percentual dos votos válidos com uma variação de décimos entre eles, expressam eleitoralmente a crise orgânica no estado de Pernambuco frente ao desgaste político do PSB no executivo estadual. Depois de 14 anos de gestão à frente do estado, o PSB deixou obras inacabadas, os piores índces de desigualdade do país, os piores índices de saneamento básico e uma polícia racista letal contra os negros.

A derrota de Danilo Cabral que acabou superando as pesquisas de intenção de votos (Ipec e Ipespe 12%), mostraram o grande rechaço dos trabalhadores e da juventude pernambucana ao projeto político do PSB que atendia os interesses das oligarquias e empresários do estado. Por outro lado, essa pequena diferença entre os candidatos mostrou também que além dos pernambucanos não se sentirem mais representados por essa antiga oligarquia da família Campos, por outro ainda não surgiu alguma família ou oligarquia que conseguisse hegemonizar os setores que se desprenderam da base social do PSB. Sobre esse processo desenvolvemos esse texto. Em importantes colégios eleitorais da região metropolitana de Recife como a própria cidade de Recife, Olinda, Paulista, Cabo de Santo Agostinho, Jaboatão dos Guararapes e Camaragibe a diferença entre Marília, Raquel e Anderson, candidatos que disputavam a 1ª colocação nesses municípios onde teve um desgaste enorme do PSB, variou entre 0,30% e 9,67% do 1º ao 3º mais votado. Ou seja, do ponto de vista eleitoral, nenhum desses candidatos conseguiu emplacar uma vitória contundente na na RMR com folga expressiva, o que mostra que nenhum desses projetos conseguiu ainda hegemonizar setores de massa em detrimento dos demais.

Ainda que esteja bem próximo do resultado do 1º turno e os partidos, vereadores e famílias do estado ainda vão se movimentar, como já estão fazendo, para um lado ou outro no 2º turno marcado pro dia 30 de outubro, algumas hipóteses e reflexões podem ser colocadas.

A direita e extrema-direita capitalizaram a crise do PSB

As pesquisas de intenção de voto apontavam Marília Arraes como franca favorita e disparada na frente com 35% (Ipespe) e 38% (Ipec) dos votos válidos. Mas o fato é que Marília ganhou em apenas 4 municípios ao sul da Região Metropolitana de Recife (Ipojuca, Cabo de Santo Agostinho, Itapissuma e Moreno), os três primeiros com concentração industrial onde se localizam a refinaria Abreu e Lima e o Porto de Suape, sendo que apenas um deles está entre os maiores colégios eleitorais (Cabo, 7º). Raquel ganhou de Marília em 8 dos 10 maiores colégios eleitorais que somando correspondem a 45,1% do total de votos do estado: Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Caruaru, Paulista, Camaragibe, Garanhuns e Vitória de Santo Antão. Vale ressaltar que Abreu e Lima, Jaboatão e Olinda Anderson Ferreira foi o mais votado.

Esse resultado não era nem um pouco esperado, a “vantagem” que Marília teria sobre seus adversários era que ela era a mais conhecida na RMR por já ter disputado a prefeitura de Recife em 2018 contra seu primo João Campos (PSB). Os demais candidatos a princípio teriam vantagem apenas nas regiões onde foram prefeitos como Anderson Ferreira ex-prefeito de Camaragibe, Miguel ex-prefeito de Petrolina mais conhecido no Sertão e Raquel ex-prefeita de Caruaru e com peso no Agreste. Isso expressa que a crise do PSB em Pernambuco está sendo capitalizada pela direita e em menor grau também pelo bolsonarismo, sobretudo na região metropolitana.

Raquel Lyra teve apoio em sua campanha de representantes das igrejas evangélicas da RMR e nunca escondeu suas relações com a extrema-direita e com os setores reacionários do estado. Ela junto a Anderson Ferreira, PSC, Cidadania e PL até o começo do ano estavam de mãos dadas no movimento Levanta Pernambuco. Sem contar a relação do ministério do turismo de Bolsonaro com a cidade que sempre estiveram em diálogo para impulsionar a “Capital do Forró”, destinando verbas ao município. Raquel também é contra o aborto, se orgulha de ter sido ex-delegada da polícia no Rio de Janeiro e é favor de mais repressão policial no estado que assassina 97% de negros, em Recide o número sobe pra 100%. Em resumo, apesar de tentar se manter como “neutra” no cenário de polarização nacional no 2º turno entre Lula e Bolsonaro, ela tenta capitalizar a base social evangélica e bolsonarista do estado, inclusive, recebe apoio direto de Miguel Coelho que está com Bolsonaro, Anderson Ferreira e Gilson Macho (ex-candidato ao senado pelo PL) na briga pela reeleição do atual presidente.

Em menor grau, mas já aparecendo como um fator importante da política regional, os bolsonaristas se saíram bem nas eleições de Pernambuco, mostrando que capitalizaram um setor social frente à crise do PSB. Os dois primeiros deputados federais e estaduais mais bem votados do estado são bolsonaristas. Acompanhando o fortalecimento do bolsonarismo no regime político à nível nacional, em Pernambuco o PL foi o 3º partido mais votado, garantindo 4 deputados federais eleitos, algo que nunca tinha acontecido na história do PL. Na Alepe ganharam mais 1 cadeira, agora tem 5 deputados, sem contar o bolsonarista Pastor Júnior Tércio do PP, deputado mais votado do estado (e Patrícia Collins também do PP que é 1ª suplente). Isso mostra que o bolsonarismo em Pernambuco é uma fator político importante e vem ganhando cada vez mais espaço ainda que a votação em Bolsonaro tenha sido bem abaixo do que recebeu nacionalmente ficando com apenas 29,91% dos votos válidos, os bolsonaristas pernambucanos vem ganhando espaço no regime frente ao desgaste do PSB.

Miguel Coelho apesar de ter ficado em 4º lugar entre os que pleiteavam uma vaga no 2º turno com Marília, também se saiu bem, superando os 12% que as pesquisas apontavam. Com uma política privatista, abençoado pelo orçamento secreto e representante de uma oligarquia reacionária e racista, sobretudo da fruticultura do São Francisco no Sertão, Miguel Coelho no mesmo dia do resultado do 1º turno já deu apoio a Raquel. Esse apoio vem criando rusgas públicas com o presidente do partido, Luciano Bivar, que recentemente declarou que o partido apoiaria Marília Arraes. De todo modo, para além das divergências, a família Coelho mostrou que não é uma oligarquia restrita a Petrolina e mostrou capacidade para capitalizar pela direita o desgaste do PSB e será importante cabo eleitoral para reeleição de Bolsonaro na região.

Raquel Lyra, suposta “neutralidade” com apoio bolsonarista

No 2º turno Raquel Lyra anunciou que não apoiará nem Lula nem Bolsonaro, mas por baixo receberá apoio do bolsonarista Miguel Coelho e da base bolsonarista do estado que identificam Marília a Lula. A suposta “neutralidade” é resultado do amplo rechaço que Bolsonaro tem em Pernambuco, ficando com 29,91% dos votos, bem abaixo do que recebeu nacionalmente. Para aqueles que acham que Raquel Lyra representa algo de “novo” na política, está completamente enganado. Raquel é uma representante da direita direita tradicional privatista e que é a favor de todos os ataques e reformas. Além disso, ela já foi do PSB e fazia parte do projeto oligárquico que a sigla tem para o estado e seu pai já foi governador de Pernambuco enquanto Eduardo Campos se afastava para concorrer à presidência da república (2014-2015). Basta ver seu histórico e de sua família para saber que Raquel Lyra não pode resolver os problemas mais sentidos pelos trabalhadores e o povo pernambucano.

A desidratação não esperada de Marília mostra o peso cultural e econômico que tem a cidade de Caruaru não apenas na região que corresponde o polo têxtil do Agreste (Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe e Toritama), mas também as cidades vizinhas que abastecem o polo de confecções e os centros de venda de tecido e roupa com mão de obra precarizada. Além disso, vem se desenvolvendo em Caruaru um setor social ligado ao 3º setor e à indústria que fazem parte de sua base social e impulsionam a família Lyra, basta observar o desenvolvimento do "Armazém da Criatividade” (polo de desenvolvimento tecnológico da cidade) e o Polo de Desenvolvimento Sustentável do Agreste que abriga 99 fábricas. O polo de Caruaru oferece à burguesia pernambucana o exemplo para um projeto de precarização do trabalho, enquanto o PSB é impactado com a crise do desenvolvimentismo da desindustrialização relativa fomentada pelo bolsonarismo e seus patrocinadores do agronegócio.

Ao lado de sua vice Priscila Krause (Cidadania) que apoiou o golpe institucional, Raquel faz demagogia de ser uma boa gestora da prefeitura, que gerou muitos empregos na cidade e a economia vai muito bem obrigado. Mas não fala que boa parte desses empregos gerados são temporários, precários, informais e terceirizados, ou seja, sem nenhum direito trabalhista. O que se vê em Caruaru, como mostra a tese Mayara Melo (2017) (1), é uma massa de trabalhadoras que estão em postos de trabalhos informais ganhando às vezes menos que um salário mínimo, encarando jornadas dupla de trabalho e sem nenhum direito trabalhista. Sem contar que o polo têxtil de Toritama, sobretudo o que abastece o comércio das feiras de Caruaru é também baseada num trabalho ultra-precário, durante a pandemia uma costureira ganhava R$ 0,30 por peça, um trabalho análogo à escravidão como as trabalhadoras de lá denunciam.

Raquel Lyra enche a boca pra falar que é boa gestora, mas estamos aqui pra dizer que sua boa gestão é para agradar empresários e baseada na superexploração do trabalho, sobretudo, feminino. Inclusive, boa parte desses trabalhadores e trabalhadoras seguiram trabalhando até a morte durante a pandemia, sem direito a epi, respiradores e quarentena, o que fez com que Caruaru estivesse nas 4 cidades com mais mortes por covid no estado.

Marília com apoio de Lula e PSB

Marília Arraes pretende se apoiar no grande rechaço que Bolsonaro tem em Pernambuco e já recebeu apoio de Lula, PT Pernambuco, PCdoB, “apoio crítico” do PSOL e apoio do PSB que a poucos dias atrás relutava em aceitar qualquer tipo de apoio político. Na realidade, o que parecia ser uma vitória fácil se converteu em seu contrário. Marília busca representar uma antiga oligarquia que já governou o estado de Pernambuco, até pouco tempo atrás também estava junto ao PSB encampando um projeto de direita para o estado que só fez piorar as condições de vida dos trabalhadores. Por isso, é bem não podemos naturalizar que partidos ditos de esquerda dêem apoio político como faz o PT a chapa de Marília que agora conta com o apoio do PSB ou como faz “criticamente” o PSOL-REDE que com essa escolha abandona ainda mais qualquer posição de independência de classe, aprofundando ainda mais seu giro à direita no estado e abraçando o projeto de conciliação com a patronal e a burguesia.

Além dos motivos que já apontei acima, outros fatores também foram decisivos para diminuir a diferença entre Marília e os demais candidatos que ao longo das pesquisas estavam em um empate técnico (na margem de erro percentual). Marília faltou a todos os debates entre os candidatos, o que abriu espaço para que seus concorrentes que não só tinham mais tempo de TV como Danilo, mas também utilizaram outros canais como o rádio para fazer demagogia com o povo pernambucano, como foi a rádio evangélica Novas de Paz da família Tércio, entre as 3 mais ouvidas no estado. Ao mesmo tempo que excluíam os candidatos da esquerda do debate como Jones Manoel (PCB) e Claudia Ribeiro (PSTU), fato bastante antidemocrático do regime pernambucano que também aconteceu nas eleições presidenciais.

A candidatura de Marília revela algo que ela tenta de todas as formas esconder. Marília saiu do PT para ir pro Solidariedade, um partido que abriga nada mais, nada menos que Paulinho da Força que dirige a Força Sindical, uma central sindical patronal que foi a favor de todos os ataques e reformas antioperárias. Também foi responsável no último período junto a CUT e CTB que os trabalhadores não pudessem desenvolver uma luta séria contra o governo Bolsonaro. Seu vice é o direitista Sebastião Oliveira (Avante) que votou vários ataques contra os trabalhadores como a reforma da previdência e trabalhista. Ela foi do discurso contra o gole a se aliar com setores de direita que ajudaram a passar ataques aos trabalhaores. O oportunismo carreirista de Marília fez ela ir mais à direita, hoje é contra a legalização do aborto e num dos estados onde a polícia mais mata jovens negros é a favor de maior repressão policial. Nem falar do privatismo de seu programa, críticas que já desenvolvemos aqui.

Marília, pelo contrário do que diz, não tem nada de “novo” nem popular a oferecer ao povo pernambucano a não ser mais ataques e precarização, por isso que seu projeto se liga as oligarquias mineiras da zona da mata, onde ganhou na maioria dos municípios e também ao projeto desenvolvimentista do PSB ligados ao porto de Suape. Não à toa, depois de muitas críticas e resistência ela aceitou o apoio do até então “grande rival” PSB. Não sabemos ainda como evoluirá a relação das famílias Campos e Arraes, mas por conta do isolamento (Miguel Coelho e Anderson Ferreira apoiando Bolsonaro) e a necessidade de ganhar voto da base de Danilo Cabral, Marília reatou, ao menos temporariamente, as relações com seu antigo rival o que mostra mais uma vez o nível de seu oportunismo.

Enfrentar a direita e a extrema direita, sem aliança com oligarquias, a direita e os patrões

Para enfrentar a direita e a extrema-direita em Pernambuco é necessário se enfrentar contra seus representantes e projetos políticos na luta de classes. Raquel Lyra representa um projeto político da direita que é a favor da manutenção e aprofundamento de todas as reformas e ataques que em Pernambuco garantem a superexploração de milhares de trabalhadores do polo têxtil, indústria, comércio, etc que são a base social que apoia seu projeto de direita para o estado. Para isso também conta com apoio de Miguel Coelho e da base social bolsonarista no estado sem se apresentar abertamente como apoiadora da extrema direita. Por isso, é preciso rechaçar completamente a chapa de Raquel Lyra e Priscila Krause onde as forças da direita e extrema-direita dão apoio político com a defesa de uma posição de independência de classe em base a luta por um programa operário que coloque como necessidade imediata a revogação de todas as reformas e ataques.

Marília diz que as eleições em Pernambuco é a “luta da democracia contra o fascismo”. Mas será que a melhor forma para lutar contra a extrema direita é se apoiando nas oligarquias regionais, se aliando com Sebastião Oliveira e Paulinho da força que são a favor de todos os ataques e reformas e voltando a estar lado a lado nas mesma “trincheira” com o PSB? Esse caminho de aliança com oligarquias regionais e a direita só leva a derrotas e não serve para combater a extrema direita. As eleições nacionais mostraram que a Frente Ampla da chapa Lula-Alckmin, que tem apoio do STF, Febraban, Fiesp e a fração imperialista dirigente dos Estado Unidos, o partido democrata, não conseguiu se enfrentar de forma séria e consequente contra Bolsonaro, além de já ter assumido que não irá tocar nos ataques e contrarreformas.

Por isso, organizações como o PT jogam fora qualquer oportunidade de luta de forma séria contra o bolsonarismo em Pernambuco quando apoia uma chapa de direita e das olirgarquias de Marília e Sebastião Oliveira. Sem falar do PSOL, que vem se diluindo no petismo e rifou há muito tempo do vocabulário a palavra independência de classes já quando firmou a federação com Rede, partido de Marina Silva que é contra a legalização do aborto. Está mais que claro que as alianças com a direita só nos levam a derrotas e não conseguem dar uma resposta anticapitalista aos problemas mais sentidos dos trabalhadores. Não venceremos nem a direita e a extrema-direita no estado se aliando com antigas oligarquias e partidos da direita. Esse tipo de aliança substitui a luta de classes e o programa operário pelo programa da classe dominante, por isso é que não vemos nenhuma dessas chapas que disputam o 2º turno em Pernambuco defender que para acabar com o desemprego é necessário a redução da jornada de trabalho para 30 horas semanas, sem redução do salário na perspectiva de unificar trabalhadores empregados e desempregados.

É necessário levantar um programa que coloque na ordem do dia uma reforma agrária radical e expropriação da grande indústria do agronegócio no país e também em Pernambuco, para que possamos acabar com a fome que atinge milhões só no estado. Não apenas isso, mas em Pernambuco que é um estado que mais sofre com a fome e com a insegurança alimentar, também é preciso defender o reajuste salarial automático de acordo com a inflação, para que a inflação altíssima sobre os alimentos e gás de cozinha, por exemplo, não diminua o poder de compra do trabalhador.

Além disso, é preciso também uma reforma urbana radical para acabar com um problema estrutural das enchentes e deslizamentos que matou centenas nesse ano e deixou desabrigadas milhares de pessoas. É preciso também expropriar os imóveis vazios dos empresários que lucram rios de dinheiro com a especulação imobiliária e colocar a serviços das milhares de pessoas desabrigadas pelas chuvas e das pessoas sem moradia. O pacto pela vida serve na realidade para encarcerar e assassinar a juventude negra no estado, a pollícia bate recordes de assassinato contra juventude negra, por isso é necessário acabar com esse programa racista e assassino, assim como as polícias especiais no estado e as operações policiais como a que assassinou de maneira covarde e brutal a pequena Heloysa Grabielle em Porto de Galinhas. Somente organizando os trabalhadores e setores oprimidos na luta de classes, sem aliança com a direita, poderemos enfrentar a extrema direita e seu projeto nefasto de repressão, destruição de direitos, fome e miséria.

Notas:

(1) Trabalho Feminino na feira da Sulanca de Caruaru - Pernambuco, 2017. Mayara Melo de Andrade




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