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CRISE VENEZUELA | A carestia de vida aflige a Venezuela

Na situação atual de grave crise econômica, os trabalhadores e o povo pobre estão vivendo uma elevada carestia de vida numa espiral de inflação que compromete o bolso dos trabalhadores e a renda do povo.

domingo 21 de junho de 2015 | 21:42

Trata-se de uma situação que não retroce, ao contrário, segue sua marcha e torna impossível para uma família operária planejar sua economia doméstica, no contexto de uma crise que recai sobre ela.

Uma realidade que recai sobre o povo

O governo não divulga dados oficiais dos indicadores econômicos há seis meses. Há muito não publica outros dados essenciais como a escassez ou o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB). Por que não? Se necessita esconder os dados significa que a situação está bem ruim. No entanto, os trabalhadores não precisam dos indicadores do Banco Central da Venezuela (BCV) para constatar que a cada semana sua renda não resiste à alta dos preços de alimentos, remédios, moradia, transporte etc.

O que escrevemos aqui não é uma observação distante ou uma análise sustentada em frios números estatísticos, mas expressa a vida de quem sofre com essa realidade no dia a dia, fazendo malabarismos para que o salário chegue ao fim do mês e, como o povo, se vê asfixiado pela alta de preços e o desabastecimento. A incerteza sobre quanto custará determinado produto amanhã, domina o ambiente. As constantes filas são comuns nos supermercados, pequenas vendas ou lojas comerciais; enfim, em qualquer local de venda em que as pessoas ficam sabendo que vendem um produto específico de primeira necessidade que falta, e que neste dia tem que ser comprado de acordo com seu número de identidade (RG) [o governo prepara um sistema de biometria].

O governo não cansa de repetir que se trata de uma guerra econômica que foi declarada, mas já se vão dois anos nesse discurso, como se fosse alguém que não tem o controle das finanças do Estado para decidir resoluções contra. Nenhuma proposta aparece no horizonte e a incerteza é cada vez maior, sobretudo quando o próprio presidente Nicolas Maduro disse, no princípio do ano diante da ameaça da crise, que “Deus ajudará”, isto é, ficaria na conta da sorte. Passado muito tempo nesta grave crise e não se fez nada sério, na realidade, absolutamente nada para evitar a situação atual.

A realidade é que o povo se vê atingido, ao contrário dos grandes empresários e da cúpula do governo. Nenhum desses sofre com as filas nos centros das cidades nem nos bairros populares. Os especuladores se aproveitam da angústia do povo pobre para revender os produtos por preços sete vezes maior dos estabelecimentos regulados e tabelados. E ainda existem os comerciantes inescrupolosos que em vez de vender os produtos no comércio normal os desviam para o mercado paralelo. Neste caso quem se beneficia são os capitalistas parasitários e também os burocratas do Estado que têm altos salários, numa escala bem superior ao salário de um trabalhador ou ao orçamento de uma família popular.

Alguns frios números de uma triste realidade

O governo sabe que há uma grave crise, mas a oculta. O último informe do índice de preços foi no ano passado quando a alta inflacionária foi de 68,5%. Diante da ausência de novos dados de referência, o banco de investimento Barclays, num relatório divulgado em maio, assinalou que “há notórios indicadores que sugerem uma aceleração da inflação que poderia ter chegado aos três dígitos, superando uma taxa anualizada de 100%”.

Segundo um recente estudo sobre Desabastecimento na Venezuela, elaborado pela consultoria e pesquisas Datanálisis, em maio último a escassez de artigos essenciais no comércio chegou a 60,7%, e no ano, em média, a 58,4%. De acordo com estes cálculos, o desabastecimento no comércio de produtos essenciais, como óleo de milho e vegetal, café, carne bovina, farinha de trigo pré-cozida e leite, alcançou níveis muito superiores à média geral. Por categoria de produtos esta pesquisa afirma que em abril último a escassez deleite nos estabelecimentos chegou a 60,1%, frango 50,1%, café 49,8% e carne bovina 45,1%. Mas há uma série de produtos importantes como shampoo, desodorante, artigos de limpeza e cloro que têm escassez superior a 75%. Nos últimos dias se divulgou que o preço de absorventes femininos foi às alturas, o que tem levado a uma batalha de discursos entre o governo e a Procter & Gamble pelo sobrepreço nos produtos de higiene feminina. Contudo, não passa de discursos, pois os preços não baixam, ao contrário.

Isso o povo sente, percebe; a despeito da exatidão ou não das pesquisas de opinião, a verdade é que aflige. Esta situação contratas com a enorme queda da renda familiar, com o salário não cobrindo as necessidades básicas de uma família padrão. De outra parte, existe o que se chama abastecimento informal. É o conhecido “bachaqueo” – rede de acesso legal ou ilegal a produtos escassos para venda a preços exorbitantes –, onde as pessoas se abastecem pagando entre cinco e dez vezes mais que no mercado paralelo.

São necessárias medidas urgentes para lutar contra o alto custo de vida

Não é possível que o povo continue sofrente essa situação. As medidas emergenciais exigidas para dar os primeiros passos para mudar esta situação são bem notórias e simples, não há segredo algum, nem dificuldade, mas não são aplicadas porque afetariam os lucros dos capitalistas que pressionam o governo ou a burocracia corrupta que se aproveitam da situação.

A seguir algumas medidas básicas essenciais. Comecemos por dizer que os trabalhadores não podem ganhar menos do que o custo do mínimo necessário para uma família, e os salários devem ser indexados periodicamente ao aumento da inflação. Os salários seguirem o ritmo dos preços é uma medida elementar de defesa do nível de vida da classe operária e do povo. É o que se chama de escala móvel de salários, que deve ser aplicada imediatamente.

Faz-se necessário e urgente a discussão e aprovação dos acordos coletivos já vencidos. Atualmente são centenas de milhares os trabalhadores e trabalhadoras que têm negada a discussão de um contrato coletivo ou o cumprimento do existente. No setor público são muitos os contratos coletivos vencidos há muitos anos, e não há discussão dos mesmos, apenas alguns por pressão dos sindicatos, mas mesmo esses são renovados abaixo das necessidades reais. Nas empresas privadas não apenas se descumpre a renovação dos acordos, como em muitas sequer existe um acordo coletivo. A não renovação, o não cumprimento ou a não existência das negociações coletivas de trabalho causam perdas salariais aos trabalhadores diante do aumento do custo de vida.

Os preços dos produtos de primeira necessidade seguem numa escalada que não cessa, como já descrevemos. Enquanto o “controle de preços” que o governo alardeia é uma farsa porque respeita as margens de lucro dos capitalistas e autoriza reajustes relevantes. Um verdadeiro controle somente pode ser exercido pelos que não têm compromisso algum com os lucros empresariais, elegendo comitês operários e populares para controlar os preços, com representantes eleitos democraticamente pela bas em lugares de trabalho e nas comunidades.

No ritmo que os preços aumentam constantemente se eleva também a parcela que o povo paga como imposto de consumo (IVA), já que a porcentagem é proporcional ao aumento dos preço, tornando esse imposto um agravo. O IVA é um golpe constante ao bolso do povo trabalhador, um imposto ao consumo que paga mais quem menos tem. Para cúmulo, agora o Imposto sobre a Renda (ISRL) atinge o salário operário, como se salário fosse renda, transformando-se num imposto ao salário. Tudo isso quando o Estado isenta vários setores empresariais da cobrança de impostos. É necessário eliminar o IVA e este novo imposto sobre o salário. Em meio à crise os que têm que pagar são os que mais têm, agravando os lucros capitalistas, os bancos e as grandes fortunas, impondo pesados impostos progressivos.

No contexto da crise econômica não é possível que as empresas de alimentos continuem em mãos privadas. O governo diz que os capitalistas sabotam a produção de alimentos e especulam, mas tudo não passa de discurso. A alimentação de milhões não pode ser um instrumento de chantagem destes monopólios contra o povo; estas empresas devem passar para propriedade pública, administradas diretamente por seus trabalhadores, com participação das comunidades.

As demissões devem parar. Diante das reivindicações dos trabalhadores os capitalistas chantageiam com as demissões, falir ou fechar as empresas. Se essa é a sua resposta, deve-se responder com firmeza: quem produz são os trabalhadores, não os empresários; as empresas não podem funcionar sem trabalhadores, mas sem empresários, sim. Deve-se expropriar sem indenização alguma toda empresa que feche ou demita trabalhadores. Se os capitalistas dizem que não podem garantir sequer um salário de acordo com o custo de vida e o “direito ao trabalho”, então demonstram que são incapazes de responder às necessidades mais elementares da maioria da sociedade, que as empresas e a economia não podem continuar sob seu controle, devem passar para outras mãos: as mãos dos próprios produtores das riquezas – os trabalhadores e as trabalhadoras.




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