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SÃO PAULO | A unidade necessária para derrotar Tarcísio e o bolsonarismo em SP

Depois de seis anos estão em curso mais uma vez as eleições para a APEOESP, o sindicato de professores do estado de São Paulo, uma categoria que conta com um longo histórico de lutas e que foi profundamente golpeada pelo golpe institucional e pelo governo de Bolsonaro.

Thiago FlaméSão Paulo

quinta-feira 18 de maio de 2023 | Edição do dia

Nessas eleições parte da antiga oposição, representada pelas correntes do PSOL, se juntou à chapa de Bebel Noronha, do PT, que controla burocraticamente o sindicato há décadas, com o esvaziando dos processos de luta e organização da nossa categoria pela base, tentando fazer com que nós professores esqueçamos a nossa história. Para a Chapa 2, que representa a continuidade da luta pela independência sindical, a unidade que precisamos para derrotar Tarcísio e a extrema direita é outra, com a classe trabalhadora e a juventude de São Paulo.

O governador eleito de São Paulo, ministro de Bolsonaro, é uma das expressões do enraizamento institucional do bolsonarismo apesar da derrota presidencial. No entanto, seu governo também representa a continuidade e o aprofundamento da política que vinha sendo aplicada pelos governos tucanos e por Doria. Impossível derrotar esse projeto se aliando com os promotores dele. Por isso, talvez que seja em São Paulo onde primeiro se revele como a frente ampla de Lula e Alckmin, justificada pelos sindicatos petistas como um mal necessário para derrotar o bolsonarismo se mostre mais abertamente como o que é na verdade: uma frente contra o povo, que pode incorporar inclusive parte do bolsonarismo num pacto de elites para garantir a manutenção e o prosseguimento das reformas neoliberais de Temer e Bolsonaro.

A presença de representantes do PSDB e das elites paulistas na vice-presidência de Lula e em postos chaves do governo de Tarcísio em São Paulo mostram o elo de ligação entre a frente ampla e a extrema direita. Um deles é o político paulista Gilberto Kassab, do PSD. Tendo no passado rompido com o DEM para fundar o PSD e aderir aos governos petistas, fez parte do golpe institucional de 2016 e foi ministro do governo Temer e apoiou Bolsonaro em 2018. Hoje seu partido tem três ministérios no governo Lula e ele próprio é secretário do governo Tarcísio. Um outro elo importante é justamente o projeto educacional, que se manteve sob controle do tucanato e aliados seus em São Paulo. Nunca é demais lembrar, além disso, o quanto o mundo empresarial e a Faria Lima aceitam e simpatizam com o Ministro da Fazenda Fernando Haddad e o seu arcabouço fiscal, que é o teto de gastos do governo Lula, apenas mais racional que o de Temer.

Não é um acaso que o governo Lula tenha declarado já, apesar da suspensão, que não vai revogar a reforma do ensino médio, reforma essa que tem em São Paulo seu posto avançado de aplicação. Renato Feder, o secretário de educação privatista escolhido por Tarcisio, além de ter vindo do governo Ratinho no Paraná, do mesmo partido, o PSD, de Gilberto Kassab, também já cumpriu um papel importante na secretaria da educação de São Paulo, durante a última gestão de Geraldo Alckmin. Foi assessor especial do secretário da saúde a partir de 2016, quando o governo Alckmin teve que paralisar a aplicação da reforma do Ensino Médio em função da rebelião estudantil e das ocupações de escolas de 2015 que contou com amplo apoio da população.

As ligações entre o governo Tarcísio e os mesmos aliados tradicionais do tucanato paulista que integram o governo Lula não param por aí. Uma outra secretaria do governo estadual que tem um papel fortemente relacionado com a educação, não com o ensino médio, mas com as universidades, é a Ciência e Tecnologia , que está nas mãos do ex-reitor da USP, que conta com uma longa carreira na burocracia universitária da USP tendo ascendido nos cargos de direção da Poli durante os governos tucanos, passando de chefe de departamento em 1992 para diretor em 2002, chegando a Reitor em 2018. Ou seja, é parte da casta que levou adiante a privatização interna via fundações privadas, a precarização dos cursos de humanas e o avanço da terceirização.

Que unidade é essa?

Aí nos perguntamos. Como pode o PT e sua a Chapa 1 para a Apeoesp falarem de unidade contra o Tarcísio quando estão juntos aos aliados daquele que pretendem combater. Estranha unidade essa, que vai dos gabinetes da secretaria de educação de Tarcisio, passa pelo Palácio do Jaburu e pela esplanada dos ministérios em Brasília, e dos corredores da Alesp vai dar na Chapa 1 da Apeoesp, de Bebel. Como a oposição, a Chapa 2, denúncia, Bebel junto com o PT votou a favor do aumento de salário para Tarcísio e os deputados assim como apoiou o indicado de Tarcísio para a presidência da Alesp. Ao invés de apontar um caminho de mobilização, a direção majoritária atual da Apeoesp somente aponta caminhos de judicialização e pressão parlamentar, que até agora não deram em absolutamente nada de ganho para nossa categoria. E isso não são fatos aleatórios.

Quando Lula afirmou, ainda em campanha, que a unidade com Alckmin não era para vencer a eleição, mas para governar, não estava lançando palavras ao vento. Alckmin representa a continuidade de um projeto que o PT se comprometeu a respaldar, e usar sua base sindical a favor disso. Já a CUT, da Chapa 1, junto com a maioria das centrais sindicais, aceitou que a reforma trabalhista e da previdência não fossem revogadas. O acordo por cima se traduz na passividade interessada dos sindicatos petistas frente à continuidade de ataques como a Reforma de Ensino Médio, ou as privatizações em andamento na Petrobras ou das empresas que não foram tiradas do PND, a lista das privatizações, como a Trensurb do Rio Grande do Sul, cujos trabalhadore paralisaram as atividades recentemente.

A unidade contra a direita, que é a justificativa que as principais correntes do PSOL na categoria, Resistência do Zafalão e MES, usam para aderir à chapa petista, que comanda há décadas com métodos ultra burocráticos o maior sindicato do país e um dos maiores da América Latina, não se sustenta. Como uma unidade que fragiliza a luta em defesa da educação pode fortalecer o Sindicato e luta contra o bolsonarista Tarcisio e seus aliados tucanos e da tradicional elite paulista? Não pode. O PSOL, da mesma forma que integra o governo federal lado a lado com Geraldo Alckmin, agora se soma ao PT no sindicato.

Além disso, existe a Chapa 3 - Luta de Classes, construída pela UP, que com discurso de oposição em algumas regionais, deixam um questionamento enorme sobre sua localização real nas eleições sindicais já que em outras regiões está saindo em unidade com a Chapa 1 e não divulgam isso aberta e amplamente na categoria. Escolhem fortalecer a burocracia petista em nome de posições políticas e sindicais a qualquer custo.

A unidade que a Chapa 2 representa

Como dissemos no início deste artigo, a categoria de professores conta com um extenso histórico de lutas. Em 2015 os professores foram à luta e a juventude ocupou as escolas contra os ataques do então governador Geraldo Alckmin. Essas lutas da categoria e de aliança com a juventude é o caminho que queremos retomar. Hoje, os professores estão em luta pelo piso salarial em várias regiões do país, no Distrito Federal e no Rio de Janeiro. Em alguns lugares se enfrentam diretamente a prefeituras ou governos de estado ligados diretamente ao governo federal. Nisso também vemos como a Frente Ampla vai contra nossos interesses e por que os sindicatos petistas não organizam e unificam as lutas da educação.

Num momento em que o governador segue e aprofunda os ataques iniciados pelos governo do PSDB no estado, o Novo Ensino Médio que Lula já disse que não vai revogar, a nova carreira docente, o desemprego de professores e o fechamento de centenas de salas de aula pelo estado, a divisão entre efetivos e contratados, que já somam metade da categoria é preciso retomar esse histórico de lutas e voltar a confiar apenas nas nossas próprias forças e na aliança com a juventude e os outros setores da classe trabalhadora que se enfrentam contra os mesmo inimigos da educação.

Recentemente os metroviários paralisaram a cidade de São Paulo e ainda que suas reivindicações econômicas mais do que justas tenham sido insuficientemente atendidas, o que motivou a que parte significativa da categoria estivesse disposta a seguir a greve, sua luta foi uma importante vitória política na luta contra o governo Tarcísio. A existência de um setor da diretoria do sindicato que defendeu a entrada em greve foi fundamental para ela.

Essa ação recolocou a força da classe trabalhadora como um fator da situação. Fortaleceu a luta contra a privatização da CPTM, da Sabesp e de todos os ataques porque mostrou que existe um caminho capaz de fazer frente à direita, o caminho da luta de classes. No entanto, esse foi apenas um pequeno embate, que segue agora, numa tensa campanha salarial, onde o governo Tarcísio atenta desde o início contra o direito de greve, querendo treinar supervisores para operar trens e substituir os trabalhadores em caso de greve.

Essa pequena ação precisa ser generalizada, mas isso não vai cair do céu. É preciso preparar em todas as categorias de trabalhadores e entre a juventude nas escolas e universidades a luta contra os ataques que o governo Tarcísio representa. A classe trabalhadora conta com ativos importantes nessa batalha, entre eles os sindicatos como o dos trabalhadores da USP e dos metroviários, e as oposições combativas nos sindicatos controlados pela burocracia. E é isso também que está em jogo nas eleições da Apeoesp. O fortalecimento da oposição independente e a retomada da mobilização nas escolas seria um problema enorme para o governo Tarcísio, mas não só. Como significa o questionamento de uma reforma que o governo Lula apoia, no estado em que ela mais avançou, essa perspectiva não está na agenda do PT em São Paulo. No entanto, já vimos a disposição de luta dos professores e o potencial de unidade com a juventude secundarista nos primeiros atos e paralisações contra o Novo Ensino Médio, que a nível nacional são acompanhadas por greves pelo piso salarial como a do Distrito Federal e do Rio de Janeiro.

Aí estão os aliados que precisamos se unificar para derrotar a extrema direita e o governo de Tarcísio, a juventude secundarista e universitária, com os professores da rede estadual e municipal, os trabalhadores do metrô, da CPTM, da Sabesp e de todos os serviços públicos, efetivos e contratados, ligando as demandas salariais, em defesa da educação e em defesa dos serviços públicos, contra o conjunto dos ataques que seguem em curso.




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