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França | Ativistas pró-palestina da França recebem onda de solidariedade após serem acusados de terrorismo pela polícia

Como parte de uma campanha repressiva contra o movimento pela Palestina na França, dois membros do Révolution Permanente receberam intimação da polícia “antiterrorista”. Diversas figuras e organizações declaram seu apoio aos militantes e rechaço a política repressiva do governo francês.

quarta-feira 10 de abril | Edição do dia

Os governos imperialistas seguem reprimindo o movimento internacional pela Palestina, e a França não é exceção. Dois membros do Révolution Permanente (RP), seção francesa da Rede Internacional do Esquerda Diário, receberam intimação a serem interrogados pela GLAT, uma unidade policial judicial “antiterrorista”. A polícia afirma que isto é parte de uma investigação sobre os comentários realizados na internet desde 7 de outubro que “glorificam o terrorismo”. Um dos intimados é Anasse Kazib, trabalhador ferroviário de ascendência marroquina que durante anos tem sido figura pública e porta-voz do RP.

O Estado francês se dedicou a reprimir qualquer tipo de apoio a causa palestina, proibindo manifestações e reuniões, e ameaçando dissolver diversas organizações. 7 meses depois do início da ofensiva genocida em Gaza, e em um momento em que a ONG Save The Children alerta que 350.000 crianças menores de 5 anos correm perigo de morte como consequência da crise humanitária causada pelo exército israelense, a prioridade do governo segue sendo a mesma: criminalizar os partidários da Palestina para silenciá-los.

Para conseguir isso, a acusação de “apologia ao terrorismo” se tornou em uma ferramenta essencial. Partidos políticos como La France Insoumise e o NPA, setoriais da CGT e organizações como Palestine Vaincra, apesar de numerosos em militantes e ativistas, qualquer discurso que não se alinhe com a retórica dos aliados do Estado de Israel pode agora ser castigado por este motivo, com penas de até 1 ano de prisão com suspensão de pena e inscrição no registro de autores de crimes terroristas (Fijait).

Kazib publicou um comunicado nas redes sociais em que, entre outras coisas, disse:

Isto não nos impedirá seguir expressando nosso apoio ao povo palestino e a todos os explorados e oprimidos do planeta. Mais do que nunca, em um momento em que reforçam as tendências à guerra, só podemos contar com nossas lutas!

Esta declaração tem se difundido amplamente, e destacados dirigentes da esquerda francesa tem se solidarizado com os ativistas e denunciado a repressão no Twitter. Dentre as notas de solidariedade conta a declaração de Jean-Luc Mélenchon, candidato do La France Insoumise nas eleições presidenciais de 2017 e 2022: “Mais um militante, funcionário nacional, indiciado juridicamente: seu apoio à palestina está sendo considerado ‘Apologia ao terrorismo’!”. Posição também expressa pela Julie Garnier, que declarou solidariedade ao porta-voz do RP e “aos (muitos) militantes criminalizados por terem denunciado o genocídio e a colonização bárbara”. Além disso, de La France Insoumise, também Éric Coquerelle e o deputado Carlos Martens Bilongo, também prestaram apoio junto com outros deputados.

A porta-voz e indicada às eleições europeias do Lutte Ouvrière, Nathalie Artaud considerou as convocatórias “inaceitáveis”, enquanto a motorista de ônibus e figura do Nouveau Parti Anticapitaliste para as mesmas eleições, Selma Labib, afirma que: O governo procura nos intimidar para que permaneçamos em silêncio e deixemos que o massacre dos palestinos ocorra sem reação”. Outros ativistas, militantes e jornalistas também declararam apoio como editor-chefe de Frustation, Rob Grams, Aude Lancelin, Nnoman Cadoret, Raphaël Arnault, Odile Maurin, além de escritores e artistas como Kaoutar Harchi, Matthieu Longatte e Médine. Organizações como Palestine Vaincra ou Urgence Palestine também se posicionaram em defesa dos militantes, além de internacionalmente organizações como Left Voice nos EUA que denuncia que "o regime de Macron continua a reprimir o movimento pela Palestina na França” e figuras nacionais do SWP britânico, como Charles Kimber e Alex Callinicos, também publicaram mensagens de solidariedade.

Essa ofensiva contra o direito de expressar uma opinião oposta a do governo francês constitui um grave problema democrático, destacado até mesmo por instituições como o Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Mais recentemente, se pretende equiparar o apoio ao povo palestino como apoio ao “terrorismo”, visto que o Estado quer reduzir a luta do povo palestino, chegando inclusive a questionar posições que coincidem com as de especialistas em Oriente Médio ou instituições internacionais como a ONU.

Este aumento da mão de ferro é parte de uma dinâmica mais ampla do Estado francês, que nos últimos anos tem atacado todos os setores que se opõem às políticas do governo. Ainda estão frescas a memória da luta dos Coletes Amarelos e do movimento contra a reforma da previdência. Seja o movimento operário, golpeado por uma histórica repressão sindical, o movimento ambientalista, as organizações antirracistas e de bairros populares ou as organizações políticas radicais, a repressão é um sistema, respaldado por um arsenal judicial que tem sido reforçado consideravelmente desde 2014.

A repressão contra a vanguarda ocorre quando os países imperialistas estão pressionando mais a Israel para que ponha fim a sua ofensiva genocida. Tanto Macron, como Biden nos EUA pediram recentemente um cessar-fogo imediato. Mas é claro que nenhum destes líderes se preocupa em por um fim a violência, os Estados Unidos segue enviando milhões de armas e aviões de combate para ajudar o genocídio. A instabilidade que a ofensiva israelense está causando aos países imperialistas, junto com o movimento que segue mobilizando a população seis meses depois, é o que motiva os recentes chamados a um cessar-fogo por parte dos dirigentes imperialistas.

Fazemos coro às palavras de Anasse Kazib em sua declaração

Enquanto Macron pretende entregar alguns pacotes de alimento a Gaza, está travando aqui uma guerra contra aqueles que denunciam o genocídio do povo palestino, apoiando-se em um arsenal jurídico autoritário legitimado em nome da “Luta antiterrorista”.

Apoiar a causa palestina não é crime. Em nenhum lugar do mundo podemos permitir este tipo de perseguição.




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