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Crise climática | Desastre capitalista e descaso de Leite: por uma resposta operária à tragédia no RS!

A primeira semana de setembro chegou junto a mais um evento climático extremo na região sul do país, deixando milhares de desabrigados e cidades completamente destruídas. Apresentamos aqui a declaração do Movimento Revolucionário de Trabalhadores e do Esquerda Diário Rio Grande do Sul em solidariedade às vítimas e na defesa de um programa operário para enfrentar a situação.

quinta-feira 7 de setembro de 2023 | Edição do dia

O Rio Grande do Sul está passando por uma situação desesperadora, uma tragédia capitalista anunciada. Mais um ciclone atingiu a região nessa primeira semana de setembro, produzindo verdadeiras cenas de horror: municípios completamente submersos e totalmente inacessíveis por terra, pessoas se abrigando nos telhados para fugir da enchente, casas sendo carregadas pela força da água, pontes desmoronando e milhares de famílias que perderam suas casas e todos seus pertences. Até o momento foram 37 mortes confirmadas no sul e ao menos 52.157 pessoas afetadas, com milhares tendo que deixar suas casas, muitas precisando de resgate e muitas outras desaparecidas, é uma das maiores tragédias da história do Rio Grande do Sul.

Ao todo, foram cerca de 70 cidades afetadas. A região em estado mais grave é o Vale do Taquari, que abrange 40 municípios do RS. Roca Sales, por exemplo, está com 80% da cidade destruída; Muçum está com as estradas de acesso totalmente interditadas pela água e sem fornecimento de luz e água, assim como muitos outros municípios. Até quando cenas como essa irão se repetir? Há apenas 3 meses os moradores do interior do RS e região metropolitana de Porto Alegre já haviam sofrido com o pior desastre ambiental dos últimos anos na região, quando 16 pessoas foram vítimas das enchentes também fruto de um ciclone extratropical. Agora, esta marca foi superada pela atual tragédia, que é a pior dos últimos 40 anos. E não apenas no RS vemos cenas como essas, mas também anualmente ocorre em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Minas Gerais e vários outros estados alguma tragédia fruto da combinação entre chuvas intensas, absoluta falta de estrutura nas cidades e moradias precárias mantidas em locais de risco. Há algo de comum entre todas elas: são fruto da destruição ambiental capitalista e do total descaso dos governos.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, o governo de Eduardo Leite do PSDB não fez nada para evitar essa catástrofe anunciada. E por falta de aviso não foi, pois este foi mais um dos vários ciclones que atingiram o estado em 2023. Agora o governador tucano diz estar completamente consternado com a situação e que “não é hora de ficarmos vendo culpados”. Mas então quando esse momento chegará? Se depender do Estado nunca, pois essa é a única maneira de tirar a responsabilidade do governo e das instituições, que não tomaram nenhuma medida séria para resolver os problemas de moradia precária e das áreas de risco. Por que não houve monitoramento adequado pelo governo a tempo de garantir a evacuação das cidades atingidas? Por que, apesar de haver alertas de chuvas intensas em quantidade histórica, o governo não agiu para evacuar as cidades? Por que ainda não há investimento massivo em tecnologia para prever com mais antecedência esses tipos de fenômenos? Por que ainda não foram feitas obras públicas nas cidades e bairros com áreas de risco para garantir uma infraestrutura adequada? Por mais quanto tempo veremos os eventos climáticos devastarem bairros e cidades Brasil afora?

A verdade é que as lamentações de Eduardo Leite não passam de lágrimas de crocodilo: nas coletivas de imprensa diz estar muito preocupado com a população e com a crise climática, enquanto nos bastidores seu governo diminuiu os investimentos em 2023 para prevenção de enchentes e está tratando de realizar uma verdadeira destruição dos serviços públicos, passando a toque de caixa inúmeras privatizações, como a da CEEE, Sulgás, Corsan, rodovias… já foram vários parques entregues à iniciativa privada. E para não deixar dúvidas de qual a prioridade do seu governo, Eduardo Leite fez uma declaração, em meio à tragédia, anunciando o avanço na terceirização e precarização do SAMU, o serviço de atendimento móvel de urgência, que atende amplamente a população e que, agora, será precarizado. O alerta vermelho das catástrofes no RS já havia soado em junho, mas o governo do PSDB no estado preferiu ignorar e priorizar os ataques ao gosto dos patrões e dos capitalistas, afetando ainda mais a vida da população. Eventos extremos como esses, cada vez mais frequentes no Brasil e no mundo, escancaram a importância dos serviços públicos, da ciência e da tecnologia que Leite e seu projeto neoliberal para o RS vêm destruindo nos últimos quatro anos e meio.

Enquanto isso, o que está fazendo o governo federal para auxiliar as vítimas dessa tragédia histórica? Lula se reservou a um mero tweet dizendo que seu governo está à disposição dos gaúchos e enviando o chefe da Defesa Civil e dois Ministros para sobrevoar a região, enquanto ele prioriza garantir em Brasília sua reforma ministerial que poderá acomodar no governo inclusive os reacionários PP e Republicanos. Até mesmo o governo do RS reclamou da demora do governo federal em enviar aeronaves para o auxílio do resgate imediato das vítimas ilhadas pela enchente. E a demora nesses casos custa vidas: há relatos de famílias que perderam seus entes justamente por não haver resgate a eles antes que a chuva os arrastasse junto da casa. “Eu tentei segurar eles e alguma coisa bateu na minha cabeça e eu não consegui segurar e a correnteza levou eles e eu fiquei trancado em uma árvore", relata um morador de Lajeado que perdeu sua esposa e dois filhos bebês pela enxurrada. Esse é o retrato mais cruel e criminoso que o descaso dos governos pode gerar. Junto a isso, o governo Lula-Alckmin tampouco preocupa-se em garantir desde já a prevenção a futuras tragédias ambientais, mas sim em garantir um novo teto de gastos, como é o Arcabouço Fiscal, que afeta centralmente o investimento nos serviços públicos e áreas que podem atuar nessas situações.

Diante de tudo isso, ainda vemos algumas grandes mídias noticiando o ocorrido como uma tragédia puramente “natural”. Não há nada de natural em eventos climáticos extremos cujos trágicos efeitos na vida da população poderiam ser minimizados com monitoramento, prevenção e planejamento racionais. São sempre os setores mais vulneráveis que sofrem mais com esses efeitos. E se é verdade que ciclones em si são um fenômeno da natureza, também é verdade que os ciclones extratropicais que estamos vendo ocorrer nessa frequência e intensidade não são normais. Há estudos já comprovando que este tipo de acontecimento é uma consequência do aquecimento dos oceanos, já que se formam em áreas de baixa pressão e maior temperatura, que influenciam diretamente no fenômeno El Niño, levando a eventos cada vez mais extremos. Essa é uma tragédia construída diariamente pelo capitalismo, que com suas práticas predatórias leva a humanidade ao colapso ambiental. Não à toa estamos vendo outros fenômenos extremos acontecendo em várias partes do mundo. Por isso, para ser consequente na luta contra a crise climática, é preciso lutar pela destruição do capitalismo, antes que ele destrua o planeta!

A triste situação que está acontecendo no RS levou a uma comoção geral da população e diversas ações de solidariedade às famílias atingidas estão ocorrendo. Essa solidariedade precisa se aprofundar, com os sindicatos e movimentos sociais sendo linha de frente em organizar brigadas de estudantes e trabalhadores para auxiliar as regiões afetadas, com recursos garantidos integralmente pelo Estado para manter seu funcionamento. Basta de naturalizar essas situações! É preciso uma resposta contundente, e isso só virá a partir da classe trabalhadora organizada em luta, pois se depender do Estado e desse governo, novas tragédias irão ocorrer. Nos próximos dias está previsto mais chuva no estado, o que agravará ainda mais a situação. É preciso impor na luta um plano de emergência que garanta a segurança da população, abrigando os que perderam suas casas e disponibilizando espaços seguros para quem está em áreas mais vulneráveis. É preciso também garantir indenizações para que todos os atingidos possam reconstruir suas vidas. Aliado a isso, lutar por um plano de obras públicas gerido e controlado pelos trabalhadores para realizar adequações estruturais nas cidades, prevenindo enchentes e garantindo moradia digna a toda à população. Essas medidas têm que ser financiadas pela cobrança e confisco de bens dos sonegadores, pela taxação das grandes fortunas e pelo não pagamento da dívida pública estadual e federal. Que os capitalistas paguem pela crise que eles criaram, não a classe trabalhadora e a população! Nós do MRT e do Esquerda Diário colocaremos todas as nossas forças nessa batalha em solidariedade a todas as vítimas e seus familiares. Basta de vidas perdidas pelos desastres capitalistas!




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