×

Professores SP | Eleições da Apeoesp: o enfraquecimento do sindicato e a batalha da oposição

Depois de seis anos, o sindicato dos professores de São Paulo, a Apeoesp, realizou eleições no último fim de semana, num contexto marcado por diversos ataques à educação, aos trabalhadores e a toda a população. A eleição aconteceu durante os primeiros meses da gestão de um governo de extrema direita em São Paulo, nos quais houve um aumento da violência policial e o agradecimento por parte de Tarcísio de Freitas a isso com um acréscimo de 20% aos salários da Polícia Militar. Enquanto isso, houve corte de verbas na educação camuflado com o fechamento de centenas de salas de aula e a demissão de muitos professores contratados, demonstração de qual caminho o governo de SP segue. Nacionalmente, a eleição aconteceu logo após o novo teto de gastos de Haddad e Lula ter sido aprovado e na iminência de um dos maiores ataques aos povos indígenas da história: o marco temporal, que foi aprovado nesta terça-feira.

sexta-feira 2 de junho de 2023 | Edição do dia

Numa eleição marcada por uma fraude histórica e por procedimentos ultra-burocráticos, o PT venceu mais uma vez, agora em aliança com a maioria das correntes do PSOL e com o PCB que romperam com a oposição. Assim, cumpriram o papel de entregar nas mãos de uma das maiores burocracias do país toda a diretoria do sindicato, que pela primeira vez em décadas passa a ser composta por uma única chapa, além de regiões inteiras que antes resistiam elegendo sempre as oposições. Nada mais distante da necessária organização da nossa categoria contra os ataques mencionados do que a forma como ocorreu essa eleição e o seu resultado de 82% para Fábio, Bebel e Chapa 1.

O resultado foi comemorado pela Bebel e pela Chapa 1 como uma grande vitória sobre a oposição, insinuando que tal vitória foi ter acabado com a oposição ao ser fagocitada pela Articulação Sindical e a CTB, e apresentando esse resultado como expressão de um sindicato mais unido e fortalecido. Esse discurso escancara o cinismo com que a direção petista conduziu as eleições do início ao fim e o papel lamentável que as correntes Resistência, MES e Unidos/RS, todas do PSOL, estão cumprindo ao abandonar a oposição (ainda que isso não seja uma surpresa, visto que já integram o governo Lula/Alckmin).

O próprio resultado oficial mostra o absurdo desse discurso. A queda brutal do quórum que foi sentida em cada escola e em cada urna, parcialmente mascarada pelas fraudes, mostra o nível do desgaste acumulado por um sindicato controlado burocraticamente pelo PT, que aumentou seu nível de controle e distância da base nas últimas décadas. Só que esse resultado é ainda pior na realidade, pois as inúmeras denúncias realizadas pelas oposições mostram que o nível de fraude foi ainda maior este ano. Um sem-número de manobras foram escancaradas na apuração do sábado, 27 de maio.

Depois de uma campanha toda feita em nome da defesa e do fortalecimento do sindicato para enfrentar o governo, com algumas das principais figuras da oposição se unindo a corrente majoritária, o resultado é uma boa notícia para o governo Tarcísio e uma má notícia para a categoria de professores e toda a classe trabalhadora. Se conforma agora como um sindicato ainda mais controlado pelo imobilismo e pela adesão inconteste ao governo federal, com a CUT ocupando cargos nele e defendendo com Lula a manutenção de todas as reformas e ataques aprovados depois do golpe institucional de 2016 - enfrentado pelos professores que se mostravam dispostos a lutar, mas que foram abandonados pelo PT e as centrais sindicais. O fato de Tarcísio de Freitas ser o governador de SP hoje mostra o quanto foi e é ilusória a ideia de enfrentar a extrema direita em frentes eleitorais com a direita, como fez Lula com apoio do PSOL.

Em cada escola pudemos sentir a força dos professores, uma categoria atacada sistematicamente pelo golpe institucional, e o rechaço à direção majoritária, Bebel e sua corrente, o que gerou ceticismo e desfiliação em massa nos últimos anos - ainda que os anos de bolsonarismo tenham de alguma forma preservado o petismo da direção da Apeoesp, já que a educação foi forte opositora a esse governo reacionário. Mesmo assim, os 82% da vitória da Chapa 1, Fábio, Bebel e da ex-oposição de maneira nenhuma significa aceitação da base e das escolas aos métodos e práticas dessa direção, que ano após ano abandona nossa organização e nossas lutas em detrimento de uma ilusão no sistema judiciário e nos acordos parlamentares, terrenos onde perdemos todos os direitos conquistados historicamente por uma categoria que sempre foi uma força política em SP.

Bebel comemora, mas à sua volta deixa em ruínas a organização sindical dos professores de São Paulo. É mentiroso o discurso de que a vitória da Chapa 1 fortalece o sindicato e os professores. A Chapa 1 pode dizer isso nas suas redes sociais, mas no chão da escola a realidade fala, ou grita, por si.

São grandes os desafios que teremos pela frente, com a continuação do Novo Ensino Médio, com a implementação da nova carreira pelo governo Tarcísio, com o fechamento sistemático de salas e o aumento de mais de 20% para a polícia militar, num sinal bem contundente do que vem pela frente. O sindicato, por outro lado, está mais débil do que nunca, por conta do baixo quórum das eleições, do desgaste da direção, do enfraquecimento da oposição causado pela adesão do PSOL à chapa da burocracia petista. Em última instância, a adesão a uma política que permite que o marco temporal seja aprovado, uma política que se volta como raio contra toda a população e principalmente os povos indígenas, só fortalece justamente o agronegócio e a extrema direita, que sustentam o governo de SP.

A Chapa 2 é um ponto de apoio para a reorganização do movimento de professores

Foi vergonhoso o papel que o PSOL cumpriu nessas eleições e cumprirá nas batalhas que virão nas próximas semanas e meses. Está sendo um grande custo político, pela aliança com o PT, para a categoria. Está prestando um serviço à burocracia ao deixar a oposição de fora da diretoria pela primeira vez em décadas, formando uma diretoria de chapa única sem participação proporcional das demais chapas.

Mas também temos que ter clareza dos pontos de apoio que conquistamos nessa eleição. Em algumas subsedes importantes e tradicionalmente opositoras, a Chapa 2 venceu. Foi o caso da subsede de Santo André, uma cidade com papel e importância histórica para o movimento operário brasileiro e que agora contará com essa subsede para organizar as lutas contra os ataques e pela retomada do nosso sindicato para as nossas mãos. Também tivemos importantes vitórias nas subsedes Lapa e Mauá, além de regiões em que a Chapa 2 conseguiu alcançar ótimas votações apesar das fraudes. É o caso da subsede Norte de São Paulo, uma subsede central para a Articulação Sindical da CUT na Apeoesp, onde a oposição conseguiu uma alta votação de 35% para o Conselho Estadual de Representantes, o que significa 7 conselheiros estaduais eleitos, sendo estes também conselheiros regionais. Onde a base da oposição teve a oportunidade de votar na Chapa 2 e foi possível uma mínima fiscalização das urnas, o resultado mostra que grande parte dos apoiadores do PSOL não acompanhou a aliança com Bebel.

O Movimento Nossa Classe na última década desenvolveu um persistente trabalho de base em cada região em que atua, e como consequência dessa atuação levou para o processo de construção da Oposição Combativa e da Chapa 2 Oposição Unificada Combativa importantes debates políticos e programáticos. Alguns deles são: a necessidade de termos um sindicato com independência política do governo Lula/Alckmin, a rotatividade dos diretores liberados para que nenhum diretor siga encastelado no sindicato, a bandeira fundamental da efetivação dos professores contratados para combater a precarização e a divisão política da categoria, e a exigência de que as burocracias sindicais saiam da paralisia e organizem a luta contra o Novo Ensino Médio e todas as reformas, bem como, em SP, a luta contra a nova carreira, o fechamento das salas de aula e pelo fim da perseguição política aos professores e ativistas.

Foi uma importante construção de mais de 20 agrupamentos políticos e vários ativistas, como PSTU, CST, POR e outros. Estivemos na vice-candidatura, com a companheira Flávia do PSTU como cabeça de chapa. A Chapa 2 foi uma importante demonstração da necessidade impreterível de uma real oposição no sindicato, e atuamos nela apesar das diferenças que também temos em temas importantes como o golpe institucional de 2016 no Brasil, as caracterizações sobre a Guerra da Ucrânia e em relação à bandeira da efetivação dos contratados e terceirizados, sem a necessidade de concurso público.

Apesar de ter sido vetada para a direção do sindicato, não pela categoria, mas pelos métodos burocráticos e fraudulentos de uma direção enfraquecida e deslegitimada, a nova oposição manteve subsedes e posições importantes no ativismo. Com uma política correta de independência de classe em relação aos governos, essas posições podem ser um ponto de apoio para reerguer o movimento de professores e apontar o caminho da organização de base, para que ocorram reuniões e assembleias democráticas e para a retomada do sindicato no enfrentamento às reformas e aos ataques do governo estadual e federal.

A política do Nossa Classe a luta pela unidade da classe trabalhadora

Apesar do nome, “Uma Apeoesp Unida”, a política da Chapa 1 divide a categoria ao esvaziar e burocratizar as reuniões de representantes e assembleias e enfraquece o sindicato com sua política institucional e de conciliação, mais ainda num momento em que o PT retorna ao governo federal. A diretoria, agora 100% na mão da Chapa 1, será muito mais uma representação do governo Lula no movimento sindical do que uma ferramenta de luta e organização da base.

A Chapa 2 nessas eleições representou aqueles que mais consequentemente querem combater o bolsonarismo (o que exige independência de classe frente ao governo Lula) e batalhar pela recuperação do sindicato numa situação difícil. Como parte da oposição, a corrente Nossa Classe - Educação esteve na linha de frente da luta contra a integração do nosso sindicato ao governo do PT e batalhou por um programa de unidade da categoria e do conjunto da classe trabalhadora, que parte do elemento mais fundamental, abandonado pelo nosso sindicato: a luta para acabar com a divisão da categoria através da efetivação de todos os categoria O e demais contratados, para que tenham os mesmos direitos dos efetivos, e que o sejam sem a necessidade de passar no concurso, uma vez que já realizam o trabalho nas escolas tal como os efetivos. Além disso, também colocamos como tema central a exigência para que as burocracias sindicais, como a CUT e CTB, organizem de fato a nossa classe, com plano de luta, paralisações e greves construídas na base.

Junto com essa batalha, que vai muito além dos muros das escolas, levamos nossa campanha em defesa da organização de base em cada escola e pela construção da unidade que pode ser capaz de defender a educação e levar à frente a luta contra todos os ataques: a da comunidade escolar, de professores e funcionários com seus alunos e as famílias, e dessa com o conjunto da classe trabalhadora, a começar pelas lutas em defesa da educação e dos salários que estão sendo travadas no Rio de Janeiro, no DF e em vários estados.

Dentro do cenário de enfraquecimento do sindicato provocado pela política de décadas de controle burocrático do PT, agora apoiado pelo PSOL, a boa notícia pra categoria é que existe uma oposição que batalhará. O Movimento Nossa Classe - Educação, fortalecido pela vitória em Santo André e com os resultados importantes da oposição na Zona Norte e em Campinas, busca se apoiar no sentimento aguerrido dos professores no chão da escola para organizar a luta contra os ataques em curso e pela reorganização do nosso sindicato a partir de uma política de independência de classe. É nesse sentido que como parte da majoritária da nova gestão da subsede de Santo André faremos todos os esforços para que a subsede dessa importante cidade sirva de aglutinador e exemplo para a nossa categoria, se unindo à comunidade escolar e a outras categorias para enfrentar a paralisia da Apeoesp e das burocracias sindicais, impor planos de luta contra Tarcísio de Freitas e seus ataques e contra a política de conciliação de classes do PT e suas medidas recém aprovadas pelo governo Lula, como o arcabouço fiscal e o marco temporal.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias