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Genocídio em Gaza | Hospital Al-shifa em Gaza: morte, devastação e mentiras

quinta-feira 4 de abril | Edição do dia

Sob pretexto de lutar contra os membros do Hamas e a Jihad Islâmica, o exército de Israel destruiu totalmente o complexo hospitalar mais importante de Gaza. Novamente mais um crime atroz.

Duas semanas de pura destruição, devastação e morte. Em meados de março, o Exército de Israel sitiou de surpresa o complexo hospitalar Al-Shifa em Gaza antes de se retirar na segunda-feira. As imagens mostram as perdas materiais. Al-Shifa está completamente inoperante, para não dizer irrecuperável. Todos os edifícios foram atingidos pelos confrontos, bombardeios e os criminosos incêndios. Mas Al-Shifa não estava vazia quando as forças israelenses lançaram seu ataque. O exército israelense, que se alegrou com este macabro espetáculo, declarou ter matado 200 combatentes palestinos durantes os 15 dias que durou a operação; também foram detidos 900 suspeitos, das quais alguns foram enviados a Israel. As autoridades palestinas contabilizaram 300 mortos, muitos deles civis.

Entretanto, o exército de Israel afirma que sua operação ocorreu sem causar vítimas entre a população civil nem entre a equipe médica. Uma verdadeira mentira. A OMS tem declarado que pelo menos 21 pacientes morreram durante os 15 dias de sítio. Ao mesmo tempo, o dr. Ahmad Al-Maqadmeh e sua mãe Yousra, também médica de Al-Shifa, foram encontrados mortos nas ruínas do hospital. Além disso, muitos relatos de testemunhas oculares e de imagens mostram cadáveres, incluindo de crianças. Cadáveres carbonizados, corpos visivelmente esmagados por tanques ou escavadeiras israelenses, parte de corpos, esqueletos. O horror destes crimes superam as distopias mais monstruosas do cinema contemporâneo.

O complexo hospitalar já havia sido atacado em novembro do ano passado pelo exército israelense. Segundo o relato oficial das autoridades israelenses, as tropas armadas de Hamas e outras organizações da resistência palestina haviam estabelecido seu quartel general no hospital. Apesar das duas supostas ocupações nas instalações, o exército de Israel nunca conseguiu apresentar provas de suas afirmações. Não importa. Estas declarações só serviram para legitimar o bombardeio de hospitais palestinos, e deve se dizer que a imprensa ocidental desempenhou um papel importante estabelecendo esta narrativa falsa e criminosa.

Na verdade, um dos objetivos do exército israelense parece ser o de fazer Gaza inabitável, inclusive depois do fim da guerra. A destruição de hospitais na Faixa de Gaza é, neste sentido, um ponto chave para alcançar este objetivo. Mobilizaram todos os recursos militares, políticos e ideológicos possíveis para justificar a devastação material e das vidas humanas. O médico noruego Mads Gilbert, que trabalhou no Al-Shifa, reagiu à operação de Israel no Al-Jazeera da seguinte maneira: “Se o hospital mais importante de seu país fosse atacado por um exército invasor com a verdadeira intenção de destruir o hospital e matar a população, eles não defenderiam seus arredores? Não acha que seu exército deveria defender o hospital mais importante para a população? Claro, eles tentaram defendê-lo, mas não ouvi falar de combatentes dentro do hospital de Al-Shifa, mas não se esqueçam que este é o segundo sítio de Al-Shifa. Quando o invadiram pela primeira vez, não tinham nenhuma evidência da existência de instalações militares, não encontraram nada. Repetem suas mentiras porque necessitam delas para atacar todos os demais hospitais de Gaza. Você sabe, dos 35 hospitais, quase todos foram atacados, até mesmo sem desculpas de serem um centro de comando militar. Portanto, isto é uma mentira e vai além do âmbito da questão, porque o que eles estão fazendo é destruir a infraestrutura palestina, sua vida e sua sociedade”.

Muitos temem que o próximo objetivo seja o hospital Al-Aqsa, onde, no fim de semana, se atacou tendas em um acampamento de refugiados, matando várias pessoas. Estes mortíferos ataques poderiam ser uma preparação para o assalto à cidade de Rafah, lar de mais de um milhão de refugiados segundo a ONU. Uma operação que o governo vem prometendo há várias semanas e que poderá ser catastrófica.

Entretanto, as aberrações do exército israelense em Gaza não deixam um segundo de respiro, já que a cada crime se sucede outro. Menos de 24 horas depois da retirada do exército israelense de Al-Shifa, descobriu-se que sete trabalhadores humanitários haviam sido assassinados pelo exército israelense. Desta vez, porém, o governo de Benjamin Netanyahu se encontrou na defensiva, porque entre os assassinados havia vários cidadãos ocidentais de países que apoiam a guerra de Israel.

É claro que não é a primeira vez que Israel mata os trabalhadores humanitários (médicos, periodistas, civis e crianças) no curso de sua guerra, mas este incidente chega a um momento ruim para Netanyahu. Após quase 6 meses de guerra sangrenta, a pressão dos governos imperialistas começa a se expressar publicamente. Internamente, a aliança do Netanyahu com a extrema-direita está ameaçada pela pressão de um setor crescente na sociedade que exige o fim das isenções que permitem os judeus ortodoxos a não prestar o serviço militar, e, portanto, não serem enviados para lutar em Gaza; também há pressão das famílias dos reféns, que no sábado iniciaram um movimento para exigir um cessar-fogo e um acordo de libertação para os israelenses que seguem sequestrados em Gaza.

Lamentavelmente, estas manifestações de um amplo setor da população de Israel realmente não levam em conta o sofrimento dos civis palestinos. Centram unicamente na questão da libertação dos reféns israelenses. A movimentação geral de direita da sociedade israelense sobre a questão palestina durante os últimos 15 anos e o trauma causado pelo ataque de 7 de Outubro tem criado um certo consenso na necessidade de travar esta guerra, enquanto desumanizam os palestinos e reforçam a legitimidade do colonialismo. Há muito pouco espaço para vozes críticas que também levem em conta o sofrimento dos palestinos e que considerem, ainda que timidamente, algumas das reivindicações parciais dos palestinos.

Na verdade, é esta situação que permite Netanyahu ganhar tempo e tentar manter uma aparência de unidade nacional através de ataques atrozes contra a população palestina em Gaza, como em Al-Shifa. Não é certo de que isso seja suficiente. É provável que a necessidade de Netanyahu de perpetuar a guerra para permanecer no poder e escapar de problemas legais leve-o ao limite de flertar com a eclosão de uma guerra regional, como demonstra os assassinatos de funcionários de alto escalão do exército iraniano na Síria por bombardeios israelenses.




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