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8M | O movimento de mulheres que mostrou sua força em todo o mundo pode retomar sua origem revolucionária?

Neste mês de março aconteceram protestos em defesa dos direitos das mulheres em todo o mundo. O Pão e Rosas esteve presente em diversas cidades para travar uma luta intransigente contra o capitalismo e o patriarcado no Dia Internacional da Mulher. No momento em que assistimos a um genocídio levado adiante pelo Estado sionista de Israel em pacto com as potências imperialistas que financiam o assassinato de milhares de mulheres palestinas, é de extrema importância que o movimento de mulheres resgate seu caráter anti-imperialista e revolucionário.

Marina EstrelaEstudante de Letras da UFRN e militante da Faísca Revolucionária

EnneEstudante de BCH/Filo/RI na UFABC e militante da Faísca Revolucionária

terça-feira 19 de março | Edição do dia
Foto: Alejandro Villa - La Izquierda Diario

Foi nesse mesmo 8 de março que, em 1917, as mulheres trabalhadoras da Rússia se impuseram em uma forte greve geral que funcionou como o estopim da Revolução Russa, a mesma que mudaria a história mundial. A partir dela, se forjou um movimento que trazia à frente as demandas de todo o conjunto da classe trabalhadora: uma bússola política para a emancipação humana. Como dizia Kollontai: “A história da luta das mulheres trabalhadoras para melhorar as suas condições de trabalho e garantir uma vida mais digna é a história da luta do proletariado pela sua libertação.”

O grupo internacional de mulheres e LGBTQIAPN+ feministas socialistas Pão e Rosas esteve nas manifestações ao redor do mundo, como na França, onde mais de 1 mil pessoas (500 dessas somente em Paris) saíram às ruas para defender uma perspectiva feminista de luta de classes junto ao Pão e Rosas contra o aumento dos projetos de militarização do governo Macron e do imperialismo francês.

O Revolución Permanente, partido irmão do MRT, que compõe a Fração Trotskista pela reconstrução da IV Internacional, no início do mês de março fez uma Conferência em Paris colocando a necessidade das mulheres se organizarem sob a bandeira de uma revolução que coloque um limite aos interesses da burguesia que se prepara militarmente para a guerra, reatualizando a análise de Lênin sobre vivermos uma época mundial de crises, guerras e revoluções, o que mostra a própria guerra na Ucrânia e a situação da Palestina, que sofre o maior genocídio deste século. Pelos bombardeios e pelas balas do Exército de Israel, mais de 30 mil pessoas já foram assassinadas. A ONU adverte que mais de 500 mil palestinos podem morrer de fome no próximo período. As mulheres e as crianças são 70% das vítimas fatais. A taxa de abortos espontâneos em Gaza aumentou em 300% e a assistência médica entrou em colapso quase totalmente devido à destruição das clínicas pelo exército israelense que atua junto do imperialismo estadunidense com o apoio do imperialismo europeu.

Frente a isso, cresce o maior movimento antiguerra desde a guerra do Vietña, contra o genocídio em Gaza, junto de uma nova onda da luta de classes com a retomada de um caráter operário, no qual trabalhadores fecham portos e barram empresas que distribuem armamento ao Estado sionista de Israel, mostrando a força que reside na classe trabalhadora e sua capacidade em barrar a atrocidades do imperialismo.
O Trotskismo cresce na Europa e com isso se relocaliza a organização da classe trabalhadora em torno das ideias revolucionárias, bem no coração do imperialismo europeu, lutando por uma Palestina livre. Sasha Anxty, militante do Revolución Permanente e Du Pain et Des Roses, menciona a relevância histórica que tem o movimento feminista: “Eles temem que o feminismo esteja emergindo da estagnação liberal, retornando às suas raízes socialistas, às lutas das mulheres russas que em 1917 fizeram a revolução e foram as primeiras a arrancar o aborto legal.”

No Estado espanhol as ruas foram tomadas no 8 de Março em meio a um movimento antiguerra que protagonizou até mesmo greves estudantis. O Pan y Rosas saiu às ruas por um movimento anticapitalista, anti-imperialista e classista.

Em Berlim, mais de 10 mil pessoas saíram as ruas em defesa das lutas da mulheres, contra as desigualdades salariais, contra a ascensão da extrema direita e em solidariedade ao povo palestino. No mesmo dia em que milhões de pessoas em todo o mundo saíram às ruas contra a opressão do patriarcado, a polícia de Berlim atacou os manifestantes. No final do dia houve até manifestantes que foram detidos. O Klasse Gegen Klasse, partido irmão do MRT participou com seu próprio bloco enfatizando a necessidade de combinar a luta feminista e sindical com a luta contra a guerra e o genocídio em Gaza.

Na América Latina houve blocos do Pão e Rosas em diferentes países como no Peru, Chile, Uruguai e México. Em Antofagasta estava colocada uma mensagem bem clara por um basta de acordos com a direita e com os grandes empresários. Manifestações em massa ocorreram em Montevidéu e em várias cidades do país. Havia cartazes contra a violência patriarcal, contra o genocídio na Palestina e em defesa de todos os direitos conquistados. Na Ciudad de México marcharam mais de 1500 mulheres com o Pan y Rosas denunciando a operação policial e militar do governo contra os atos desse dia, reivindicando a liberdade cultural, política e sexual para todas as mulheres. Contra a violência do Estado e demonstrando que a raiva dos movimentos sociais está se intensificando, pela desigualdade causada pelo capital, pelo patriarcado, pelas guerras, pelo racismo e por genocídios como o que está ocorrendo no território palestino.

Já no Brasil, o grupo internacional de mulheres e LGBTQIAPN+ feministas socialistas Pão e Rosas atuou em diversas manifestações em todo o país para lutar contra a violência de gênero e a precarização do trabalho com independência dos governos e patrões. Em um momento em que as taxas de feminicídio atingem recordes, subindo em 1,6% desde 2022, de acordo com o relatório publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), e as mulheres ocupam as posições mais precárias de trabalho, em especial as mulheres negras que enfrentam diariamente a realidade racista herdada por mais de 300 anos de escravidão e que mantém as bases do funcionamento do Estado burguês.

Enquanto o governo Lula-Alckmin aponta como alternativa a própria gestão da crise capitalista e sua democracia burguesa, ao mesmo tempo que se alia com nossos inimigos da direita, como demonstra o cancelamento dos atos em repúdio a ao golpe de 64, por parte do Governo Federal, atacando a memória das vítimas e buscando agradar esse setor que sustenta grande parte das forças da extrema-direita no país e perpetuam os assassinatos sistêmicos à juventude negra e periférica. Além disso, o governo mostra sua face demagógica ao denunciar o genocídio em Gaza ao mesmo tempo em que mantém todas as relações com Israel, fechando um contrato milionário desde a Força Aérea Brasileira (FAB) com uma empresa de drones israelense, alta tecnologia bélica que é testada no assassinato de mulheres, crianças e trabalhadores na Palestina.

Frente a tudo isso, é imprescindível que nós depositemos nossas confianças apenas na força da nossa mobilização! No movimento de mulheres que tomou as ruas do Brasil neste 8 de março em cidades como Natal, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e em São Bernardo do Campo, com independência dos governos e dos patrões!

Assim como nos mostra as mulheres na Argentina, onde dezenas de milhares de mulheres saíram às ruas para demonstrar suas forças diante dos ataques do governo de Milei contra a classe trabalhadora que se levanta cada vez mais forte, enquanto as mulheres são parte inseparável da luta contra a extrema-direita. Com Myriam Bregman compondo as fileiras dos protestos do dia 8 em Buenos Aires, dando um exemplo de parlamentarismo revolucionário na luta por uma nova sociedade, unindo as reivindicações pela liberdade civil, pelos direitos democráticos, pelas rosas, mas também pelo pão: pelas condições de trabalho e salário dignos. Contra a precarização e contra a miséria do capitalismo que assola a vida de milhares de mulheres.

Essas foram algumas das ideias que as Feministas Socialistas do Pão e Rosas defenderam ao redor do mundo, independente do continente, trabalhadoras e estudantes batalhando para que cada reivindicação democrática do movimento de mulheres seja ponto de partida para o questionamento profundo da sociedade de exploração e opressão!




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