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Musk X Moraes | O que expressa o embate entre o bilionário de extrema direita Elon Musk e Alexandre de Moraes?

No último final de semana, o bilionário de extrema direita Elon Musk, a partir da rede social que é proprietário o X, acusou Alexandre Moraes de censura e ameaçou reativar perfis da plataforma que foram bloqueados por decisão de inquéritos do STF. Em resposta, o ministro do Supremo ordenou que o X seja multado caso qualquer dos perfis bloqueados sejam reativados e também incluiu Musk como investigado no inquérito das milícias digitais. O conflito segue durante esse início de semana. Mas o que expressa o embate entre o bilionário de extrema direita Elon Musk e Alexandre de Moraes?

Sergio AraujoProfessor da rede municipal de São Paulo e integrante do Movimento Nossa Classe Educação

quarta-feira 10 de abril | Edição do dia

Folhapress/Reuters

Um dos principais temas políticos no país desde o final de semana é o conflito entre o bilionário de extrema direita, uma das pessoas mais ricas do mundo, Elon Musk, e Alexandre de Moraes, o primeiro ministro do STF escolhido a dedo pelo golpista Temer. O palco desse conflito é rede social X, antigo Twitter, e entre sábado e domingo Musk acusou Moraes de censura e ameaçou reativar perfis da plataforma que foram bloqueados por decisão de inquéritos do STF. Em resposta, o ministro do Supremo ordenou que o X seja multado caso qualquer dos perfis bloqueados sejam reativados e também incluiu Musk como investigado no inquérito das milícias digitais. Nessa segunda-feira Musk afirmou na plataforma que Moraes é um ditador e que veste uma coleira com nome Lula, e que ajudou a tirar o atual presidente da cadeia.

A reação nas bases bolsonaristas não podia ser outra: se agruparam em torno da defesa de Musk e atacando Moraes. O próprio Bolsonaro publicou vídeo descrevendo o bilionário como “mito de nossa liberdade”. Da outra parte vemos uma reação do progressismo e setores da esquerda em defesa do ministro do STF e de um controle mais rigoroso sobre as plataformas de redes sociais no país. Um exemplo é Juliano Medeiros, ex-presidente do PSOL, que ecoou o próprio discurso de Moraes “aqui não é terra sem lei”.

Mas agora a questão que nos fica é: o que expressa esse confronto entre Musk e Moraes?

De um lado Musk, que segundo a última listagem da Forbes aparece como a segunda pessoa mais rica do mundo, é um dos principais representantes do imperialismo estadunidense hoje. É proprietário ou possui participação em várias empresas, com atuação global, em diversos ramos como a Tesla, Space X, OpenAI que controla o chat GTP além do próprio X, antigo Twitter, que diga-se de passagem assumiu colocando milhares de trabalhadores na rua. Musk é porta-voz dos interesses imperialistas e em 2020, à época do golpe cívico-militar-religioso apoiado pelos EUA, afirmou em um tweet “Vamos dar golpe em quem quisermos. Lide com isso!”, uma alusão bastante clara de como não tem qualquer pudor para fazer valer seus interesses, o que inclui apoiar golpes. A Bolívia tem uma das maiores reservas de lítio do mundo, minério fundamental para o negócio de carros elétricos de Musk. O empresário é uma das principais figuras da extrema direita do mundo, apoiador de Trump, desde que se tornou proprietário do Twitter reativou uma série de contas, de perfis de extrema direita, que estavam bloqueadas. Não à toa Musk joga mais água no moinho dos bolsonaristas.

Do outro lado Alexandre de Moraes, o STF e seus ministros que vivem como milionários e não foram eleitos por ninguém. Eles estão longe de serem um ponto de apoio para os interesses dos trabalhadores, muito pelo contrário, grassam exemplos demonstrando que quando se trata de atacar nossos direitos em favor dos patrões o Moraes e o STF cumprem seu papel. Foi assim dando aval para as reformas trabalhista e da previdência, foi assim para garantir a prisão de Lula às vésperas do pleito de 2018, que Moraes votou a favor. Além disso a justiça frequentemente está do lado dos patrões e governos para reprimir trabalhadores colocando greves na ilegalidade, como foi com os servidores de Florianópolis recentemente.

Em choque com a narrativa bolsonarista, Moraes votou junto com os demais ministros empossados por Bolsonaro a favor do Orçamento Secreto, o mecanismo fundamental na governança do ex-presidente, e em 2022 foi o próprio Moraes que chamou os militares a tutelar juntos os resultados eleitorais. Ou seja, não podemos confiar no bonapartismo judiciário e Alexandre de Moraes para combater efetivamente a extrema direita e o bolsonarismo, pois hoje miram em algumas figuras e poupam outras, como as altas cúpulas dos militares. As próprias medidas de controle das redes, bloqueio de contas em redes sociais e inquéritos levantados contra figuras da extrema direita podem e vão, a qualquer momento, se voltar contra a esquerda e os trabalhadores quando se colocarem em luta. Afinal de contas, reprimir e criminalizar atos, greves de trabalhadores ou movimentos sociais é o papel histórico que as instituições, como o STF, cumprem.

Como pano de fundo desse embate estão as eleições americanas. Elon Musk como parte da burguesia alinhada com a extrema direita a nível internacional, que como parte da campanha do favorito Trump, programa seus algoritmos para garantir que as ideias reacionárias desse setor cheguem mais longe no X e alentem o bolsonarismo no Brasil. Não à toa o bolsonarismo se apressou em apoiar o empresário e disseminar mentiras. Por outro lado, Alexandre de Moraes, como parte da frente ampla, alinhado com Biden, busca se reafirmar como suposto defensor da democracia, querendo expressar uma postura ’exemplar’ contra a extrema direita. Vale lembrar que Biden tem sustentado a política do imperialismo americano inclusive em situações externas, como por exemplo no massacre contra o povo palestino. De fundo, Moraes também busca reafirmar a legitimação do regime político alcançada pela frente ampla, com Lula e Alckmin à frente, mantendo intacta toda a herança bolsonarista de reformas e privatizações acumulada nos últimos anos.

Tanto Musk e Moraes expressam interesses de distintos setores capitalistas que, cada um a seu modo, buscam aprofundar a exploração e a opressão mundo afora. Contra a extrema direita, os ataques que esfolam todos os dias os trabalhadores e contra os interesses imperialistas que buscam espoliar nossos recursos, destruir o meio ambiente e massacrar a população indígena, não podemos ter nenhuma ilusão nas instituições burguesas como o STF. A conciliação com esses setores acaba por fortalecer a extrema direita. Exemplo disso é Tarcísio em São Paulo, que com a benção de Lula avançou na privatização da Sabesp e só não vendeu ainda mais o estado pela força dos trabalhadores. Precisamos apostar nas nossas forças com independência de classe, ou seja de forma independente do governo, do regime e suas instituições, exigindo das organizações dos trabalhadores um verdadeiro plano de lutas por nossas demandas.

Leia também: 7 momentos que STF e militares foram juntos o "poder moderador"




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