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Greve da Educação | 7 lições da greve da educação em contagem (MG)

Durante 9 dias os professores e administrativos paralisaram suas atividades em greve contra a falta de reajuste salarial, fechamento de turmas e pelo preenchimento das vagas ociosas de professores que o governo de Marília Campos/ Ricardo Faria (PT/MDB) se negou a garantir. Nós do Nossa Classe Educação compartilhamos então 7 lições que consideramos fundamentais para seguir a luta.

Júlia SantanaProfessora da rede municipal de Contagem

sexta-feira 5 de abril | Edição do dia

1. A DISPOSIÇÃO DE LUTA DOS TRABALHADORES PARA ARRANCAR O REAJUSTE E DIREITOS NEGADOS PELO GOVERNO MARÍLIA CAMPOS (PT) E RICARDO FARIA (MDB)

Após alguns anos sem greve, os trabalhadores da educação de Contagem deram mostras da sua força. A greve que teve adesão de cerca de 80% das escolas da rede municipal foi levada à frente com um papel determinante do quadro administrativo que deflagrou greve e paralisou suas atividades com uma adesão de 100% em algumas escolas, chamando os professores a paralisarem juntos, e com mostras de organização desde a base de professores que promoveram ações de panfletagem à comunidade escolar na porta das escolas

2. A POLÍTICA DE CONCILIAÇÃO DE CLASSES FORTALECE A EXTREMA DIREITA

A educação é um alvo para reacionários de plantão, fazendo dos professores e estudantes reféns de todo seu ódio misógino, transfóbico e racista, como o caso que ocorreu na Escola Municipal Geraldo Basílio, em Contagem/MG, durante uma atividade de 8 de março, dia internacional da mulher, em que atacaram a escola sob o discurso falacioso de “ideologia de gênero”. Não tardou, e o governo de Marília Campos soltou uma nota fazendo coro com a extrema direita e condenando a equipe escolar por extrapolar os “consensos”

Diante do ataque odioso, longe do combate ao conservadorismo persecutório de extrema direita, o que primou novamente foi a política de conciliação com a extrema direita em detrimento da defesa da educação pública e dos direitos democráticos, já tão atacados por Zema e anos de governo Bolsonaro.

Esse caso é uma demonstração de como a extrema direita se fortalece com a política de conciliação de classes, política esta que é a essência da frente ampla, que nacionalmente se expressa no governo Lula/Alckmin, a qual a prefeitura de Marília e Faria (PT/MDB) é mais um exemplo.

3. RETOMAR NOSSO SINDICATO PARA A LUTA COM COMPLETA INDEPENDÊNCIA POLÍTICA DO GOVERNO MARILIA/FARIA

Durante todo o período de greve o SindUTE Contagem, que é dirigido pelo PT (mesmo partido da prefeita) e PSOL/Resistência, se limitou a ações de envios de e-mails à prefeitura pedindo encarecidamente reuniões de negociação, com a prefeitura ignorando esses pedidos de volta. Por fim a prefeita se limitou a um anúncio via Redes Sociais definindo que não faria reajuste salarial e definindo uma recomposição inflacionária de irrisórios 4,62%, que sequer serão retroativos a janeiro.

O governo Marília/Farias responde à educação como um conjunto de gastos orçamentários. Uma lógica empresarial que a prefeita expressa na sua defesa ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), o nefasto projeto de ajuste fiscal do governador Romeu Zema (NOVO) que tem como objetivo congelar salários, carreiras, concursos, além de promover privatizações e outros ataques por nove anos.

A atuação do sindicato diante da intransigência do governo se manteve concentrada em pedir e participar da reunião de negociação, defender o fim da greve diante da austeridade do governo e se reunir a portas fechadas com a Seduc em torno de acordos pedagógicos anunciados como as grandes conquistas da greve, com um áudio do Sub-secretário da Educação circulando pelos grupos dos professores comentando que ainda não havia nenhum documento protocolado sobre os acordos tratados na reunião.

O Resistência/PSOL, chegou a sentar no gabinete da prefeita para articular ações para a cidade de olho nas alianças eleitorais entre PSOL e PT para outubro, enquanto a categoria estava em greve sem ter suas demandas atendidas e com a extrema direita invadindo as escolas. Ou seja, o PSOL novamente cumprindo o papel da esquerda que o governo gosta, integraNDO a frente ampla Lula Alckmin, se preparando na cidade de São paulo para o projeto de governo junto aos capitalistas e empresários e agora em Contagem para integrar um eventual futuro governo junto com Marília Campos (PT) e sua frente ampla com partidos golpistas como o MDB de Ricardo Farias.

Ao contrário de ter nossos sindicatos atrelados a governos, prefeituras e aos patrões que são parte do financiamento dessas candidaturas, é necessário que batalhemos pela organização de trabalhadores e de nossos sindicatos com completa independência do governo e para retomar nossos sindicatos para uma política de independência de classe. Pois uma estratégia em que o porta-voz das demandas do funcionalismo público é o próprio governo é uma estratégia para a derrota.

4. A IMPORTÂNCIA DA AUTO ORGANIZAÇÃO E DIÁLOGO COM A COMUNIDADE RUMO À EDUCAÇÃO PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE

A forma mais democrática de conduzir uma greve é com a base das categorias, professores e quadro administrativo, elegendo um comando de greve com delegados (representantes) eleitos nas assembleias de cada escola, revogáveis por estas e capazes de expressar as discussões e decisões. Ao invés disso, a direção do SindUTE Contagem tratou o comando como mera formalidade protocolar, sem convocar e articular amplamente a participação dos trabalhadores, assim como manteve as nossas assembleias reféns das reuniões com a Seduc.

A auto-organização dos trabalhadores é fundamental para que a classe trabalhadora possa ser um sujeito ativo das suas lutas e na organização das suas demandas. Nesse sentido, a relação dos educadores com a comunidade escolar é central, porque permite a nossa categoria buscar influenciar a população. Este trabalho de base é estratégico pois supera o isolamento da greve que as burocracias sindicais e os governos buscam nos colocar.

5. CONTRA A DIVISÃO QUE AS BUROCRACIAS SINDICAIS IMPÕEM À NOSSA CLASSE, LUTAR PELA UNIDADE DAS LUTAS DOS TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO EM GREVE E LUTAS NACIONALMENTE: POR UMA PARALISAÇÃO NACIONAL DA EDUCAÇÃO

Os professores de Contagem se colocaram em greve pelas demandas salariais ao mesmo tempo em que ocorriam e eram deflagradas greves pelas cinco regiões no país.

Apenas em Minas Gerais, tivemos a paralisação dos trabalhadores da educação da rede estadual de Minas Gerais que convocaram uma paralisação de 48h pela campanha salarial. Ainda no início de março, mais de 600 Técnicos-Administrativos em Educação da UFMG e IFMG já haviam deflagrado greve por tempo indeterminado em defesa da recomposição salarial e contra a falta de propostas para a reestruturação do Plano de Carreira dos Cargos dos Técnicos-Administrativos em Educação. E, antes disso, os professores da rede municipal de BH travaram uma importante greve contra o governo de Fuad que também se negou a pagar o piso salarial da educação.

Em São Paulo, na semana passada, as ruas da capital paulista foram tomadas pelas professoras e professores, ATEs, agentes escolares e todo o conjunto do funcionalismo em greve contra o PL da miséria de Nunes que declarou guerra ao funcionalismo municipal, enquanto buscava avançar em seu projeto privatista de destruição dos serviços públicos.

Em todos esses casos, a estratégia do SindUTE Contagem, SindUTE MG, Sindifes, todos filiados à CUT, foi de manter as greves isoladas, com calendários próprios, ao invés de unificar as pautas e as forças, convocando atos de rua massivos com o apoio das comunidades escolares e estudantes.

É importante que nos organizemos e exijamos das direções da CNTE, da CUT e da CTB a construção uma forte mobilização nacional, desde as bases para o pagamento do piso nacional, contra o novo arcabouço fiscal e pela revogação das reformas, lutando com completa independência de governos e patrões e para responder aos ataques profundos à nossa classe.

6. PELA UNIDADE ENTRE CONCURSADOS, CONTRATADOS, FLEX E TERCEIRIZADOS: PELA EFETIVAÇÃO DOS TERCEIRIZADOS E CONTRATADOS SEM CONCURSO PÚBLICO.

Tal como Zema, o governo frente amplista de Marília Campos/Farias mantém a precarização do trabalho na rede municipal como um dos eixos da sua gestão educacional. Tanto a Flexibilização (agora ampliada pelo governo) e contratação quanto a terceirização , criam postos de trabalho precários com professores e trabalhadores da educação com dias de serviço contados com sinal verde do governo para demissões, encerramento de contrato e cortes de salário.

Pelo combate à naturalização da precarização do trabalho que dá ao governo o direito de negar o afastamento dos professores flexibilizados diante de atestados médicos, descontando os dias faltados do contracheque. E, de forma ainda mais absurda, ameaça cortar o ponto da flexibilização do professor que aderiu à greve.

Defendemos que somente a mais ampla unidade dos trabalhadores do contexto escolar poderá derrotar os ataques em curso. Não é possível que as escolas convivam com níveis absurdos de precarização do trabalho e com trabalhadores de primeira, segunda, terceira e quarta classe, como vemos representados pela flexibilização e pela terceirização das/dos trabalhadoras/es da limpeza e merenda, além monitores, que recebem um salário de fome enquanto empresas contratadas pela prefeitura de Contagem, MGS, ASSEJ e JBX mantém seus lucros milionários.

Aceitar a terceirização dentro das escolas é permitir que nosso trabalho também seja desvalorizado caminhando de mãos dadas com a uberização. Por isso, é necessária a imediata contratação das trabalhadoras terceirizadas, que em sua maioria mulheres e negras, e com os mesmos direitos dos trabalhadores efetivos, contra as provas arbitrárias dos concursos da MGS.

A defesa de um plano de carreira com iguais direitos para efetivos e contratados é uma forma de combater pela raiz um pilar da precarização do trabalho na educação. Por isso, nós do Nossa Classe não só fazemos um convite a todos os trabalhadores assinarem o Manifesto Contra a Terceirização e a Precarização do Trabalho., como a usá-lo como um instrumento de luta contra o projeto de privatização e sucateamento da educação que está colocado para nós nacionalmente atingindo professores, quadro administrativo, trabalhadoras terceirizadas, estudantes, famílias e a comunidade escolar que em grande parte também é composta por trabalhadores terceirizados, contratados, fortemente afetados pela retirada de direitos da reforma trabalhista.

7. CONHEÇA E SE ORGANIZE JUNTO AO NOSSA CLASSE EDUCAÇÃO

É fundamental que esta energia que se expressou na greve não se perca. Durante os dias de paralisação compartilhamos com nossos colegas de trabalho reflexões, críticas e propostas à condução da greve e toda esta energia e experiência deve ser evocada como a construção de uma tradição de luta a ser levada adiante.

Nós do Movimento Nossa Classe batalhamos para construir uma forte corrente de trabalhadores da educação que incentive as representações da base junto à comunidade escolar que, desde cada escola, com independência de classe, retome o sindicato como ferramenta de luta. Fomos parte de organizar ações de panfletagem na porta das escolas, de fortalecer a luta dos trabalhadores administrativos e por levar adiante a campanha contra a terceirização e precarização do trabalho na rede de Contagem e do estado.

Para nós, a batalha em defesa dos nossos direitos, e dos trabalhadores é indissociável da luta dos estudantes e dos setores oprimidos contra o racismo, LGBTfobia, machismo, capacitismo, violência policial, etc. Rumo a uma educação pública, gratuita, de qualidade, emancipatória e a serviço dos trabalhadores e de seus filhos, entoamos: Que a crise seja paga pelos capitalistas!

Se você concorda com nossas lições sobre a greve, te convidamos militar junto ao Nossa Classe Educação e avançar juntos nessa luta.




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