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Rio Grande do Norte | Enchentes em Natal são culpa do desgoverno de Álvaro Dias, mas também de Fátima Bezerra

Longe de ser um desastre puramente "natural" , mas sim um produto do descaso dos governos potiguares que governam apenas para os ricos e os capitalistas, mais uma vez, como acontece todas as vezes que ocorrem chuvas fortes, os trabalhadores e a população de Natal e cidades da região metropolitana sofrem com alagamentos em suas casas e bairros, com a chuva também afetando hospitais e meios de transporte. Álvaro Dias é completamente responsável por essa situação ao deixar incompletas as obras de drenagem que já deveriam estar prontas desde 2014, mas também de Fátima Bezerra, que vem sucateando a CAERN.

João Paulo de LimaEstudante de Ciências Sociais - UFRN

quarta-feira 29 de novembro de 2023 | Edição do dia

Foram registrados acumulados de até 240 milímetros em 24 horas, na Zona Norte da capital, de acordo com as estações pluviométricas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Até agora, pelo menos 40 pessoas estão desabrigadas. Segundo a secretária de Planejamento de Natal, Joana Guerra, a maioria desses desabrigados estavam nas proximidades da lagoa de captação do Santarém.

Segundo o meteorologista Gilmar Bristot, da Empresa de Pesquisas Agropecuárias do Rio Grande do Norte (Emparn) "200 milímetros significam 200 litros de água por metro quadrado. Então imagine o transtorno da população recebendo essa carga de água em um metro quadrado, especialmente em áreas impermeabilizadas, onde causa alagamentos".

O especialista diz que as chuvas foram causadas principalmente pela atuação do fenômeno El Niño no oceano, causando forte circulação de ventos, com o Vórtice Ciclônico de Ar superior.

"É raro acontecer esse tipo de episódio de você ter uma noite toda carregada de descargas elétricas. Nós estamos em uma faixa equatorial em que a diferença térmica não é muito alta, e você precisa ter diferença térmica, ter relevo para patrocinar a formação de nuvens cumulonimbus, para termos descargas elétricas e trovoadas. Não é comum no litoral. Nós estamos com um vórtice ciclônico atuando, estamos com o oceano atlântico com a temperatura acima do normal, liberando mais umidade para atmosfera e isso foi o que causou", explicou.

Lagoas de captação transbordaram e casas ficaram alagadas em diferentes regiões da cidade, e é possível que ocorram alagamentos e inundações nos rios e córregos. As unidades básicas de saúde da capital também tiveram o serviço suspenso nesta terça-feira (28).

Diversos moradores vêm relatando que as chuvas vêm destruindo suas casas, perdendo móveis e eletrodomésticos, e inclusive há relatos de pessoas sendo arrastadas pela força da água, mas felizmente até agora não recebemos notícias de nenhum óbito.

Em entrevista para o jornal G1, a operadora de caixa Camila de Sousa, moradora do bairro Pajuçara, disse que subiu com os três filhos na mesa de casa, ao ter a sua casa inundada.

"Assim que eu percebi que começou a encher a água, ai coloquei eles em cima da mesa e fiquei gritando por socorro. Meu portão arrebentou, não teve o que fazer", afirmou a trabalhadora.

Walter Freire, morador da Zona Norte, expressou em vídeo a sua angústia ao ter sua casa alagada após o transbordamento de uma lagoa de captação.

“A gente perdeu muitas coisas. Meu guarda-roupa praticamente não serve mais, meu armário não serve e minha geladeira tava boiando. Perdi minha documentação que estava no meu quarto. Foi embora com tudo”. Veja o vídeo:

O descaso com as chuvas também vêm afetando as famílias das ocupações Emmanuel Bezerra, no bairro da Ribeira, e Palmares, nas Rocas, que tiveram suas moradias alagadas.

"Por causa do descaso do prefeito de Natal, as famílias continuam perdendo tudo quando há chuvas mais fortes em Natal. As famílias estão nesse galpão desde 2021, quando foi alugado pela prefeitura com a promessa de sairmos logo para nossas casas. Mas, desde então, não se tem notícias das obras. Seguimos tentando uma mudança desse galpão, que não tem condições nenhuma de receber as famílias que estão morando aqui", reclama Bianca Soares, moradora da Ocupação Emmanuel Bezerra, que já tinha sofrido com a mesma situação em março de 2022.

Também há diversos casos de árvores desabando e bloqueando ruas e avenidas. Uma casa chegou a desabar, e também houveram ruas que abriram crateras. Veja os vídeos da situação caótica em que se encontra a população de Natal::

O prefeito mantém inacabada uma obra de macrodrenagem prevista para estar pronta na Copa de 2014 (na prefeitura de Carlos Eduardo Alves (PDT), cujo vice era Álvaro Dias) e mantém desgastada a rede de drenagem antiga, mesmo com a problemática das enchentes sendo recorrente em Natal há anos.

Ao mesmo tempo que milhares de trabalhadores sofrem com essa situação caótica, perdendo suas casas, móveis e correndo risco de vida, o prefeito investe mais de 76 milhões na “modernização” da orla de Ponta Negra, uma política higienista, de gentrificação e privatização da orla urbana, buscando expulsar pescadores que vivem da pesca a várias gerações e comunidades tradicionais, além de destruir a biodiversidade, tudo a serviço dos lucros dos empresários das redes de hotel, da construção civil e do mercado imobiliário.

A governadora Fátima Bezerra (PT) também é responsável por essa situação de descaso que deixa famílias em condições de moradia vulneráveis e pela situação precária da infraestrutura urbana das cidades potiguares. Fátima controla a CAERN, empresa responsável pelo saneamento de água e esgoto pelas lagoas de captação que transbordam, inundam as casas, e além do fato de que a força das águas acaba abrindo crateras. A governadora, com o seu vice Walter Alves (MDB), se alia com a oligarquia dos Alves,que junto com outras oligarquias do agronegócio no RN, são estruturalmente responsáveis por essa situação crônica do RN.

Em 2022 houveram alagamentos e abertura de crateras na cidade de Natal, como se viu no bairro de Felipe Camarão, fruto do desastre da construção civil que está a serviço dos capitalistas.

Outro responsável por essa situação foi o trágico governo de extrema-direita e negacionista de Bolsonaro, que realizou cortes nas verbas para prevenção dos desastres ambientais, tendo uma nefasta consequência, já que seu governo bateu recordes de desmatamento, além de vermos diversas enchentes, alagamentos e desabamentos, como a situação trágica em Petrópolis (RJ), mas também na Bahia, Pernambuco, Minas Gerais e outras regiões. No entanto, o próprio governo Lula-Alckmin manteve os ataques do governo Bolsonaro e Temer, e o próprio Arcabouço Fiscal de Haddad torna insuficientes os recursos para saneamento e demais obras de infraestrutura necessárias para a prevenção.

Essas catástrofes também são fruto da brutal e desenfreada destruição do meio ambiente no Brasil e no mundo todo pela sede de lucro dos capitalistas, que se escancara cada vez mais com as recentes ondas de calor por todo o Brasil e a brusca mudança do clima. A própria frequência do fenômeno do El Niño (que ocorre geralmente em função de elevação da temperatura das águas do Pacífico) é cada vez maior fruto da crise climática. Portanto não tem nada de natural nessas chuvas, ainda mais em uma época de seca no RN. É irrefutável que o desmatamento, o desperdício e a poluição levada adiante por capitalistas do mundo todo, diferentemente de toda hipócrita ideologia burguesa de que é a "falta de consciência" da população a principal culpada por essa situação, já que inúmeros dados mostram que as grandes empresas poluem centenas e milhares de vezes mais do que os trabalhadores individuais.

A própria falta de conscientização é fruto do próprio sistema capitalista, que não tem interesse em conscientizar a população e as novas gerações, já que isso iria contra o consumismo desenfreado estimulado pelo capitalismo e tão necessário para seus lucros, bem como poderia levar a uma maior politização e discussão da questão ambiental, levando a população, os trabalhadores, bem como a juventude (que é um dos setores mais linha de frente na discussão ambiental) comecem a questionar o próprio sistema capitalista.

Acreditamos necessária a luta por uma reforma urbana radical, começando pela desapropriação imediata de todos edifícios abandonados, seguindo por sua reforma para destinar às famílias mais necessitadas. Também com um plano de obras públicas voltado não aos lucros da especulação imobiliária e sim às necessidades dos trabalhadores e dos pobres. Um plano controlado por trabalhadores que gerem emprego para construção de moradias populares com condições dignas próximas às regiões urbanas e das regiões onde se empregam os trabalhadores e obras que regularizem o abastecimento de água e o saneamento básico.

É necessário articularmos a unidade entre entidades estudantis, sindicatos e movimentos sociais exigindo um plano de emergência controlado pelos trabalhadores e moradores das áreas atingidas. Os governos e empresários precisam arcar com a responsabilidade diante dos acontecimentos. A única forma de garantir esse plano é com a nossa mobilização. Em todo mundo, jovens e trabalhadores têm se mobilizado contra as consequências das mudanças climáticas e ambientais como nas greves globais pelo clima. Desde as nossas entidades estudantis poderíamos formar comitês de estudantes para levar as mais diversas formas de apoio a população e para se aliar aos trabalhadores que levariam adiante esse plano de emergência, numa verdadeira resposta operária e popular diante da crise. É necessário também um plano de emergência com brigadas populares,para realizar uma operação de acolhimento às famílias, entre outras medidas.

Uma luta unitária nesse sentido, angariando solidariedade por meio de campanhas de arrecadação e o ódio contra essa situação, e impondo indenização real à todas as famílias afetadas pelas chuvas, podem ter um imenso potencial de se canalizar de forma organizada para uma mobilização com um plano efetivo, respondendo às demandas mais imediatas com a garantia de abrigo para os moradores desabrigados ou em áreas de risco, pensando as alternativas para de fato impedir que aconteça novos desastres.

Poderíamos organizar pesquisadores e especialistas da UFRN e de outras universidades para que em aliança com os trabalhadores e a população possamos dar uma resposta a essa situação, decidindo a melhor forma de organizar as obras para evitar novas tragédias e ao mesmo tempo prevenir as consequências das chuvas, bem como organizar um plano de reconstrução das casas, junto com a drenagem das lagoas que toda vez em que há chuvas geram alagamentos.

Imaginemos como seria mil vezes melhor que, se ao invés da gestão do RN e de Natal pelos políticos à serviço da burguesia, fossem os próprios trabalhadores da construção civil, os terceirizados, trabalhadores da saúde, da educação, dos transportes, da CAERN, da UFRN, garis, do setor de serviços etc. que pudessem decidir o que fazer com obras de drenagem, rios de captação, com a poluição etc.

Imagine como os professores poderiam fazer uma ampla campanha de conscientização nas escolas, como os trabalhadores dos transportes poderiam eles mesmos, em diálogo com trabalhadores de outros setores, como reorganizar os transportes a serviço da população para que não seja prejudicada ao ter que ir para o trabalho ou voltar para casa, ou também como seria diferente se os próprios trabalhadores da enfermagem e demais funcionários da saúde decidissem como deveriam funcionar os hospitais para que não haja mais goteiras, enchentes, desabamentos e demais problemas.

Com certeza se tivermos um espaço de auto-organização desse tipo, podemos pensar uma série de iniciativas criativas e que são totalmente possíveis de serem levadas adiante, pensando até mesmo a possibilidade de rompermos com o sistema capitalista, construindo um Estado e uma economia gerida por e para trabalhadores e setores oprimidos, em perspectiva socialista, pois acreditamos que nossas vidas valem muito mais que o lucros dos capitalistas!




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