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V Congresso da CSP-CONLUTAS | Grazi, professora de SP, e Leandro, petroleiro do RJ, falam sobre a guerra na Ucrânia

Confira as intervenções do movimento Nossa Classe por Grazi Rodrigues, professora da rede municipal de São Paulo, e Leandro Lanfredi, petroleiro do Rio de Janeiro, no debate de conjuntura internacional, nacional, internacional e planos de lutas no V Congresso da CSP-CONLUTAS, sobre o tema da Guerra da Ucrânia. É equivocada a posição dos companheiros do PSTU, setor majoritário da central sindical, assim como da CST e de outras correntes, de exigir do imperialismo que envie armas para a Ucrânia. Somente com independência de classe que será possível batalhar por uma Ucrânia independente e socialista.

sábado 9 de setembro de 2023 | Edição do dia

Neste V Congresso da CSP-CONLUTAS, o movimento Nossa Classe interviu sobre o tema da guerra na Ucrânia defendendo uma posição em repúdio à guerra reacionária, pela retirada das tropas russas da Ucrânia, bem como contra a OTAN e pela retirada de suas tropas do leste europeu, rechaçando o rearmamento imperialista. Grazi Rodrigues, professora da rede municipal de São Paulo, e Leandro Lanfredi, petroleiro do Rio de Janeiro, estiveram no debate de conjuntura internacional, nacional, internacional e planos de lutas.

Nesta guerra, a Ucrânia, uma semicolônia agredida pela invasão reacionária de Putin, tem alinhado atrás de si o conjunto das potências imperialistas, em 1º lugar os EUA. Se trata de uma guerra que, pelo caráter da direção político-militar, não pode ser comparada com guerras de libertação nacional, que antes de mais nada são anti-imperialistas. Diante disso, não é possível ser neutro a nenhum dos dois bandos reacionários do conflito, muito menos apoiar um dos lado. É preciso combater ambos os atores centrais e levantar a necessidade de uma posição de independência de classe.

É equivocada a posição dos companheiros do PSTU, setor majoritário da central sindical, assim como da CST e de outras correntes, de exigir do imperialismo que envie armas para a Ucrânia. Somente com independência de classe que será possível batalhar por uma Ucrânia independente e socialista.

Politicamente, vemos que o grosso da centro-esquerda mundial está se curvando à propaganda da grande imprensa, que tenta usar o justo repúdio à invasão reacionária de Putin para apresentar a OTAN como uma defensora da paz e da democracia. Uma OTAN,que foi criada em 1949 contra a URSS para ser um pilar do domínio norte-americano, agora busca consolidar sua expansão para o Leste, tentando transformar a Ucrânia numa base militar. Essa operação anda de mãos dadas com o rearmamento das potências imperialistas, como a Alemanha, que incrementou em 100 bilhões de euros seu orçamento de guerra, mas também dos EUA e de países da OTAN como Letônia, Estônia, Lituânia, e Polônia. Um rearmamento que abre caminho para guerras de maior envergadura.

Por outro lado, em uma escala menor, a propaganda promovida por partidos da tradição stalinista, setores do PT, o chavismo e outras correntes populistas em todo o mundo procuram apresentar Putin – e um bloco com a ditadura da China – como uma espécie de alternativa ao imperialismo, em que a invasão da Ucrânia seria uma medida necessária de “defesa nacional”. A verdade é que Putin encabeça um regime burguês bonapartista que se relaciona com os países menores e mais frágeis da região retomando a tradição de opressão nacional do czarismo russo.

Na CSP-CONLUTAS, partimos de um ponto comum de rechaço à política stalinista de saudar o reacionário Putin e sua invasão. Mas essa não é a única posição equivocada. O PSTU, que é parte da LIT, e a CST, parte da UIT, possuem uma posição comum, que se expressou em declaração conjunta, em que o papel da OTAN no conflito, embora seja denunciado, é secundarizado, como se não fosse um ator central que teria grandes implicações na definição de uma política independente. A conclusão disso é reduzir o conflito a dois atores: a Rússia e o “povo ucraniano”. Uma posição assim se dilui na política da OTAN e nas medida bonapartistas de Zelensky, que colocou o país sob lei marcial, proibindo partidos que não lhe agradam, uma medida repressiva que, independente do espectro ideológico atingido, sempre se volta contra os trabalhadores. PSTU e CST defendem as sanções que geram demissões e apoiam o envio de armas, uma posição que compartilham com o Secretariado Unificado mandelista (do qual o MES é seção simpatizante), que tem uma posição pacifista de retorno ao status quo anterior à guerra. Em síntese, PSTU e CST compartilham as mesmas posições gerais e a consigna central de sua declaração é “Fora as tropas de Putin e da Rússia na Ucrânia! Apoio à resistência popular do povo ucraniano!”.

Nessa declaração comum, PSTU e CST defendem a “derrota militar da Rússia no conflito”, ao que o PSTU acrescenta que isso “fortaleceria e inspiraria o movimento de massas”. Se a vitória da Rússia seria uma coisa desastrosa para a classe trabalhadora internacional, o triunfo do imperialismo norte-americano não teria um efeito melhor sobre a luta de classes: não só fortaleceria a presença da OTAN no Leste, tornando a Ucrânia um vassalo ocidental, como daria prestígio à burguesia ucraniana, por cima da independência dos trabalhadores. A política guia as armas: uma derrota da Rússia só poderia ter um caráter progressista nessa guerra se viesse pelas mãos da classe trabalhadora, com uma política independente de Zelensky e Biden.

No afã de se posicionar (corretamente) contra a invasão russa, essa política comum do PSTU e da CST acaba por fazer o jogo do campo imperialista da OTAN. O fato de não ter tropas na Ucrânia não significa que o imperialismo não esteja intervindo ativamente no cenário ucraniano, nem que a autodeterminação ucraniana possa ser conquistada fora da luta aberta contra o imperialismo norte-americano e europeu. Para enfrentar a invasão, uma política independente do governo pró-imperialista de Zelensky e das forças nacionalistas reacionárias não é algo posterior. Não vale de nada fazer uma denúncia acessória à OTAN, e no programa agir como se ela não fosse um ator direto na direção militar ucraniana. É necessário incluí-la como um fator ativo do conflito e da definição do programa. Na ausência disso, o PSTU e a CST se reduzem a repetir com palavras próprias a propaganda da grande imprensa ocidental (armas, sanções), que ecoa o programa imperialista.

Ao contrário do que dizem PSTU e CST, não existe hoje no cenário ucraniano uma “resistência de caráter operário-popular”, que exigiria enfrentar simultaneamente o governo de Zelensky que implementou um regime de exceção de lei marcial no país.d Se a guerra é a continuação da política por outros meios, apoiar os esforços militares de um dos bandos reacionários é ser cúmplice de sua política.

Os problemas democrático-nacionais não podem ser resolvidos por opções burguesas, menos ainda aquelas financiadas e armadas pelo imperialismo. Desde suas primeiras formulações da teoria da revolução permanente, Trotsky argumentou que mesmo em um país onde o proletariado constituía uma minoria, como a Rússia, sua hegemonia era uma condição para “a resolução integral e efetiva” dos objetivos democráticos, necessariamente ligados a transformações estruturais, que entrelaçavam numa dinâmica permanentista a revolução democrática e a socialista. As últimas décadas ampliaram o significado dessa tese, e a Ucrânia hoje torna a necessidade de uma política anti-imperialista independente mais atual para resolver os problemas nacionais, incluído o da autodeterminação.

Neste V congresso da CSP, defendemos que batalhar pelo surgimento de uma política de independência de classe, que não permita que o enfrentamento a Putin seja instrumentalizado pela OTAN, é a chave para reerguer o movimento operário no mundo. Não importa quantas armas estejam circulando, é só a unidade do povo trabalhador a nível internacional o que pode ser capaz de derrotar a invasão de Putin, defender a autodeterminação, sem trocar uma mordaça por outra, superando essa submissão pendular promovida pela burguesia ucraniana entre a Rússia e a OTAN. Na defesa da retirada das tropas russas, contra as tropas da OTAN no Leste e seu rearmamento, a luta pela autodeterminação do povo ucraniano está intimamente ligada à perspectiva de um governo de classe trabalhadora, de uma Ucrânia operária, socialista e independente.




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