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Denúncia | “Junho de 2013 ainda não acabou!” Sergio Silva, fotojornalista que perdeu um olho pela violência policial segue na luta por justiça

Em um dos dias em que a repressão da polícia de Geraldo Alckmin foi mais violenta, o fotojornalista Sergio Silva foi uma das pessoas que saíram gravemente feridas. Até hoje o estado não reconhece sua responsabilidade nos danos físicos, morais e psicológicos causados a manifestantes e trabalhadores da imprensa. Veja aqui o relato e a denúncia de Sergio.

quarta-feira 5 de abril de 2023 | Edição do dia

Junho de 2013 marcou a história recente de nosso país. Foi nesse mês que as contradições sociais que vinham se agravando explodiram por conta dos efeitos da crise econômica e dos ataques aos direitos dos trabalhadores que os governos estavam passando. A precarização e o custo do transporte público canalizaram todo o sentimento de revolta acumulado. A juventude se levantou inicialmente contra o aumento das passagens, mas as palavras de ordem foram mostrando que as demandas se dirigiam à precarização da saúde, da educação, contra os privilégios dos políticos, contra o racismo, a homofobia, o machismo e a manipulação das emissoras de TV. E claro, junho foi contra a absurda repressão policial. De ato após ato a juventude de junho mostrava sua decisão de que não sairia das ruas sem suas demandas atendidas. Os atos cresceram com o apoio da população. E a repressão policial também.

Neste artigo publicamos a denúncia de Sergio Silva, fotojornalista que perdeu um olho no dia 13 de junho de 2013, um dos dias em que a repressão policial da PM comandada por Geraldo Alckmin foi mais violenta.

“2023 é o ano em que se completará 10 anos das jornadas de junho de 2013. Portanto, 10 anos do dia 13 de junho, o quarto dia dos atos contra o aumento da tarifa dos transportes públicos de São Paulo, o dia que ficou conhecido por ter sido o mais violento por parte da Polícia Militar.
Nesse dia, o fotojornalista Sérgio Silva saiu de casa para cobrir a manifestação e fazer fotos para a agência Futura Press. Horas depois estava no segundo hospital depois de uma longa jornada noturna - que incluiu atravessar a manifestação apoiado por um professor que o salvou, depois um primeiro hospital e três doses de morfina para suportar a dor de ter o olho esquerdo dilacerado por uma bala de borracha disparada pela Polícia Militar de São Paulo.

A norma para utilização de armas menos letais, como a bala de borracha, é explícita: deve-se estar há pelo menos 20 metros (e apenas disparar se há um agressor ativo), fazer o registro de cada disparo, mirar em membros inferiores e socorrer o ferido. (Apostila de Policiamento de Choque - Controle de Distúrbios Civis) . Sérgio é uma das provas de que nada disso foi cumprido na noite em que foram disparadas 506 balas de borracha.

Desde então, além de ter de recriar e refazer toda a vida profissional e pessoal, Sérgio luta por justiça, para ser ressarcido dos gastos e indenizado pela perda irreparável de seu olho. O Fotógrafo, até o momento, teve seu pedido negado em duas instâncias. Segundo o juiz Olavo Zampol Júnior e, depois, o desembargador Rebouças Carvalho, o argumento foi de que não havia como comprovar que o ferimento foi causado por um disparo dos policiais e que o fotógrafo seria o responsável exclusivo por se colocar na "linha entre manifestantes e polícia" assumindo o risco de se ferir. O argumento de que não há prova alguma se contradiz quando em nenhum momento se chamou a testemunha direta de Sérgio, o professor Severino Honorato que o resgatou, e o levou até o hospital.

A decisão é absurda. Além de colocar um trabalhador como culpado por exercer seu ofício, também desresponsabiliza e legitima a violência completamente desmedida da Polícia Militar.
10 anos depois de 2013, 05 anos depois da última decisão, estamos chegando na terceira instância, porém o caminho segue sendo tortuoso.

Nesta quarta-feira, dia 29 de março, às 10h da manhã, o fotógrafo Sérgio Silva retornou ao Palácio da Justiça para ter o seu caso julgado, novamente, após apelação ao STF. Porém, já dentro da sessão foi surpreendido com o adiamento da mesma.

A explicação é que "Novos juízes haviam entrado na Câmara. A composição dos três que iriam julgar ficou diferente e, por conta disso, Sérgio Silva e também o representante do Estado pretendiam sustentar oralmente para expor as razões de cada um. No entanto, o relator preferiu retirar de pauta, porque a composição anterior poderia ser refeita, porque os mesmos integrantes continuam na mesma Câmara. Então, vão analisar se é o caso de manter como foi apresentada hoje ou se vão retomar a composição primeira e, com isso, impedir a sustentação oral e julgar o processo no estado em que se encontra" (fala de Maurício Vasquez, advogado de Sergio, para Agência Brasil).

Sabemos que essa decisão poderia ter sido informada antes, evitando assim maiores violências psicológicas, visto todo o preparo que há para se estar em uma sessão desse porte, depois de 10 anos de espera.

Mas, seguimos na resistência colocando a nossa voz, retomando o novelo da história, pois em um ano em que muito ainda se falará daquele mês e daquela noite, é de suma importância que não se deixe passar no silêncio e no esquecimento esse caso e que se faça valer o julgamento e a justiça.”

Nós do esquerda diário, que também atuamos em junho de 2013, nos solidarizamos ao fotojornalista Sergio Silva, o estado é responsável por todos os danos causados. Somamos nossa voz a de Sérgio quando diz que Junho de 2013 não acabou.

Veja também as posições do Esquerda Diário sobre Junho de 2013:
Debate com a esquerda - Quem tem medo das jornadas de junho de 2013?
O fantasma das jornadas de junho de 2013 ainda atormenta o PT




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