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Entrevista | Os desafios da luta contra as privatizações em SP: entrevista com diretores dos sindicatos do metrô, USP e professores

Entrevista realizada com diretores dos sindicatos do metrô, USP e professores que fazem parte do Movimento Nossa Classe e do MRT e falam sobre como travar as batalhas contra as privatizações e toda a agenda neoliberal levada adiante pelo governo Tarcísio de Freitas, mas também na prefeitura com Nunes e contando com investimento do governo federal Lula-Alckmin. Confira o que opinam sobre os desafios para organizar essa luta desde a base, confiando na força da nossa classe:

quarta-feira 28 de fevereiro | Edição do dia

O ano de 2024 começou com ataques importantes dos herdeiros do bolsonarismo no estado e na cidade de São Paulo: o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Entretanto, inúmeros momentos de mobilização, protagonizados pela nossa classe no ano passado, também reafirmam que há disposição e indignação frente aos projetos dessa extrema direita. Confira abaixo a entrevista com Marcello Pablito, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp); Maíra Machado, coordenadora da Apeoesp Santo André; Fernanda Peluci, diretora do Sindicato dos Metroviários, e Grazi Rodrigues, profª municipal em São Paulo e membro da diretoria executiva estadual da CSP Conlutas, trabalhadoras e trabalhadores que fazem parte do Movimento Nossa Classe e do MRT (Movimento Revolucionário de Trabalhadores), sendo também representantes de suas categorias.

Esquerda Diário: Pensando nesse ano em São Paulo, quais desafios vocês veem na luta contra os ataques de Tarcísio e Nunes?

Maíra Machado (Coordenadora da Apeoesp Santo André): Vimos Tarcísio, governador de extrema direita se apoiar na vitória tática que teve no final do ano passado com a privatização da SABESP, iniciar 2024 com o aumento da tarifa dos trens e metrôs, afetando diretamente a vida dos trabalhadores que usam os transportes públicos, e reprimindo brutalmente os jovens, muitos que poderiam ser nossos alunos, que saíram às ruas para repudiar esse aumento no começo de janeiro. Mas não só, vimos também a demissão em massa de milhares de professores da rede pública estadual através da rescisão contratual em todo o estado, deixando sem salário dezenas de milhares de mulheres e mães que são a maioria na educação, isso após uma absurda declaração onde esse inimigo das mulheres afirmou que reconhece a falta de estrutura na educação, mas que nós, educadores, temos “muito amor”, como se nosso amor pelo nosso trabalho compensasse a profunda humilhação que esse governo só veio aprofundando em nossas vidas e de nossos estudantes. Por isso aqui em Santo André começamos o ano organizando atos contra esse absurdo, porque o sindicato precisa ser este instrumento de luta para os professores.

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Fernanda Peluci (Sindicato dos Metroviários): Desde o natal e virada do ano, Tarcísio e o Metrô estão de mãos dadas para despejar todo tipo de ataque aos metroviários, querendo avançar a qualquer custo no projeto privatista e perseguir nós lutadores que bravamente fizemos greves e não abaixamos a cabeça ano passado. Querem agora, no final do mês de fevereiro, leiloar a linha 7 da CPTM, a linha Rubi, além de terem implementado o avanço da terceirização com a empresa Works que mal paga seus funcionários, com condições de trabalho absurdas e nefastas. Nós do Sindicato dos Metroviários nos solidarizamos aos terceirizados do metrô e publicamos uma carta direcionada a eles propondo a unidade entre efetivos e terceirizados, denunciando a empresa Works, o metrô e o governo de Tarcísio que querem dividir os trabalhadores, colocando efetivos contra terceirizados e avançar em seus projetos neoliberais asquerosos.

Marcello Pablito (Sintusp): Recentemente também, no carnaval, vimos a escola de samba Vai-Vai denunciar a violência policial, resgatar elementos da história do hip-hop, reproduzir a estátua do escravista Borba Gato pichada. Esse desfile de resistência incomodou quem? A polícia assassina responsável pelas mortes do povo negro, e figuras como o Tarcísio, que nesse exato momento é responsável pela absurda chacina policial que está acontecendo na Baixada Santista e que no início desse ano anunciou investimento de R$156 milhões em repressão. Enquanto isso, a nível federal, vimos nas últimas semanas o governo de frente ampla Lula-Alckmin, além de ser elogioso a Tarcísio, se calar sobre as chacinas, e aventar a privatização dos presídios pelo país. É essa conciliação de classes, que fortalecem a extrema direita, para que protagonizem cenas como a que vimos na Avenida Paulista neste último domingo, 25, quando Tarcísio foi decisivo no ato de apoio a Bolsonaro, acenando pra mesma base golpista, racista e sionista que estampou no peito com orgulho a bandeira de Israel que nesse exato momento comete um genocídio de mais de 30.000 palestinos, sendo a maioria de mulheres e crianças.

Grazi Rodrigues: Neste ato que Pablito comentou também estava Nunes, atual prefeito da capital paulistana, que no começo deste ano deixou a população pobre periférica abandonada com os inúmeros pontos de alagamento que destruíram casas de muitas famílias. É pré-candidato de Bolsonaro à reeleição para a prefeitura em outubro e se é um desafio importante para 2024 enfrentar Nunes e o projeto que ele representa, inclusive de mãos dadas com Tarcísio e toda a ala capitalista de extrema direita, sabemos que não será confiando em saídas de frentes amplas que conseguiremos uma derrota de fato dessa política e seus setores. A chapa Boulos-Marta divulgada no começo desse mês, já indica a intenção de construir uma frente ampla que cabe do PSOL à Marta Suplicy, que regressou ao PT, mas até ontem estava na prefeitura de Nunes, além de ter estado à frente da reforma trabalhista de Temer e apoiado o golpe institucional de 2016 que abriu espaço para essa extrema direita nojenta.

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ED: Quais experiências recentes vocês veem que podemos nos apoiar para organizar essa luta contra os projetos privatistas?

Fernanda Peluci: Faço parte de uma categoria que ano passado fez três greves, e o metrô, como todo mundo sabe, quando faz greve, para a cidade toda, somos uma categoria estratégica que mexe nos milhões de lucros dos patrões, então nossas greves incomodam muito. E por isso que sempre fizemos questão de conquistar o apoio da população. Ano passado, nessas três greves, em que duas foram unificadas com CPTM, Sabesp e demais categorias que também sofrem com a sede privatista de Tarcísio, conseguimos bastante apoio popular e isso foi fundamental para demonstração de força. A empresa do metrô e Tarcísio vieram pra cima, demitindo metroviários e punindo os lutadores. Mas semana passada conseguimos reverter o impacto de algumas punições, fizemos o metrô recuar em um ataque à jornada de trabalho e seguimos na campanha pela readmissão já dos demitidos! A única língua que os patrões, a burguesia e seus governadores entendem é a da luta, por isso que nós do Movimento Nossa Classe na diretoria do Sindicato, junto a dezenas de metroviários, estamos impulsionando um abaixo assinado para que as Centrais Sindicais, como a CUT e a CTB, saiam da paralisia e organizem verdadeiramente a luta contra as privatizações, nas bases e de forma unificada, com uma nova data de paralisação geral. Ao mesmo tempo, no próximo dia 7 faremos parte de um importante ato de juristas pelo direito de greve e contra a repressão.

Marcello Pablito: A USP no ano passado também viveu uma greve estudantil como não se via há mais de 7 anos com várias pautas, e centro em contratação de professor e funcionário, e permanência, que é de onde o reitor, de mãos dadas com o governo estadual, sempre tira dinheiro, priorizando o investimento da iniciativa privada dentro da Universidade, e afetando os estudantes pobres, em sua maioria os poucos negros que conseguem furar o filtro racial e social do vestibular. Essa greve estudantil poderia ter ido por mais, inclusive no questionamento a esse projeto privatista selvagem que avança sobre a educação, assim como o arcabouço fiscal do governo Lula-Alckmin, sendo que este último é um antigo inimigo da educação. Essa greve, além de conquistar algumas demandas, deixou claro como existe muita disposição nessa nova geração de jovens. Outra experiência recente que não podemos deixar de falar mesmo tendo acontecido meio longe daqui, é a luta dos nossos irmãos argentinos. Nos inspira e nos ensina muito como os trabalhadores, juventude e setores oprimidos na Argentina combateram o pacote de ataques e a Lei Ómnibus do presidente de extrema direita, Javier Milei, fazendo com que recuasse nesse ataque brutalíssimo e mostrando o único caminho que de fato derrota a extrema direita e ataques neoliberais: o da luta.

ED: E agora quais os próximos passos?

Maíra Machado: Daqui alguns dias teremos o 8 de março, Dia Internacional das Mulheres. A questão das opressões reafirma sempre como os setores oprimidos, ou seja, os que mais sofrem com as contradições dessa sociedade capitalista, estão sempre à frente, lutando pela transformação da realidade. Nesse 8M é fundamental sairmos às ruas organizades contra a violência de gênero que vem crescendo, em defesa do aborto legal, seguro e gratuito, que diga-se de passagem, o prefeito Nunes começou 2024 atacando brutalmente, e denunciando a precarização do trabalho e a conciliação de classes, que só fez aumentar a bancada de deputados da Biblía, que atenta contra crianças violentadas, a educação pública com o Novo Ensino Médio e a educação sexual e aos direitos dos LGBTQIA+. Para levantar nossas bandeiras precisamos nos organizar com independência dos governos e dos patrões que, cotidianamente, mostram como são inimigos dos direitos das mulheres, perpetuando, naturalizando e aprofundando a opressão e exploração, aqui e no mundo. Por isso, nesse 8M, também vamos sair às ruas em luta, expressando nossa solidariedade às mulheres palestinas e exigindo que o governo brasileiro rompa todas as relações com o governo genocida de Israel. Convidamos todas e todes a marcharem neste 8 de março com o Pão e Rosas, agrupação internacional de mulheres que em vários países estará construindo blocos independentes que apostam na nossa força organizada para enfrentar o patriarcado, machismo e capitalismo.

Grazi Rodrigues: Queremos também este ano retomar com toda a força o Manifesto contra a Terceirização e Precarização que coloca a necessidade de levar a frente o programa da efetivação dos terceirizados e precários, sem a necessidade de concurso público e com todos os direitos garantidos, e que é impulsionado por intelectuais, juristas, sindicalistas e personalidades que já conta com mais de 5 mil assinaturas articulado por Jorge Luiz Souto Maior, Ricardo Antunes, Diana Assunção, entre outros. Vamos organizar lançamentos, atos, panfletagens, coletas de assinaturas, debates, em um forte movimento político. Ao mesmo tempo, somente apostando na disposição que viemos vendo nessas experiências recentes e exigindo das direções dos movimentos que organizem nas suas bases a mobilização, conseguiremos organizar a luta que enfrentará as privatizações. Também como parte de fortalecer essa luta, nós do Movimento Revolucionário de Trabalhadores, que impulsionamos o Movimento Nossa Classe, o Pão e Rosas e a Faísca Revolucionária, estamos levantando a necessidade de uma alternativa política de independência de qualquer setor da burguesia, com um programa da nossa classe, para as eleições municipais deste ano. Uma candidatura a serviço de impulsionar e fortalecer as lutas que a classe trabalhadora vem protagonizando em São Paulo, as lutas das mulheres, negras e negros, pessoas LGBTQIA+, da juventude, que são a força que realmente pode enfrentar e derrotar os ataques. Fazemos esse chamado à esquerda que se reivindica socialista e revolucionária a buscarmos apresentar essa alternativa unificada nessas eleições. Assim como convidamos todes a conhecerem mais o MRT e nossas agrupações, para ser parte das batalhas que damos em cada local de estudo e trabalho contra todos os ataques, as privatizações, os patrões e seus representantes políticos!

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