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Greve nas federais | Calouros das Ciências Sociais (UFMG) escrevem carta aos professores em apoio à greve

Estudantes da turma de ingressantes de 2024 no curso de Ciências Sociais da UFMG escreveram forte carta a seus professores apoiando a luta das federais e chamando todes a aderirem à greve no curso. Para isso, eles estão organizando uma assembleia autoconvocada do curso para deliberar greve estudantil. Confira a carta abaixo.

quarta-feira 17 de abril | Edição do dia

Estudantes da turma de ingressantes de 2024 do curso de Ciências Sociais da UFMG redigiram nesta segunda-feira dia 15/4 uma carta a seus professores demonstrando forte apoio a luta das federais e as greves de professores e técnicos administrativos da UFMG. A carta, que foi redigida a partir de uma iniciativa similar que partiu do curso de Psicologia, foi enviada por email aos professores e entregue presencialmente àqueles que se declararam contra a greve docente. A turma de calouros também propôs debates com os professores contrários ao movimento salientando a adesão e apoio massivo dos estudantes as iniciativas grevistas.

Caros professores e professoras,

Em meio aos desafios enfrentados pela comunidade universitária, é com grande determinação que nós, estudantes do primeiro período de Ciências Sociais, desejamos reiterar a nossa mobilização e apoio à decisão dos docentes e dos Técnicos Administrativos em Educação de aderirem à greve, em defesa de uma educação pública de qualidade. A decisão de apoio foi tomada pelos alunos via votação, a qual, por vias legítimas, nos permitiu a escrita dessa carta em nome da sala.

Nosso apoio se refere a uma mobilização também legítima, decidida por voto da maioria da categoria em um espaço previsto constitucionalmente - a assembleia. Entendemos as reivindicações por reajuste salarial e pelo plano de carreira como demandas trabalhistas, as quais deveriam ser garantidas àqueles que mantêm o dia a dia da universidade, principalmente por um governo que se posicionou, inicialmente, de maneira progressista e que foi eleito majoritariamente pela classe trabalhadora.

A paralisia das mesas de negociações, que não avançam nas demandas, o reajuste salarial negativo, a não revogação das medidas administrativas de Bolsonaro e a insuficiência de verbas para a educação de 2024, ressaltam a urgência de um movimento contra o projeto da crise educacional no Brasil. Acima disso, um governo que tenta barrar uma greve, sob a pena de não levar as negociações adiante, demonstra um caráter que beira o antidemocrático e que, sem resposta, resultará no completo sucateamento das instituições federais de ensino superior.

Sabe-se que diante de cortes orçamentários significativos, como os que ocorreram durante o governo Bolsonaro e da recente proposta do teto de gastos do governo Lula, apresentada no Arcabouço Fiscal, as demandas urgentes continuam não sendo atendidas, o que compromete diretamente as condições de trabalho dos professores, dos técnicos administrativos em educação e, consequentemente, a qualidade do ensino oferecido a nós, estudantes.

Esse investimento negativo é sentido na pele de milhares de nós todos os dias, à medida que gastamos no mínimo 10,50 reais para ir e voltar da universidade diariamente (visto que não existe passe livre estudantil), estudamos em salas sem estrutura para comportar os alunos, almoçamos em um dos restaurantes universitários mais caros do país e lutamos para permanecer na UFMG. As bolsas fornecidas pela FUMP são insuficientes para o custeio de uma vida estudantil digna, e tampouco o acesso às bolsas de permanência estudantil vêm se mostrando democrático e eficiente. Toda essa conjuntura se faz cada vez mais presente em nosso dia a dia, evidenciada pelo grande número de alunos de graduação e pós-graduação com diagnósticos de transtornos mentais, como depressão, ansiedade e síndrome do pânico.

A greve, portanto, não é apenas por recomposição salarial e demais direitos trabalhistas. É, em nível mais profundo, contra a investida neoliberal que ameaça a educação pública ao considerar o investimento nas instituições de ensino como um gasto a ser contido, e não como um direito fundamental da juventude brasileira. Tal projeto de desvalorização não ataca apenas o ensino superior, mas também o ensino básico, através da reforma do ensino médio que aumenta o abismo entre as escolas públicas e particulares, deixando os estudantes pobres ainda mais distantes da universidade.

Neste momento, a greve já foi aderida por mais de 360 unidades de institutos federais, distribuídos por 23 estados. Vale lembrar que ela não é apenas uma forma de protesto, mas sim um chamado à ação e à mobilização em defesa dos direitos conquistados e pelo avanço da classe por novas demandas. Nós, enquanto estudantes, reconhecemos o papel essencial que desempenhamos na construção desse movimento, juntamente com os professores e técnicos, ampliando o espaço de debate e fortalecendo as reivindicações em conjunto.

Nesse sentido, a adesão completa dos professores se torna essencial à medida que permite a unificação das pautas presentes no cotidiano de todas as categorias. O movimento social em prol da educação é, em sua definição, um movimento coletivo e, sem uma frente unida, a greve perde toda sua credibilidade e seu poder de pressionar o Estado.

Demais categorias do funcionalismo público conseguiram avançar em suas demandas com a greve como método de reivindicação, e é apenas por meio da luta que teremos a oportunidade de construir a educação que queremos, merecemos e idealizamos, em uma Instituição de ensino que, mesmo precarizada, se qualifica como a melhor universidade federal do País. Entretanto, se não nos mobilizarmos, essa precarização acabará por destruir a faculdade, que deveria ser um patrimônio de todos. Essa não é a hora de lavar as mãos.

Portanto, reforçamos nosso apoio à adesão unificada à greve, salientando que o movimento estudantil de não comparecer às aulas é um ato político de resistência contra o projeto de desvalorização das categorias mobilizadas.
Essa luta é nossa, dos professores e dos técnicos.

Atenciosamente,

Estudantes do primeiro período de Ciências Sociais.

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Uma das falas mais marcantes entre os calouros pode ser sintetizada nas palavras do estudante Arthur Henrique de Lima, que, inspirado pelos discursos dos técnicos administrativos membros do Sindifes, declara:

"É necessário compreendermos que, da mesma forma que o Tripé Universitário (que é constitucional e composto pelos eixos de pesquisa, ensino e extensão) é a base para as universidades e definem o seu papel na sociedade, também temos outro Tripé que compõe a universidade como um todo e que faz ela funcionar, que seria o tripé composto pelos técnicos-administrativos, os professores e os estudantes. Dessa forma, quando duas dessas bases param, é necessário que nós enquanto estudantes paremos também e prestemos apoio a aqueles que assim como nós são indispensáveis para a universidade. E esse apoio tem que ser expressivo de forma qualitativa e quantitativa, tem que ser organizado para que possamos entender as reivindicações um do outro e assim lutarmos em conjunto para conquista-las, demonstrando a união e o poder daqueles que fazem a universidade funcionar e que almejam essa melhoria coletiva."




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