×

GREVE MUNICIPAL SP | Nunes e a câmara aprovam o PL da miséria. A greve continua! Entrevistamos a prof. Grazi Rodrigues

Na última terça, dia 27/03, a Câmara de Vereadores de São Paulo, composta por uma maioria reacionária, aprovou o reajuste de 2,16% para os servidores públicos municipais, mesmo diante de uma forte greve do funcionalismo que rechaçava esse reajuste irrisório inferior à inflação, entre outros ataques, como a política de subsídios e o confisco previdenciário. Na calada da noite, o prefeito bolsonarista Ricardo Nunes (MDB) sancionou esse Projeto de Lei e os servidores amanheceram nesta quarta com tudo já publicado em Diário Oficial. Mas a greve continua! Entrevistamos a professora Grazi Rodrigues, da Diretoria Regional de Ensino Jaçanã-Tremembé, sobre essa importante luta e os próximos passos.

quinta-feira 28 de março | Edição do dia

Esquerda Diário: Professora Grazi, você junto com outras milhares de educadoras e educadores da cidade estão completando já 20 dias de greve, com diversas mobilizações massivas nas últimas semanas, debaixo de sol e de chuva. Pode nos falar um pouco sobre o significado desse ataque do Ricardo Nunes e sua base reacionária na Câmara dos Vereadores?

Grazi Rodrigues: A realidade é que tá todo mundo muito indignado, cheio de raiva com esse golpe. É enorme o nível de ataques que está colocado para nós, servidores, porque é a primeira vez que não se discute possibilidade alguma de alterar a proposta do prefeito e que vemos um nível de intransigência tão grande contra os trabalhadores do município. Nunes vem avançando em ações para a população ver, medidas demagógicas em tom de campanha eleitoral, mas é o mesmo que é parceiro de Tarcísio de Freitas para privatizar a Sabesp. E sabemos o que isso significa para a população, como já vimos no caso da Enel, que ele agora fica aí dizendo que quer caçar o contrato, depois do caos que vimos com a privatização, como o centro de São Paulo ficando no escuro por vários dias. É assim que ele trata de fato a população e aqueles que atendem à população, foi uma escolha dele tratar os trabalhadores do serviço público municipal como Tarcísio trata no estado, como o próprio Bolsonaro tratou enquanto governo: como inimigos declarados. Nos tratam como se fôssemos privilegiados – coisa que sabemos que não somos, privilegiados são eles que dão a si mesmos aumentos de mais 30%, ou até 46% como é o caso do próprio Nunes, enquanto para nós o reajuste não cobre nem a inflação. Foi nesse bojo que se aprovou o Projeto de Lei dele ontem, e não só, ontem mesmo, às 20h, numa edição extraordinária do Diário Oficial saiu publicado na forma de Lei, ou seja, está valendo efetivamente como “reajuste” oficial deste ano.

A gente, do Nossa Classe Educação, vem dizendo o quanto essa é mais uma na lista de demonstrações do quanto Nunes se apoia nessa Câmara, que de “casa do povo” não tem nada, e também no Judiciário pra fazer valer seus ataques e arbitrariedades, como a gente viu agora também com a decisão absurda da Justiça em atacar o direito de greve dos agentes de saúde, essa linha de frente que a prefeitura vem largando à própria sorte para atuar no combate à dengue e desde a pandemia. Não podemos ter confiança nenhuma nessas instituições subordinadas à política dos governos. Enquanto isso, inúmeras outras questões seguem de fora do debate: descongelamento dos quinquênios, fim do confisco, valorização do quadro de apoio, a situação mais do que precária das trabalhadoras terceirizadas das escolas – que diga-se de passagem deveriam ser efetivadas – entre tantos debates sobre a situação de precariedade da educação e das escolas, que sabemos que estão na ordem do dia para nós. Os 2,16% de reajuste e o confisco dos aposentados representam hoje um ataque enorme e absurdo – apoiado no Arcabouço Fiscal, de Lula, Alckmin e Haddad, que impõe o reajuste zero aos servidores federais em 2024.

Veja mais: “O arcabouço fiscal impõe reajuste 0% aos servidores federais e encoraja Nunes a fazer o mesmo aqui em SP”, diz a prof Grazi em greve há 15 dias

ED: Nós sabemos e sempre defendemos em nossa linha editorial que para derrotar esses inúmeros ataques, a luta precisa seguir um caminho de independência política de todos os governos. Qual foi o caminho, a estratégia seguida pelas direções dos sindicatos e como poderia ser para que o resultado tivesse a possibilidade de ser outro?

GR: Então, estamos em meio a uma forte luta, são 20 dias de uma greve que vem mostrando a força da nossa categoria, que é composta por uma maioria de mulheres, mulheres negras que estão na linha de frente da nossa batalha se enfrentando com o projeto de terceirização, privatização e precarização dos serviços públicos da extrema direita de Nunes e Tarcísio. Precisamos refletir que, se nesse momento passou a pauta do reajuste como Nunes queria, em muito isso se deve porque as direções do PCdoB, PT e PSOL, que estão à frente do Sinpeem, Coeduc e Fórum das Entidades, vieram insistindo na divisão da nossa luta, e na estratégia da pressão parlamentar, atuando apenas para virar voto, pressionar vereadores, sempre apostando nessas saídas institucionais e nunca fortalecendo e massificando a disposição de luta das trabalhadoras e trabalhadores do funcionalismo, que paralisaram seus locais de trabalho e ocuparam ruas debaixo de sol escaldante e de chuva forte para negar essa proposta esdrúxula de reajuste. Mas as direções dos sindicatos, infelizmente, atuam para subordinar nossa luta à política eleitoral e da Frente Ampla, que vem governando lado a lado de setores da direita golpista, como é o Alckmin - e a própria Marta Suplicy, ao lado de Boulos aqui em SP. Eu poderia citar também o exemplo gritante de vermos o Republicanos, partido do maior aliado regional de Nunes, o reacionário Tarcísio de Freitas que não esconde sua ofensiva privatista pra desmontar cada vez mais a rede estadual de ensino e outros serviços essenciais como o Metrô, ser convidado por Lula pra entrar pela porta da frente nos ministérios e ser base do governo de Frente Ampla hoje.

É justamente essa conciliação que vai abrindo cada vez mais espaço para a extrema direita, mantendo de pé ataques como as reformas trabalhista e da previdência, o Novo Ensino Médio, e vem avançando na institucionalização do trabalho uberizado, que a gente vê aprisionar nossos jovens, nossos alunos, ao trabalho precário. O próprio Boulos fez apenas um único tuíte de apoio ao longo desses 20 dias de greve, e isso é muito pouco, é quase um silêncio total, que só serve para não desagradar o empresariado e se mostrar viável para a elite paulistana. Se Boulos é o principal adversário político de Nunes nesse momento, por que não se joga para apoiar nossa greve em defesa dos serviços públicos e de quem serve a população? Acredito que o que ele deveria fazer é colocar todos os seus recursos políticos e alcance a serviço de fortalecer nossa greve, de ampliar o alcance da luta das trabalhadoras e trabalhadores. Acontece que o que vemos acontecendo aqui é o que já vemos nacionalmente, porque o caminho da Frente Ampla é o da conciliação de classes, e não do enfrentamento aberto aos ataques e a extrema direita. O que tem acabado por fortalecê-la, de um jeito ou de outro.

Nossa tarefa nas lutas é o de nos fortalecermos e pressionarmos coletivamente, nas ruas, trazendo a população, dialogando com a comunidade. A minha leitura e a do Nossa Classe Educação, esse coletivo nacional que faço parte junto com dezenas de professores, ATEs e educadores combativos, é de que nós, trabalhadores, temos força para ir por esse caminho, vimos várias expressões disso até aqui nessa greve, nos organizamos e nos dispusemos a lutar e pressionar nas ruas, fizemos atos regionais sem contar com apoio dos nossos sindicatos, mas as direções sindicais burocráticas conduziram por outro sentido. Fazem isso pra tentar nos fazer acreditar que a maior mudança está em pressionar os votos de uma Câmara que recentemente votou 46% de reajuste pro gabinete do Nunes e a homenagem a Michelle Bolsonaro no Theatro Municipal. Como se atuação da bancada de oposição na Câmara, dos mesmos partidos que defendem o Arcabouço Fiscal e se subordinam à política do PT no governo federal, pudesse ser mais decisiva contra os ataques do que a força dos mais de 10 mil servidores nas ruas como a gente viu nessa greve - e que sabemos que poderia ser ainda maior!

Eles vêm com o discurso de que será só em outubro que poderemos mudar tudo. A verdade é que Claudio Fonseca só quer saber de se eleger novamente vereador. Sabemos que as eleições são sim importantes, mas não temos que abaixar nossa cabeça agora e acreditar que a única saída é votar em um candidato lá na frente. Nosso papel não se resume ao voto, não pode se resumir a isso, somos sujeitos e somos parte de uma classe trabalhadora que nunca conquistou nada sem luta. É nisso que apostamos na nossa força e mobilização. E sabemos o quanto lutamos, são 20 dias de greve! Imaginem a diferença que faria se nós, educadoras e educadores, junto com a comunidade escolar, pudéssemos ter tido o direito de construir um plano de lutas concreto, e construíssemos um forte comando de greve unificado, impulsionado pelos sindicatos, que colocasse nossa luta nas nossas mãos, nas mãos de quem vive o chão da escola diariamente e se coloca em luta em defesa da educação. Onde cada trabalhadora e trabalhador da base pudesse se expressar, discutir e decidir democraticamente nossas iniciativas e qual a estratégia necessária para derrotar Nunes e todos os nossos inimigos. Um comando que pudesse ter coordenado e unificado as fortes ações que se expressaram nas diversas regiões da cidade, não só na luta dos educadores como de todo funcionalismo.

Veja mais: Os servidores municipais exigem o fim do silêncio de Boulos sobre a greve que já dura 19 dias!

ED: E agora tem uma nova assembleia nesta quinta, dia 27. Quais são as perspectivas, qual é o chamado que você e o Nossa Classe têm para as educadoras e educadores de São Paulo?

GR: Que a greve continua! A greve até aqui mostrou a força da categoria. E essa força pode derrotar Nunes. Seguimos exigindo um salário digno, e também com as outras pautas, pois precisamos mostrar para esse prefeito e toda sua corja reacionária da Câmara que nós não baixamos a cabeça para eles e nem para nenhum inimigo da educação. A política de achatamento e desvalorização da carreira com abono complementar continua, assim como se mantém o absurdo confisco da previdência, e não podemos aceitar esses ataques. Assumimos esse compromisso com a nossa comunidade, de que estamos e seguiremos lutando em defesa dos nossos direitos e em defesa das nossas escolas, por melhores condições de trabalho, por uma educação que seja melhor para os filhos da classe trabalhadora.

Por isso nós do Nossa Classe Educação queremos chamar todo mundo a, mais uma vez, fechar nossas escolas nesta quinta! Para mostrarmos ao prefeito que não estamos de joelho e seguiremos lutando e defendendo nossos direitos, para revogar essa lei ridícula e arrancar nossas reivindicações outras, pelo presente e pelo futuro.

A vida toda do trabalhador é permeada de lutas cotidianas. E seguiremos travando essa juntos, de cabeça em pé, por todos. Então todes à assembleia em frente à prefeitura nesta quinta-feira, dia 28, às 14h!




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias